sexta-feira, 5 dezembro, 2025

Salário cheio, apadrinhados nomeados e servidores punidos: o custo da amizade no governo Cameli

Nomeações de amigos da namorada do governador para cargos estratégicos com salário cheio retroativo expõem o contraste cruel com o corte de gratificações de servidores efetivos e a manutenção de fantasmas na folha.

✍️ Eliton Muniz – Caboco das Manchetes

Amigos da namorada sobem, servidores de carreira caem

Enquanto o funcionalismo efetivo do Acre enfrenta cortes silenciosos e arbitrários de gratificações, o governo Gladson Cameli amplia o espaço para apadrinhados com vínculos pessoais ao seu entorno íntimo. Em edição publicada no Diário Oficial de 29 de julho de 2025, o governador nomeou dois aliados ligados diretamente à sua atual namorada: Jamila Nunes Roysal (para cargo CAS-8 na Secretaria de Comunicação) e Kalliu Wolter Medeiros Gondim (para cargo CAS-7 no IEPTEC).

Ambos são amigos íntimos da primeira-dama informal do Estado. Ambos foram contemplados com cargos de confiança de alto salário e visibilidade. Nenhum deles é servidor de carreira.

Cargo estratégico, salário cheio e retroatividade cirúrgica

No caso de Jamila Roysal, a nomeação foi publicada no dia 29 de julho, mas com efeito retroativo a 1º de julho. Isso significa que, mesmo sem publicação prévia ou ato de lotação oficial, ela vai receber o salário integral do mês — não proporcional, mas cheio.

Esse tipo de movimentação no fim do mês é uma jogada típica de bastidor para garantir pagamento retroativo integral, mesmo sem exercício comprovado. O que deveria ser exceção legal virou prática comum para beneficiar aliados.
Sem justificativa. Sem critério técnico. Sem pudor.

Republicação por erro: o silêncio que protege

Já o caso de Kalliu Gondim, nomeado para o IEPTEC, veio com a marca registrada do improviso institucional: a publicação foi republicada por incorreção, mas o governo não esclareceu qual erro havia sido cometido — nome? cargo? órgão? lotação?

Num governo comprometido com a transparência, erros são corrigidos com explicação pública. No governo Gladson, erros são apagados e renomeados, como se o Diário Oficial fosse rascunho de confiança.

O outro lado da moeda: corte cruel e silencioso

Enquanto os amigos da casa sobem, servidores concursados estão sendo informados que perderão suas gratificações. A comunicação não vem por decreto, muito menos por despacho publicado — vem por WhatsApp, por fala informal de superior ou por simples sumiço do valor no contracheque.

Não há plano de contenção de gastos divulgado. Não há critério técnico estabelecido. O que há é um desmonte silencioso de direitos adquiridos por mérito, produtividade e anos de serviço. E tudo isso ocorre enquanto nomeados por apadrinhamento seguem ganhando integralmente.

E os fantasmas continuam vivos (e bem pagos)

Além das nomeações oportunistas, o Cidade AC News apurou que servidores comissionados seguem na folha mesmo sem aparecer no trabalho ou sequer morar no Acre. Casos relatados por chefias incluem:

  • Nomeados que vivem fora do Estado e sequer sabem onde funciona o órgão ao qual estão vinculados;

  • Pessoas estudando fora do país com bolsa, mas mantendo cargo comissionado ativo no Estado;

  • Comissionados que não assinam ponto há meses — mas seguem recebendo;

  • Chefias sendo orientadas a “não mexer” com os indicados, sob risco de retaliação política.

Esse é o quadro: quem trabalha perde. Quem é amigo do círculo do poder recebe — e recebe sem aparecer.

A conta não fecha — e a moral muito menos

É impossível defender corte de gratificações por contenção fiscal quando o próprio governo distribui cargos altos a aliados pessoais com salário cheio e retroativo. É inconcebível falar em eficiência administrativa quando fantasmas seguem intocados.
É revoltante punir quem faz o serviço público andar e premiar quem só anda com o governador.

O modelo atual de gestão abandonou a impessoalidade. No lugar do mérito, impera a confiança pessoal. No lugar da técnica, a amizade. No lugar da ética, o atalho.

Não é caso isolado: outros episódios de um mesmo roteiro

Essas não são nomeações pontuais. Fazem parte de um padrão reincidente e estruturado de favorecimento pessoal, com rastro público:

  • Em 2023, foi nomeado um comissionado lotado na Representação do Acre em Brasília que residia em Goiânia, sem expediente comprovado.

  • Em 2022, documentos internos apontaram duas servidoras comissionadas viajando para o exterior enquanto recebiam normalmente seus vencimentos — com ponto assinado retroativamente.

  • Em 2021, denúncias de cargos duplicados em secretarias adjuntas resultaram em abertura de apuração interna — mas os nomes foram blindados, e o caso caiu no esquecimento.

  • Em diversas edições do Diário Oficial, há repúblicas de correções fantasmas, sem detalhamento ou justificativa legal, o que compromete o controle social da administração pública.

Editorial: o Estado do Acre virou gabinete de relações pessoais?

Nomeações com retroatividade, cargos corrigidos às pressas, gratificações arrancadas de servidores concursados, fantasmas remunerados sem controle. Tudo isso seria escandaloso em qualquer democracia madura. No Acre, virou rotina.

Não é só sobre Jamila ou Kalliu. É sobre um modelo de governo que trocou a gestão pelo compadrio, o planejamento pela conveniência, a moralidade pela amizade. E enquanto isso, o povo paga.
Paga o salário cheio.
Paga a gratificação cortada.
Paga o fantasma.
Paga o silêncio.

E a pergunta segue no ar: até quando o Acre vai normalizar o privilégio como método de governo?

Lembrando ainda que: Jamila Roysal foi uma das 17 pessoas investigadas, alvos de mandado de busca e apreensão cumpridos por agentes da Polícia Civil, em Rio Branco e no interior do Acre. Durante a operação, foram apreendidos 13 celulares, dentre eles quatro ainda estavam lacrados, além de três veículos que teriam, supostamente, sido adquiridos com recursos provenientes dessa prática criminosa.

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✍️ Por Redação Cidade AC News
📍Rio Branco (AC)
📅 30 de julho de 2025
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