Ibovespa sobe com tarifas de Trump e IPCA a 0,56% em março, enquanto dólar cai para R$ 5,84
Os mercados financeiros brasileiros iniciaram a sexta-feira, 11 de abril de 2025, com movimentos expressivos, refletindo os desdobramentos globais e domésticos. O Ibovespa futuro avançou 0,92%, alcançando 127.615 pontos, enquanto o dólar comercial caiu 1,23%, cotado a R$ 5,826. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,56% em março, acumulando 5,48% em 12 meses, segundo dados do IBGE. No cenário internacional, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reduzir tarifas impostas à União Europeia e outros países, após tensões com a China, que elevou taxas sobre produtos norte-americanos a 125%, trouxe alívio aos investidores. Enquanto isso, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,4% em fevereiro, superando expectativas de 0,15%. Esses números pintam um quadro de otimismo cauteloso, com os mercados atentos aos impactos das políticas tarifárias e à inflação persistente no Brasil.
A alta do Ibovespa futuro reflete o bom humor global após Trump recuar em parte de suas tarifas, aliviando temores de uma escalada comercial. A China, que enfrenta previsão de crescimento do PIB de 5,1% no primeiro trimestre, contra 5,4% no último trimestre de 2024, respondeu com medidas retaliatórias, mas o diálogo entre a União Europeia e os EUA, com negociações marcadas para a próxima semana, sugere um esforço para evitar rupturas. No Brasil, o IPCA de março, embora dentro do esperado, reforça preocupações com a inflação de serviços, que segue elevada, enquanto o dólar em queda beneficia importadores e investidores locais.
O desempenho das empresas também movimentou o pregão. A Telefônica Brasil concluiu sua migração para o regime de autorização, um marco para o setor de telecomunicações. Já a Cyrela apresentou números mistos no primeiro trimestre, com lançamentos acima do esperado, mas pré-vendas em desaceleração, segundo analistas do Morgan Stanley. Nos Estados Unidos, bancos como JPMorgan e Morgan Stanley divulgaram lucros robustos, com alta de 26,5% e 3% nas ações, respectivamente, impulsionando os índices futuros em Wall Street. Esses fatores combinados criam um cenário dinâmico, onde o Brasil navega entre oportunidades globais e desafios internos.
As decisões tarifárias de Donald Trump continuam a moldar os mercados globais. Após impor taxas de 25% sobre importações automotivas e outros bens no início de abril, o presidente norte-americano anunciou uma redução parcial para a União Europeia e outros parceiros comerciais, gerando alívio em bolsas ao redor do mundo. A medida, que entrou em vigor em 3 de abril, elevou custos estimados em US$ 108 bilhões para montadoras dos EUA, com impacto de US$ 42 bilhões para Ford, General Motors e Stellantis, segundo o Center for Automotive Research. A flexibilização veio após pressões internas e externas, mas a China retaliou, elevando tarifas sobre produtos dos EUA a 125%, o que ameaça cadeias de suprimento globais.
No setor aéreo, a confusão tarifária já causa atrasos. Um jato A220 da Airbus, fabricado no Canadá e destinado à Delta Air Lines, enfrenta incertezas sobre a aplicação de taxas de 25% em peças importadas, com entrega prevista para junho. A instabilidade afeta desde carros até bens de consumo, com atrasos em portos e armazéns. A União Europeia, em resposta, enviará seu comissário de Comércio, Maros Sefcovic, a Washington na próxima segunda-feira para negociar acordos que evitem uma guerra comercial. A pausa nas tarifas sinaliza uma janela de diálogo, mas os mercados permanecem vigilantes.
O IPCA de março, com alta de 0,56%, confirma a trajetória de inflação persistente no Brasil. Embora dentro das projeções, o índice acumula 5,48% em 12 meses, acima do teto da meta de 4,5%. Economistas destacam a resistência dos núcleos de inflação, especialmente em serviços, com média móvel de três meses a 7,9%. Igor Cadilhac, do PicPay, aponta que a composição da inflação preocupa, apesar de um alívio marginal nos núcleos. Para 2025, a projeção é de 5,6%, com riscos de alta ligados à desvalorização do real e à inflação de serviços, mas também possíveis quedas devido à desaceleração econômica global.
A alta de 0,4% do IBC-Br em fevereiro, acima dos 0,15% esperados, traz uma nota positiva. O índice, considerado uma prévia do PIB, sugere que a economia brasileira mantém fôlego, mesmo diante de desafios globais. No entanto, a desaceleração da economia doméstica e os impactos das tarifas internacionais são fatores de risco. Leonardo Costa, do ASA, observa que a inflação de alimentos arrefeceu no início do ano, o que pode aliviar os serviços de alimentação no segundo trimestre, mas bens industrializados seguem pressionando os preços.
Nos Estados Unidos, o setor bancário trouxe números animadores. O JPMorgan Chase reportou lucro de US$ 4,32 bilhões no primeiro trimestre, alta de 26,5%, impulsionado por negociações de ações e comissões de fusões. As ações subiram 3% no pré-mercado, apesar das reservas de US$ 3,3 bilhões para inadimplência, reflexo das tensões tarifárias. Jamie Dimon, presidente do banco, alertou para a turbulência econômica causada pelas políticas de Trump, destacando a cautela dos clientes em meio à volatilidade geopolítica e comercial.
O Morgan Stanley também superou expectativas, com lucro por ação de US$ 2,60, contra US$ 2,23 previstos. Os resultados reforçam a resiliência do setor financeiro, mesmo em um cenário de incertezas. No Brasil, o desempenho dos bancos ainda não foi detalhado, mas o avanço do Ibovespa futuro sugere confiança no setor, beneficiado pela queda do dólar e pela perspectiva de juros estáveis. A fala de Neel Kashkari, do Federal Reserve, sobre intervenções cautelosas reforça a postura do banco central dos EUA de evitar ações precipitadas, mantendo o foco na inflação.
O mercado brasileiro enfrenta um equilíbrio delicado. A queda do dólar a R$ 5,826 beneficia empresas importadoras e alivia pressões inflacionárias, mas a desvalorização cambial segue como risco, especialmente com as tensões comerciais. Os juros futuros, com baixas na curva, refletem expectativas de desaceleração econômica, mas a inflação de serviços mantém o Banco Central em alerta. A projeção de Cadilhac para o IPCA de 2025, em 5,6%, indica um cenário de pressão contínua, com alívio apenas se a economia global arrefecer.
A Telefônica Brasil, ao migrar para o regime de autorização, sinaliza mudanças estruturais no setor de telecomunicações. A alteração, que substitui o modelo de concessão, permite maior flexibilidade para investimentos, beneficiando a Vivo em um mercado competitivo. No setor imobiliário, a Cyrela enfrenta desafios com pré-vendas abaixo do esperado, apesar de lançamentos robustos. Analistas do Morgan Stanley sugerem que as ações da empresa podem sofrer, com investidores aguardando sinais de recuperação no segundo semestre.
A desaceleração da economia chinesa, com previsão de crescimento do PIB de 5,1% no primeiro trimestre, reflete os desafios impostos pelas tarifas de Trump. A China, que planeja crescimento de 4,5% em 2025, enfrenta pressões adicionais com a retaliação comercial, elevando taxas sobre produtos dos EUA a 125%. O Ministério das Finanças chinês classificou as tarifas americanas como ineficazes, prometendo ignorar novas medidas. Essa postura aumenta a volatilidade global, com reflexos no Brasil, onde commodities como minério de ferro, representadas por empresas como a Vale, sentem os efeitos.
Os ADRs da Vale subiram 1,12% no pré-mercado dos EUA, a US$ 9,00, sinalizando otimismo cauteloso. A China, maior consumidora de minério, influencia diretamente o desempenho da mineradora. A desaceleração econômica do gigante asiático, combinada com a incerteza tarifária, pode limitar ganhos, mas a pausa nas tensões entre EUA e UE abre espaço para recuperação. O Brasil, dependente das exportações, monitora de perto essas dinâmicas, com o real ganhando força frente ao dólar.
Os preços dos combustíveis no Brasil voltaram a ficar acima da paridade internacional, segundo a Abicom. A gasolina registra defasagem de 7% (R$ 0,19), enquanto o diesel S10 está 4% acima (R$ 0,14). A Petrobras, que não reajusta a gasolina há 276 dias e o diesel há 11 dias, enfrenta pressão para alinhar os valores, mas a estatal mantém cautela para evitar impacto direto na inflação. A alta dos combustíveis contribui para a resistência do IPCA, especialmente em bens industrializados, como observado por Leonardo Costa.
A defasagem dos combustíveis reflete a complexidade do mercado brasileiro. Com a Petrobras sob escrutínio, qualquer reajuste pode elevar os custos de transporte e alimentos, pressionando ainda mais os preços ao consumidor. A expectativa para o segundo trimestre é de alívio nos preços de alimentos, mas os combustíveis seguem como variável crítica, com impacto direto na percepção de inflação entre os brasileiros.
As tarifas de Trump sobre o setor automotivo geraram custos significativos. A Ford, General Motors e Stellantis enfrentam aumento médio de US$ 5.000 por carro produzido nos EUA com peças importadas, e até US$ 8.600 para veículos importados diretamente. No Brasil, montadoras como a Stellantis, que opera fábricas em Pernambuco e Minas Gerais, acompanham o cenário com preocupação. A redução das tarifas para o Canadá e México, sob o Acordo EUA-México-Canadá, alivia parte da pressão, mas a instabilidade global mantém o setor em compasso de espera.
A cadeia de suprimentos automotiva, já fragilizada por escassez de peças, enfrenta atrasos adicionais. No Brasil, a produção de veículos, que cresceu 10,2% em 2024, segundo a Anfavea, pode ser impactada caso as tarifas se estendam a insumos importados. A alta do dólar em semanas anteriores elevou custos, mas a queda recente da moeda traz alívio temporário. As montadoras brasileiras apostam em diálogo com o governo para evitar barreiras comerciais que comprometam a competitividade.
Os mercados acompanham indicadores e decisões que moldarão o segundo trimestre:
A volatilidade impulsionada pelas tarifas de Trump mantém os investidores em alerta. O índice EWZ, que acompanha ações brasileiras nos EUA, subiu 1,82% na pré-abertura, refletindo o otimismo com a queda do dólar e a alta do Ibovespa futuro. Nos EUA, a deflação de 0,4% no índice de preços ao produtor (PPI) de março, contra expectativa de alta de 0,2%, sugere alívio inflacionário, mas revisões de dados anteriores indicam cautela. A força do setor bancário, com lucros robustos, compensa incertezas no comércio.
No Brasil, a queda dos juros futuros, com o DI para 2035 a 14,800%, sinaliza confiança em um cenário de inflação controlada no longo prazo. A alta do Bitcoin Futuro, a 482.640,00, reflete apetite por risco, mas o minidólar e o mini-índice mostram movimentos mistos, com investidores avaliando impactos globais. A redução das tarifas de Trump abre espaço para recuperação, mas a retaliação chinesa mantém os mercados em suspense, com o Brasil posicionado como um observador atento.
A economia brasileira enfrenta um cenário de contrastes. A alta do IBC-Br e a queda do dólar sugerem resiliência, mas a inflação persistente, especialmente em serviços, exige atenção. O Copom, que manteve a Selic em 13,75% na última reunião, monitora os núcleos do IPCA, que seguem elevados. A desaceleração esperada para o segundo trimestre pode aliviar a pressão, mas riscos como a desvalorização cambial e os combustíveis acima da paridade preocupam analistas.
Empresas como a Telefônica Brasil, com sua migração para o regime de autorização, mostram adaptação a um mercado em transformação. No setor imobiliário, a Cyrela enfrenta desafios, mas mantém lançamentos robustos, indicando confiança no longo prazo. O desempenho do Ibovespa futuro, com alta consistente, reflete a busca por oportunidades em meio às incertezas globais, com investidores atentos a setores como commodities e tecnologia.
As negociações entre EUA e UE, marcadas para a próxima semana, serão cruciais para definir o rumo dos mercados. A pausa nas tarifas de Trump, combinada com a resposta chinesa, cria um ambiente de incerteza, mas também de oportunidades. No Brasil, a queda do dólar e a alta do Ibovespa futuro sinalizam confiança, mas a inflação de serviços e os combustíveis mantêm o Banco Central em modo vigilante. O desempenho de empresas como JPMorgan e Vale reforça o potencial de recuperação, mas a volatilidade global exige cautela.
A economia brasileira, com crescimento modesto mas estável, busca equilíbrio. O IBC-Br acima do esperado e o IPCA dentro das projeções indicam um cenário controlado, mas a pressão inflacionária exige monitoramento. Setores como telecomunicações e imobiliário mostram dinamismo, enquanto o mercado financeiro se adapta às oscilações globais. O segundo trimestre promete ser decisivo, com os olhos voltados para Washington, Pequim e Brasília.