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Enquanto a estrutura da Expoacre 2025 começa a ser erguida no Parque de Exposições de Rio Branco, a pergunta nos bastidores é direta: quanto da maior festa do Acre é, de fato, feita para o povo do Acre? E mais — qual parte da cultura local será realmente protagonista quando os palcos estiverem acesos?
Nos próximos sete dias, a movimentação de tratores, tendas e contratos marca o aquecimento da feira, que oficialmente só começa no sábado (26). Mas a política já subiu no palco antes da cavalgada.
Segundo o governo, a 50ª edição da Expoacre promete bater recordes: R$ 80 milhões em movimentação financeira e shows com Gusttavo Lima, Fernanda Brum e Zezé Di Camargo. Mas ao mesmo tempo, artistas locais relatam dificuldade para acessar cachês dignos ou se apresentar em horários com visibilidade real.
“A gente vai tocar às 16h de um domingo, no palco secundário. Quando o povo ainda nem chegou. Isso é valorização?”, questiona um cantor popular de Sena Madureira, que pediu anonimato por medo de represália.
Cultura local? Só se for de coadjuvante
Enquanto o discurso institucional fala em “celebração da identidade acreana”, o edital para artistas locais foi publicado com pouco tempo, baixo alcance e critérios que favorecem grupos com ligação prévia a gestões passadas. Na prática, nomes que resistem fora do circuito comercial — como quadrilhas tradicionais, grupos indígenas e músicos de periferia — seguem fora do line-up principal.
“A Expoacre virou uma vitrine de marketing institucional. A cultura verdadeira, a que carrega cheiro de terra e sotaque de Rio Branco, fica escondida atrás da lona”, afirma a produtora cultural Ana Vasconcelos, da Baixada da Sobral.
Cavalgada: festa ou espetáculo de elite?
A tradicional cavalgada do dia 26 é anunciada como o “grande momento de abertura”, mas também levanta polêmica. Comitivas que não pertencem à elite rural enfrentam dificuldade logística, falta de estrutura e regras que limitam a participação.
Nos bastidores, já circulam informações de que grupos de muladeiros foram vetados por não estarem “regularizados” — critério que, segundo os organizadores, visa à segurança. Mas críticos apontam uma tentativa de higienizar a festa para as câmeras.
Parquinho começa antes da feira — mas só para alguns
A pré-abertura do parque infantil da Expoacre, prevista para os dias 27 e 28, vai beneficiar apenas escolas públicas previamente cadastradas. Isso significa que boa parte das crianças de bairros periféricos ou da zona rural não terá acesso à programação lúdica antes da abertura oficial.
“Minha filha de 6 anos ficou doente em 2023 e perdeu o único dia que teve brinquedo gratuito. Esse ano, de novo, só vai quem a escola indicar”, comenta Joelma dos Santos, moradora do bairro Tancredo Neves.
Fórum de Arte e Patrimônio: evento paralelo, voz ignorada
No centro da cidade, o Fórum Integrado de Arte e Patrimônio Cultural segue quase invisível na agenda oficial. Com rodas de conversa sobre a preservação da memória popular, o evento conta com apoio técnico da Fundação Elias Mansour, mas zero presença na mídia institucional — e nenhum cruzamento com a programação da Expoacre.
“A política cultural ainda vive em guetos. O Fórum tenta pensar o Acre profundo, mas não é sexy o suficiente pro Instagram do governo”, alfineta um dos curadores do evento.
O Acre que brilha e o Acre que trabalha
Nos próximos dias, o Estado deve repetir o ritual: palanque, selfie, shows lotados e manchetes sobre movimentação de milhões. Mas a pergunta que fica é: quem está escrevendo a história da Expoacre? Os que cantam no palco principal ou os que gritam sem microfone do lado de fora?
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