A madrugada de 25 de abril de 2025 marcou um novo capítulo na trajetória do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Preso no aeroporto de Maceió, capital de Alagoas, por volta das 4h, Collor permanece na superintendência da Polícia Federal (PF) enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) decide onde ele cumprirá a pena de 8 anos e 10 meses por corrupção e lavagem de dinheiro. A detenção, conduzida de forma discreta, ocorreu horas após o ministro Alexandre de Moraes rejeitar os recursos da defesa, que buscavam reverter a condenação em um desdobramento da Operação Lava Jato. A prisão de Collor, o terceiro ex-presidente detido desde a redemocratização, reacende debates sobre a accountability de figuras políticas no Brasil.
A operação que culminou na prisão foi planejada para evitar alarde. Collor, que tinha como destino Brasília para se entregar às autoridades, foi surpreendido ainda em Alagoas, seu reduto político. Ele está em uma sala especial na superintendência da PF, separada da carceragem comum, enquanto aguarda a decisão do STF. O plenário virtual da Corte, convocado pelo presidente Luís Roberto Barroso, analisa a decisão de Moraes em sessão marcada para o mesmo dia, entre 11h e 23h59. A ordem de prisão, por enquanto, segue em vigor, com base no trânsito em julgado da condenação, que torna a sentença definitiva.
A condenação de Collor está relacionada a desvios na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, entre 2010 e 2014. Acusado de receber R$ 20 milhões em propinas para facilitar contratos com a UTC Engenharia, o ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2015. O caso, que tramitou no STF devido ao foro privilegiado de Collor como senador à época, reflete o impacto duradouro da Lava Jato na política brasileira, que já levou à prisão de figuras como Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer.
- Pontos principais da prisão de Collor:
- Detenção ocorreu no aeroporto de Maceió às 4h de 25 de abril.
- Condenação por corrupção e lavagem de dinheiro é definitiva.
- STF decidirá local de cumprimento da pena em plenário virtual.
- Collor é o terceiro ex-presidente preso desde a redemocratização.
Contexto da condenação na Lava Jato
A trajetória de Fernando Collor na política brasileira é marcada por momentos de ascensão e controvérsia. Eleito presidente em 1989, na primeira eleição direta após a ditadura militar, Collor ficou conhecido pelo discurso contra os “marajás” e pelo Plano Collor, que confiscou poupanças para combater a inflação. Seu governo, no entanto, foi interrompido por denúncias de corrupção e um processo de impeachment, culminando em sua renúncia em 1992. Após anos afastado, Collor voltou à política como senador por Alagoas, cargo que ocupou até 2022.
A condenação na Lava Jato trouxe à tona novas acusações contra o ex-presidente. A PGR apontou que Collor integrou um esquema de corrupção envolvendo a BR Distribuidora, onde propinas foram pagas para viabilizar contratos de construção de bases de combustíveis. Além de Collor, os empresários Luís Pereira Duarte de Amorim e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos também foram condenados. O STF, ao julgar o caso em 2023, confirmou a existência de R$ 20 milhões em propinas, valor inferior aos R$ 29,9 milhões inicialmente denunciados.
O processo contra Collor enfrentou várias etapas. Em 2017, o STF aceitou a denúncia, mas descartou acusações de peculato e obstrução de justiça. Em 2023, o crime de organização criminosa foi considerado prescrito, reduzindo o escopo da punição. A decisão de Moraes, tomada em 24 de abril de 2025, rejeitou os embargos apresentados pela defesa, classificando-os como protelatórios. A rapidez na execução da pena surpreendeu os advogados de Collor, que esperavam maior espaço para recursos.
Reações da defesa e impacto político
A defesa de Fernando Collor reagiu com críticas à decisão do ministro Alexandre de Moraes. Em nota, o advogado Marcelo Bessa classificou a ordem de prisão como uma medida monocrática, expressando surpresa e preocupação com a falta de debate colegiado no STF. A estratégia da defesa agora se concentra em acompanhar a sessão virtual do STF, na esperança de que o plenário reveja a execução imediata da pena ou defina condições mais favoráveis para o cumprimento.
A prisão de Collor tem implicações políticas significativas. Como figura histórica da política brasileira, sua detenção reforça a percepção de que a Lava Jato continua a impactar o establishment político, mesmo uma década após seu início. A operação, que revelou esquemas de corrupção em estatais como a Petrobras, já levou à condenação de dezenas de políticos e empresários. No caso de Collor, a prisão reacende memórias de seu impeachment, um marco na história democrática do Brasil.
Para a opinião pública, a detenção de um ex-presidente é um evento de grande repercussão. Em Alagoas, onde Collor mantém influência, a notícia gerou debates entre apoiadores, que veem a prisão como perseguição política, e críticos, que celebram a punição por corrupção. A polarização em torno do caso reflete o clima político do Brasil, onde decisões judiciais frequentemente dividem a sociedade.
- Reações à prisão de Collor:
- Defesa critica decisão como monocrática e busca revisão no STF.
- Apoiadores em Alagoas questionam motivações políticas da prisão.
- Críticos veem detenção como justiça após anos de investigações.
- Caso reforça impacto duradouro da Lava Jato na política brasileira.

Trajetória de Collor e a Lava Jato
A carreira de Fernando Collor é um exemplo de resiliência política. Nascido no Rio de Janeiro em 1949, ele se mudou para Alagoas ainda jovem, onde construiu uma base sólida. Nos anos 1980, foi prefeito de Maceió, deputado federal e governador, antes de alcançar a presidência aos 40 anos. Sua eleição em 1989, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva, marcou a retomada das eleições diretas no Brasil. No entanto, o governo Collor foi marcado por escândalos, com denúncias lideradas por seu irmão, Pedro Collor, envolvendo o tesoureiro PC Farias.
Após o impeachment, Collor enfrentou um longo período de ostracismo político. Sua volta ao Senado em 2006, reeleito em 2014, demonstrou sua capacidade de manter relevância em Alagoas. Durante o mandato, ele foi alvo de investigações da Lava Jato, que começaram em 2014 e revelaram esquemas de corrupção em diversos setores. A denúncia contra Collor, apresentada em 2015, foi um dos desdobramentos da operação, que investigou contratos da Petrobras e suas subsidiárias.
A Lava Jato transformou o cenário político brasileiro, com mais de 200 condenações e R$ 6 bilhões recuperados até 2024, segundo dados oficiais. A prisão de Collor, anos após o auge da operação, mostra que seus efeitos ainda reverberam. Outros ex-presidentes, como Lula, condenado em 2017, e Temer, preso preventivamente em 2019, também enfrentaram consequências da operação, embora em contextos diferentes.
Papel do STF na execução da pena
O Supremo Tribunal Federal desempenha um papel central no caso de Collor. A decisão de Alexandre de Moraes, tomada na véspera da prisão, reflete a postura do ministro em acelerar a execução de penas em casos de corrupção. Moraes, que já foi relator de outros processos da Lava Jato, argumentou que os recursos da defesa não apresentavam novos elementos, justificando a ordem de prisão imediata.
A convocação de uma sessão virtual pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, indica a prioridade dada ao caso. O plenário virtual permite que os ministros votem remotamente, agilizando a análise. A expectativa é que a Corte confirme a decisão de Moraes, definindo o local onde Collor cumprirá a pena. Possíveis destinos incluem penitenciárias em Brasília ou Alagoas, dependendo de questões logísticas e de segurança.
O STF tem enfrentado pressão para equilibrar celeridade e garantias processuais em casos de grande repercussão. A prisão de Collor, após anos de tramitação, reforça a imagem da Corte como uma instituição capaz de punir figuras poderosas, mas também levanta debates sobre o papel das decisões monocráticas. A sessão virtual será um momento decisivo para esclarecer esses pontos.
Implicações para Alagoas e o cenário político
Em Alagoas, a prisão de Collor tem impacto direto. O estado, onde o ex-presidente construiu sua carreira, ainda abriga uma base de apoiadores fiéis, apesar das controvérsias. A detenção no aeroporto de Maceió, cidade onde Collor foi prefeito, resgata memórias de sua influência local. Políticos aliados, como o senador Renan Calheiros, evitam comentários públicos, enquanto adversários destacam a prisão como um marco contra a impunidade.
A nível nacional, o caso reforça o legado da Lava Jato. Embora a operação tenha perdido força nos últimos anos, com críticas por supostos excessos, a prisão de Collor mostra que suas investigações ainda produzem resultados. O impacto político, no entanto, é limitado, já que Collor não ocupa cargo eletivo desde 2022. Sua detenção serve mais como um símbolo do combate à corrupção do que como um divisor de águas na política atual.
Para o eleitorado, a prisão de um ex-presidente é um lembrete dos desafios éticos na política brasileira. A condenação de Collor, combinada com outros casos da Lava Jato, alimenta a desconfiança em instituições públicas, mas também reforça a importância de mecanismos de controle, como o Judiciário e a PF.
- Cronograma do caso Collor no STF:
- Agosto de 2015: PGR apresenta denúncia contra Collor.
- 2017: STF aceita denúncia, tornando Collor réu.
- 2023: Condenação por corrupção e lavagem de dinheiro.
- 24 de abril de 2025: Moraes rejeita recursos e determina prisão.
- 25 de abril de 2025: Collor é preso em Maceió.
Desafios judiciais e perspectivas futuras
A prisão de Fernando Collor marca o fim de um longo processo judicial, mas não encerra os desafios legais. A defesa pode buscar habeas corpus ou outras medidas para questionar a execução da pena, embora o trânsito em julgado limite as possibilidades. A análise do STF no plenário virtual será crucial para determinar os próximos passos, incluindo o regime de cumprimento (fechado ou semiaberto) e o local da pena.
A detenção também levanta questões sobre o sistema penitenciário brasileiro. Como ex-presidente, Collor tem direito a condições especiais, como uma sala separada na PF, mas a transferência para uma penitenciária pode gerar debates sobre segurança e tratamento diferenciado. A PF, sob o comando de Andrei Rodrigues, garante que o ex-presidente está em instalações adequadas enquanto aguarda a decisão do STF.
A longo prazo, o caso Collor pode influenciar outros processos da Lava Jato. Com dezenas de investigações ainda em andamento, a prisão de uma figura de alto escalão reforça a mensagem de que ninguém está acima da lei. Para o STF, o desafio será manter a consistência em suas decisões, equilibrando rigor e respeito aos direitos dos réus.
Legado da Lava Jato e accountability política
A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, transformou o combate à corrupção no Brasil. Com mais de 1.000 mandados de busca e apreensão e 200 acordos de delação premiada, a operação expôs esquemas que movimentaram bilhões de reais. A condenação de Collor, quase uma década após a denúncia, mostra a persistência das investigações, mesmo em um contexto de críticas à operação por suposta politização.
A prisão de Collor é um marco na história recente do Brasil. Ele se junta a Lula e Temer como ex-presidentes detidos, um fato inédito na América Latina. Esses casos refletem o fortalecimento de instituições como o STF e a PF, mas também expõem a fragilidade da governança política, marcada por escândalos recorrentes. A detenção de Collor, em particular, é simbólica, dado seu papel como o primeiro presidente eleito após a ditadura.
Para a sociedade, o caso reforça a importância da transparência e da punição de crimes de colarinho branco. A Lava Jato, apesar de seus detratores, deixou um legado de maior escrutínio sobre o poder público. A prisão de Collor é um capítulo a mais nessa história, que continua a moldar o futuro político do Brasil.
- Impactos da Lava Jato no Brasil:
- Mais de 200 condenações por corrupção e lavagem de dinheiro.
- Recuperação de R$ 6 bilhões em recursos desviados.
- Prisão de três ex-presidentes: Lula, Temer e Collor.
- Fortalecimento do STF e da PF no combate à corrupção.