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Fraude no INSS: quando o sistema alimenta o próprio colapso

Fraude no INSS: quando o sistema alimenta o próprio colapso

Fraude no INSS: quando o sistema alimenta o próprio colapso

👁 COLUNA – VISÃO AC NEWS

Tempo de leitura: 5 min

As investigações da Polícia Federal sobre as fraudes bilionárias no INSS não revelam apenas um esquema criminoso. Elas expõem, com precisão cirúrgica, a fragilidade estrutural de um dos maiores sistemas de seguridade social do mundo — e a leniência com que o poder público lida com isso.

Quase R$ 1 bilhão foram desviados por meio de benefícios fraudulentos, cadastros duplicados, CPFs inexistentes, laudos forjados. Mas o problema real não está na ponta. Está no miolo.

O INSS é o tipo de organismo estatal que opera sob duas lógicas simultâneas: a da escassez para quem precisa e a da flexibilidade para quem tem acesso privilegiado. É um sistema que exige três meses de espera para analisar um pedido legítimo de auxílio-doença, mas libera benefícios fantasmas com carimbo digital e parecer técnico que nem chegou a ser lido.

O que esse caso mostra, mais uma vez, é que o problema não é a ausência de tecnologia. É a presença de cultura institucional permissiva, muitas vezes reforçada por omissão ou conivência. É onde entra o ponto sensível: a politização da máquina pública.

A maioria dos escândalos previdenciários não nasce na maldade de um servidor isolado. Nasce da construção de redes silenciosas que envolvem técnicos, atravessadores, advogados especializados em “destravar” processos e, não raro, gente com nomeado em cargo de confiança.

E a quem isso interessa?

Interessa a quem lucra com a sobrevida artificial de sistemas corroídos, mas altamente rentáveis em ano eleitoral. Interessa a quem usa a burocracia para vender “consultoria” fora dos canais oficiais. Interessa, principalmente, a quem depende de narrativas que reforcem a ideia de que “a Previdência está quebrada” — quando, na verdade, está sendo sistematicamente sangrada.

O foco agora deveria estar em três frentes:

  1. Auditoria técnica com transparência pública.

  2. Corte de acesso privilegiado de dentro para fora (não o contrário).

  3. E responsabilização real — inclusive penal — de quem ajudou o rombo a acontecer de cima.

Porque se o Estado não reage com firmeza, ele legitima o crime.
E se o cidadão percebe isso, a confiança no serviço público — já em frangalhos — vira pó.

Mais do que combater a fraude, o Brasil precisa interromper a cultura do arranjo institucionalizado.

✍️ Visão AC News – Cidade AC News – Rio Branco – Acre

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