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Justiça suspende construção de conjunto habitacional em área de preservação em Rio Branco

Justiça suspende construção de conjunto habitacional em área de preservação em Rio Branco

Justiça suspende construção de conjunto habitacional em área de preservação em Rio Branco

[Cidade AC News – Rio Branco (AC)] — A construção do Conjunto Habitacional Nova Esperança, planejado para abrigar 480 famílias na região da BR-364, sentido Porto Velho, foi suspensa nesta quinta-feira (24) por decisão da 2ª Vara da Fazenda Pública de Rio Branco, que atendeu pedido do Ministério Público do Estado (MPAC) alegando irregularidades ambientais e ausência de estudos de impacto socioambiental.

O loteamento, que já tinha iniciado a terraplanagem, ficaria em uma área que abriga três nascentes de água doce, além de ser próxima a uma zona de amortecimento de reserva legal, segundo laudo da própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A liminar determina a interrupção imediata das obras, sob pena de multa diária de R$ 20 mil à empresa responsável, e exige que o município suspenda a licença provisória concedida ao projeto.

“Não se trata de ser contra moradia popular. O problema é construir em cima de uma nascente ativa, ignorando estudos técnicos e acelerando licenças sem a devida cautela ambiental”, afirmou a promotora de Justiça responsável pela ação.

A obra seria realizada pela construtora SolNorte Engenharia, com financiamento do programa estadual de habitação e contrapartida da Prefeitura de Rio Branco. O empreendimento previa moradias de 42m², área de lazer e espaço multiuso, com entrega estimada para dezembro de 2026.

A Prefeitura de Rio Branco se manifestou no início da tarde afirmando que vai recorrer da decisão e que o projeto foi aprovado dentro das normas vigentes. Segundo nota oficial, “o licenciamento prévio ambiental foi emitido com base em parecer técnico” e que novas análises já estavam sendo conduzidas para garantir viabilidade ecológica.

No entanto, o MPAC sustenta que houve “licenciamento relâmpago” — sem consulta à comunidade local, sem audiências públicas e com omissão de informações no estudo de impacto ambiental. Em um dos anexos da denúncia, constam fotografias aéreas que mostram movimentação de solo a menos de 150 metros de um córrego preservado.

Moradores da região de apoio da BR-364 também demonstraram preocupação com a movimentação de máquinas desde a semana passada. Segundo o lavrador Sebastião Nogueira, que vive há 30 anos na área:

“Já viem tirando barro, arrancando árvore, e a água da nossa cacimba começou a baixar. Disseram que era só um aterro, mas já tinha placa do governo e tudo.”

O Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), por sua vez, disse que ainda não recebeu pedido formal de autorização para supressão vegetal e que qualquer construção em área de preservação permanente depende de parecer técnico conjunto com órgãos federais.

Organizações ambientais como o SOS Nascentes Acreanas também se manifestaram contra o projeto, alegando que se trata de mais um exemplo de “urbanização desordenada empurrada para áreas ambientalmente frágeis, com o falso pretexto da urgência habitacional”.

Segundo os autos do processo, a área já é monitorada por satélite desde 2022 por integrar uma microbacia do Riozinho do Rola, e está incluída em uma zona de preservação prioritária, segundo o plano diretor da cidade — o que reforça a fragilidade legal do empreendimento.

O juiz responsável pela decisão destacou que o direito à moradia não pode ser garantido às custas da degradação ambiental irreversível:

“Não se trata de embargar o direito à casa própria, mas de preservar aquilo que nenhuma reconstrução compensa: a água e a vida vegetal da nossa cidade.”

Agora, a construtora terá prazo de 10 dias para apresentar defesa e documentos complementares, caso queira manter o projeto com ajustes. Enquanto isso, o canteiro de obras permanece sob embargo judicial, com placa de “interditado” fixada pela equipe da fiscalização ambiental.


✍️ Eliton Lobato Muniz – Cidade AC News – Rio Branco – Acre

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