O principal índice da bolsa brasileira enfrentou um dia de perdas expressivas. Após dois dias consecutivos de recordes históricos, o Ibovespa caiu 1,59%, encerrando a sessão de 21 de maio de 2025 aos 137.881,27 pontos. A queda, que representou uma perda de 2.228,36 pontos, foi impulsionada por um movimento de realização de lucros e por preocupações externas, especialmente vindas dos Estados Unidos. Apesar do recuo, o índice permanece acima da máxima histórica de 137.634,57 pontos, registrada em 8 de maio.
A pressão vinda de Wall Street foi um dos principais catalisadores do desempenho negativo. Os índices americanos, como o S&P 500 e o Nasdaq, também fecharam em baixa, refletindo temores sobre o aumento da dívida pública dos Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, o dólar comercial registrou uma leve queda de 0,46%, cotado a R$ 5,643, após a alta do dia anterior.
O cenário global, combinado com ajustes no mercado local, desenhou um dia de cautela. Investidores monitoraram de perto os desdobramentos das negociações fiscais nos Estados Unidos e os indicadores econômicos que serão divulgados nos próximos dias. Entre os destaques do pregão, ações de empresas como Gol e Raízen chamaram atenção por seus movimentos expressivos.
- Principais fatores da queda: Realização de lucros após recordes e preocupações com a dívida americana.
- Dólar comercial: Queda de 0,46%, cotado a R$ 5,643.
- Ações em destaque: Gol sobe 35,29%, enquanto Vale e Petrobras recuam.
Dívida americana pesa no mercado global
Os mercados financeiros globais sentiram o impacto das preocupações com a dívida pública dos Estados Unidos, que atualmente ultrapassa US$ 36 trilhões. As negociações entre o governo de Donald Trump e o Congresso americano para um pacote de cortes de impostos, sem redução de gastos, geraram temores de um aumento ainda maior no déficit. Esse cenário elevou os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano, que vinham subindo desde o final de abril.

A pressão sobre os Treasuries ganhou força após o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Moody’s, anunciado na sexta-feira, 16 de maio. Embora a venda de títulos tenha sido moderada no curto prazo, analistas apontam que o projeto de lei republicano pode adicionar trilhões de dólares ao déficit na próxima década. Isso deve aumentar a oferta de títulos no mercado, impactando os preços e os rendimentos.
No mercado acionário, a incerteza fiscal nos Estados Unidos contribuiu para a queda dos principais índices. O Dow Jones recuou 1,2%, enquanto o S&P 500 perdeu 1,5%. A Nasdaq, com forte peso de empresas de tecnologia, caiu 1,8%, refletindo a sensibilidade do setor a aumentos nas taxas de juros.
- Dívida dos EUA: Ultrapassa US$ 36 trilhões, com risco de aumento.
- Treasuries: Rendimentos sobem com maior oferta de títulos.
- Índices americanos: Dow Jones (-1,2%), S&P 500 (-1,5%), Nasdaq (-1,8%).
Realização de lucros no Brasil
No mercado brasileiro, a queda do Ibovespa foi amplificada por um movimento de realização de lucros após semanas de fortes ganhos. Desde o início de maio, o índice acumulou uma valorização significativa, superando máximas históricas. A pausa para embolsar os lucros era esperada por analistas, especialmente após o índice atingir níveis próximos a 140 mil pontos.
A maior parte das ações que compõem o Ibovespa registrou perdas. A Vale, uma das empresas de maior peso no índice, caiu 1,28%, mesmo com a alta nos preços do minério de ferro no mercado internacional. A Petrobras, outro pilar do Ibovespa, recuou 1,12%, pressionada pela queda do petróleo no mercado global. O barril do tipo Brent fechou a US$ 73,50, uma baixa de 0,8%.
O setor financeiro também foi impactado, com os grandes bancos registrando perdas na casa de 2%. O Itaú Unibanco (ITUB4) caiu 2,1%, enquanto o Bradesco (BBDC4) perdeu 2,3%. O Banco do Brasil, no entanto, teve uma queda mais moderada, de 0,94%, beneficiado por sua exposição a setores menos voláteis.
Setor de varejo enfrenta pressão
As empresas do setor de varejo também enfrentaram um dia de perdas significativas. A Lojas Renner (LREN3), uma das ações mais negociadas do pregão, caiu 3,77%, refletindo a cautela dos investidores com o desempenho do consumo no Brasil. Outras varejistas, como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), também fecharam em baixa, com quedas de 2,8% e 3,1%, respectivamente.
A pressão sobre o varejo está ligada a fatores como a inflação persistente e as expectativas de manutenção das taxas de juros em patamares elevados. Apesar do ciclo de aperto monetário ter chegado ao fim, conforme apontam analistas, o custo do crédito continua impactando o poder de compra dos consumidores.
- Lojas Renner: Queda de 3,77%, liderando as perdas no varejo.
- Magazine Luiza: Recuo de 2,8%.
- Via: Perda de 3,1%.
- Fatores de pressão: Inflação e custo do crédito afetam o consumo.
Gol dispara com resolução do Chapter 11
Em meio ao cenário de perdas generalizadas, a Gol Linhas Aéreas (GOLL4) foi um dos destaques positivos do pregão. As ações da companhia dispararam 35,29%, impulsionadas pelos avanços na reestruturação de sua dívida nos Estados Unidos. A empresa, que estava sob o regime de Chapter 11, obteve progressos significativos na negociação com credores, o que elevou a confiança dos investidores.
A valorização da Gol também reflete a possibilidade de uma fusão com a Azul (AZUL4), que enfrenta desafios próprios. As ações da Azul caíram 5,56% no mesmo pregão, após uma agência de risco reduzir seu rating de crédito. A inversão de valores entre as duas companhias, com a Gol superando a Azul em valor de mercado, marcou o dia no setor aéreo.
A Raízen (RAIZ4), do setor de energia e combustíveis, também se destacou, com uma alta de 5,95%. A Cosan (CSAN3), controladora da Raízen, subiu 1,32%, beneficiada pelo desempenho da subsidiária.
Frigoríficos mistos em meio à crise da gripe aviária
O setor de frigoríficos apresentou um desempenho misto no pregão. A JBS (JBSS3), uma das maiores empresas do setor, avançou 0,17%, ainda sob o impacto da acomodação da crise da gripe aviária. A BRF (BRFS3), por outro lado, recuou 1,4%, refletindo a volatilidade do setor diante de preocupações com a demanda global por carne.
A crise da gripe aviária, que afetou diversos mercados nos últimos meses, continua sendo monitorada de perto. Embora os casos mais recentes tenham sido controlados, os investidores permanecem atentos a possíveis impactos na cadeia de suprimentos.
- JBS: Alta de 0,17%, com acomodação da crise.
- BRF: Queda de 1,4%.
- Gripe aviária: Impacto controlado, mas sob monitoramento.
Perspectivas para o Ibovespa em 2026
O Banco Safra, em relatório recente, projetou que o Ibovespa pode alcançar 170 mil pontos em meados de 2026. A estimativa reflete o otimismo com o fim do ciclo de aperto monetário e a redução das taxas de custo de capital, que passaram de 15,30% para 14,80%. Apesar das incertezas globais, o desempenho recente do índice reforça a confiança dos analistas.
O cenário macroeconômico brasileiro, embora desafiador, apresenta sinais de estabilidade. A inflação, que permanece em níveis elevados, deve começar a ceder nos próximos meses, segundo projeções do mercado. Além disso, a expectativa de novos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos pode beneficiar os mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Negociações comerciais globais em foco
As tensões comerciais globais também influenciaram o humor dos investidores. Enquanto os Estados Unidos enfrentam dificuldades para avançar em acordos comerciais, outras regiões, como a China e o sudeste asiático, têm fortalecido parcerias. Esse movimento pode impactar a competitividade das exportações americanas e, indiretamente, os mercados globais.
No Brasil, as exportações de commodities, como minério de ferro e petróleo, continuam sendo um pilar importante para a balança comercial. A alta nos preços do minério, por exemplo, tem sustentado o desempenho de empresas como a Vale, apesar da queda pontual no pregão.
- China e sudeste asiático: Fortalecem acordos comerciais.
- Exportações brasileiras: Minério e petróleo seguem como destaques.
- Impacto global: Competitividade dos EUA pode ser afetada.
PMIs globais no radar
A divulgação preliminar dos índices gerentes de compras (PMIs) nas principais economias, marcada para 22 de maio, será um dos eventos mais aguardados pelos investidores. Esses indicadores oferecem uma visão inicial do desempenho econômico em setores como indústria e serviços, refletindo o impacto das tarifas anunciadas pelo governo Trump.
Na Europa, os PMIs da zona do euro e do Reino Unido serão monitorados de perto, especialmente após os recentes desafios enfrentados pela região, como a inflação e a crise energética. Nos Estados Unidos, os dados podem esclarecer o impacto das negociações fiscais no crescimento econômico.
Morgan Stanley otimista com ativos americanos
Apesar das preocupações com a dívida, o Morgan Stanley adotou uma postura otimista em relação aos ativos americanos. O banco elevou sua recomendação para ações e Treasuries para “overweight”, citando a redução das incertezas tarifárias e a ausência de riscos de recessão no curto prazo. A única exceção foi o dólar, que enfrenta pressões devido às políticas fiscais expansionistas.
O otimismo do Morgan Stanley contrasta com a cautela de outros analistas, que apontam para os riscos de um aumento na oferta de Treasuries. A dinâmica entre esses fatores será crucial para o desempenho dos mercados nas próximas semanas.
- Morgan Stanley: Recomenda “overweight” para ações e Treasuries.
- Dólar americano: Pressionado por políticas fiscais.
- Riscos: Aumento na oferta de Treasuries preocupa analistas.
Juros futuros sobem no Brasil
Os contratos de juros futuros (DIs) encerraram o pregão com altas em toda a curva, refletindo as expectativas do mercado para a política monetária. Embora o ciclo de aperto monetário tenha chegado ao fim, os investidores continuam atentos às sinalizações do Banco Central do Brasil. A taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, deve permanecer estável no curto prazo, segundo projeções.
A alta nos DIs também reflete a influência do cenário externo, especialmente as taxas de juros americanas. Com os rendimentos dos Treasuries em alta, os mercados emergentes enfrentam maior pressão sobre suas curvas de juros.
Foco no desempenho das aéreas
O setor aéreo brasileiro segue no centro das atenções, com a Gol e a Azul movimentando o mercado. A possibilidade de uma fusão entre as duas companhias ganhou força nos últimos meses, mas os desafios financeiros da Azul, agravados pelo corte em seu rating de crédito, podem complicar as negociações.
A Gol, por sua vez, tem se beneficiado de avanços na reestruturação de sua dívida. A resolução do Chapter 11 nos Estados Unidos foi um marco importante, permitindo à companhia recuperar a confiança dos investidores.
- Gol: Avança com reestruturação da dívida.
- Azul: Enfrenta desafios com corte no rating.
- Fusão: Negociações seguem em andamento.