O filme Adolescência (2014), dirigido por Jason Reitman, não é apenas uma narrativa sobre os desafios da transição entre a infância e a vida adulta, mas também um espelho que reflete as complexidades da era digital e seu impacto na saúde mental dos jovens. Baseado no romance de Chad Kultgen, o longa mergulha nas vidas de adolescentes americanos, explorando temas como sexualidade, identidade, pressões sociais e, de forma implícita, o papel da tecnologia em suas experiências. Embora o filme não se concentre exclusivamente nas redes sociais — já que foi lançado em uma época em que o uso dessas plataformas ainda não havia atingido o pico atual —, ele oferece um ponto de partida para discutir como a internet e a hiperconectividade moldam os jovens de hoje, muitas vezes levando a diagnósticos de transtornos mentais que exigem intervenção profissional e, em alguns casos, medicação.
Adolescência apresenta personagens como Danny (interpretado por Adam Sandler em um papel mais dramático) e Claire (Rosemarie DeWitt), cujas vidas são marcadas por escolhas impulsivas, relações conturbadas e uma busca constante por validação. Um exemplo marcante é a personagem de Claire, uma mãe que, ao tentar se reconectar com sua filha, expõe as tensões geradas por expectativas irreais e a falta de comunicação genuína — um cenário que ecoa nas dinâmicas familiares contemporâneas influenciadas pelo uso excessivo de dispositivos digitais. Outro momento significativo é a exploração da sexualidade de Danny, que reflete uma adolescência hipersexualizada, muitas vezes amplificada por conteúdos acessíveis online.
Se a protagonista, ou qualquer jovem do filme, não tivesse acesso às redes sociais e à internet, o enredo poderia tomar rumos distintos. Sem a pressão de likes, comentários ou a exposição constante a padrões inalcançáveis de beleza e sucesso, talvez os personagens lidassem com suas inseguranças de maneira mais introspectiva ou buscassem apoio em relações presenciais, como amigos e familiares. Por exemplo, a obsessão de Danny por se encaixar em um grupo social poderia ser substituída por interações mais orgânicas, reduzindo a ansiedade gerada pela comparação virtual. Claire, por sua vez, poderia ter mais tempo para dialogar com sua filha, sem a distração de telas que fragmentam a atenção familiar. A ausência da internet não eliminaria os conflitos adolescentes — que são inerentes à fase —, mas poderia atenuar a intensidade e a velocidade com que esses problemas se agravam na era digital.
Nos últimos anos, observa-se um aumento alarmante no número de jovens diagnosticados com transtornos como ansiedade, depressão e transtorno de personalidade borderline, muitos deles requerendo acompanhamento psicológico ou psiquiátrico e até o uso de medicações. Esse fenômeno está intrinsecamente ligado à forma como a tecnologia, especialmente as redes sociais, transformou a adolescência. Estudos recentes, como os citados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), indicam que metade das condições de saúde mental começa aos 14 anos, coincidindo com o período em que o uso de smartphones e plataformas digitais se intensifica.
A busca por validação online, o cyberbullying e a exposição a conteúdos que glorificam padrões irreais contribuem para esse cenário. No filme, a pressão social já é evidente, mas, na realidade atual, ela é potencializada por algoritmos que mantêm os jovens conectados por horas, como apontado no documentário O Dilema das Redes. A comparação constante com influenciadores ou colegas, somada ao isolamento social provocado pelo excesso de tempo nas telas, pode levar a sintomas como baixa autoestima, tristeza persistente e até pensamentos suicidas. Além disso, a pandemia de COVID-19 agravou essa tendência, com o aumento do tempo online e a redução de interações presenciais, conforme destacado em relatórios do UNICEF.
Outro fator é a falta de regulação emocional, típica da adolescência, que é exacerbada pela exposição a estímulos constantes. Sem pausas para processar emoções, os jovens tornam-se mais vulneráveis a crises de ansiedade ou comportamentos impulsivos, como a automutilação — um tema que, embora não explícito em Adolescência, ressoa com a realidade de muitos adolescentes hoje. Assim, a necessidade de profissionais da saúde mental e medicações surge como resposta a uma geração que enfrenta desafios psicológicos inéditos, amplificados pela hiperconectividade.
É fácil culpar a tecnologia por todos os males da juventude moderna, mas uma análise crítica exige considerar que ela pode ser tanto um catalisador quanto um reflexo de problemas mais profundos. Em Adolescência, os conflitos dos personagens não dependem exclusivamente da internet, mas de falhas na estrutura familiar e social. Hoje, a internet amplifica essas falhas, oferecendo um escape ilusório que, em vez de resolver, mascara as dificuldades. A ausência de suporte emocional em casa ou na escola, combinada com a facilidade de acesso a conteúdos nocivos, cria um ciclo vicioso que a tecnologia apenas acelera.
Se os jovens do filme vivessem sem redes sociais, seus problemas não desapareceriam, mas poderiam ser enfrentados com mais resiliência, desde que houvesse uma rede de apoio robusta. Isso sugere que o verdadeiro desafio não está apenas na tecnologia, mas na forma como a sociedade prepara os adolescentes para lidar com ela. A dependência digital é um sintoma de uma cultura que valoriza a aparência e o imediatismo, negligenciando a educação emocional e o diálogo.
A seguir, um guia prático para identificar sinais de alerta em adolescentes, inspirado nas reflexões sobre Adolescência e no contexto atual:
1. Quais são os principais sintomas de problemas de saúde mental em jovens?
2. Quais comportamentos indicam a necessidade de ajuda profissional?
3. Que tipos de pensamentos podem ser preocupantes?
4. Quando procurar um profissional da saúde mental?
5. Como as redes sociais afetam esses sinais?
Adolescência nos convida a refletir sobre a fragilidade dessa fase da vida, que hoje é intensificada pela presença ubíqua da internet. Sem as redes sociais, os jovens do filme talvez enfrentassem seus dilemas com menos pressão externa, mas o aumento de diagnósticos e tratamentos entre os adolescentes atuais mostra que a tecnologia é um fator agravante que não pode ser ignorado. Para reverter esse quadro, é essencial equilibrar o uso digital com conexões humanas reais, oferecendo suporte emocional e educacional que prepare os jovens para um mundo hiperconectado — algo que, infelizmente, ainda está longe de ser uma realidade universal.