Bujari, Acre – Uma escola funcionando em um curral, sem paredes, sem água potável, sem piso, com livros infestados de traças, energia elétrica cortada e baratas na geladeira onde é armazenada a merenda. Essa é a realidade de alunos da comunidade rural de Bujari, no Acre, revelada em uma impactante matéria do programa Fantástico, da TV Globo, exibida no último domingo, 8 de junho de 2025. A denúncia joga luz sobre o descaso com a educação no interior do estado, onde crianças e professores enfrentam condições precárias para manter o ensino vivo.
A matéria do Fantástico mostrou o cotidiano da Escola Municipal José Cassemiro de Almeida, na comunidade Luzeiro, que atende alunos em um anexo improvisado em um antigo curral. A estrutura, que não possui paredes ou piso adequado, força crianças a estudar em chão de terra batida, expostas a moscas, marimbondos e riscos de contaminação. A única professora, que acumula funções de merendeira e auxiliar de limpeza, ainda precisa lidar com a precariedade de uma geladeira infestada de baratas, onde a merenda é armazenada. Livros didáticos, essenciais para o aprendizado, estão danificados por traças, e a energia elétrica foi cortada, comprometendo ainda mais o funcionamento da unidade.
Rocilda Gomes, coordenadora da rede municipal de ensino e esposa do prefeito de Bujari, João Edvaldo Teles, conhecido como “Padeiro”, afirmou que foi contra a reabertura do anexo devido às condições inadequadas. No entanto, segundo ela, os pais optaram por manter as aulas no local precário para evitar a suspensão do ensino. “Os pais decidiram que queriam que a aula se iniciasse mesmo naquele local”, declarou Rocilda à equipe do Fantástico. A coordenadora destacou que a suspensão das aulas só ocorrerá quando uma nova estrutura de madeira estiver concluída, mas a secretaria municipal reforçou que o calendário escolar precisa ser cumprido, mesmo em condições adversas.
A situação gerou revolta nas redes sociais, com acreanos expressando indignação e tristeza. “É um tapa na cara dos acreanos. Enquanto a população celebra shows, o futuro tá sendo construído numa escola sem água, paredes, piso”, escreveu o usuário @mrcs_vinicius_ no X. Outro internauta, @lucasmouraa, relatou quase ter chorado com os depoimentos dos alunos, que, apesar do cenário desumano, persistem em estudar. “Como podem competir com outros alunos?”, questionou @xusesousa, destacando a desigualdade educacional.
A precariedade da educação em Bujari reflete um problema maior no Acre, onde a evasão escolar e social é agravada pela falta de infraestrutura. Como apontado por @hadameswilson, muitos jovens abandonam o estado em busca de melhores oportunidades em Santa Catarina, Rondônia, Portugal ou Estados Unidos. “O Acre está falhando com seu futuro”, lamentou. A matéria também expôs a negligência do poder público, com o secretário de Educação local sendo criticado por sua postura diante do caos.
A denúncia do Fantástico reforça a urgência de ações concretas para reverter o abandono das escolas rurais no Acre. Comunidades como Luzeiro, localizadas a quilômetros da capital Rio Branco, sofrem com a falta de investimento em infraestrutura básica, como saneamento, energia e materiais didáticos. A escola, que deveria ser um espaço de esperança e transformação, tornou-se símbolo de descaso, com professores, como o “professor roçador” que corta o mato ao redor da unidade, tentando suprir as falhas do sistema.
Organizações locais, como o Movimento pela Educação do Acre, já cobram providências da prefeitura de Bujari e do governo estadual. A promessa de uma nova estrutura de madeira é vista com ceticismo por moradores, que temem atrasos e mais promessas não cumpridas. Enquanto isso, as crianças de Bujari continuam sonhando com um futuro melhor, mesmo estudando no barro, sob o risco de marimbondos e com o peso de um sistema que parece ter esquecido delas.