Steve Davies, que por quatro anos foi o fiel motorista da princesa Diana, decidiu romper um silêncio de três décadas para compartilhar uma história marcada por lealdade inabalável, uma demissão inesperada e a revelação de um complô que mudou sua vida. Aos 67 anos, ele trouxe à tona detalhes emocionantes sobre seu tempo ao lado da princesa e como uma campanha de desinformação orquestrada pelo jornalista Martin Bashir, da BBC, resultou em sua saída abrupta em 1996. A narrativa de Davies, cheia de momentos pessoais e reflexões dolorosas, reacende debates sobre ética jornalística e o peso da mídia na vida da realeza britânica.
O ex-motorista, que começou a trabalhar para Diana em 1992, descreveu sua relação com a princesa como mais do que profissional. Ele era um dos poucos em quem ela confiava plenamente, acompanhando-a em compromissos públicos e momentos privados ao lado dos príncipes William e Harry. Davies lembra com carinho das viagens diárias e das interações afetuosas com os jovens príncipes, mas também carrega o peso de ter sido afastado sem explicações claras, um mistério que só seria desvendado anos depois ao assistir a uma série sobre os bastidores da família real.
A decisão de falar agora, em 2024, vem após décadas de reflexão e da confirmação pública de que Bashir manipulou informações para garantir uma entrevista histórica com Diana, transmitida em 1995. A revelação não apenas expôs as táticas do jornalista, mas também trouxe à tona o impacto devastador que elas tiveram na vida de pessoas como Davies, que viu sua reputação e carreira desmoronarem por acusações falsas.
Durante os quatro anos em que serviu Diana, Steve Davies não era apenas um motorista. Ele se tornou uma figura constante na rotina da princesa, transportando-a por Londres e além, muitas vezes sob os olhares atentos da imprensa. Sua proximidade com a família real permitiu que ele testemunhasse o lado humano de Diana, conhecida mundialmente por sua empatia e carisma. Davies recorda momentos em que a princesa demonstrava gratidão por sua discrição e cuidado, criando um vínculo que ia além das obrigações de trabalho.
Com os príncipes William e Harry, então crianças, Davies viveu episódios que misturam humor e ternura. Ele conta que os meninos o viam como uma presença familiar, alguém que os levava à escola ou a eventos com segurança e paciência. Em uma das lembranças mais marcantes, ele descreve uma viagem em que Harry, sempre brincalhão, insistiu em contar piadas enquanto William tentava manter a seriedade, um retrato simples da infância dos herdeiros em meio à vida sob os holofotes.
Essa relação de confiança foi abalada em 1996, quando Davies recebeu a notícia de sua demissão. Sem uma justificativa concreta, ele passou anos questionando o que poderia ter feito de errado. Foi somente em 2021, com a divulgação de uma investigação independente sobre a entrevista de Bashir, que o ex-motorista descobriu a verdade: o jornalista havia espalhado rumores de que ele vendia informações à imprensa, uma mentira que convenceu Diana a encerrar sua parceria com Davies.
A entrevista de Diana à BBC em 1995, assistida por mais de 23 milhões de pessoas no Reino Unido, marcou a história da televisão. Nela, a princesa falou abertamente sobre seu casamento com Charles e os desafios dentro da monarquia. Porém, o que poucos sabiam na época era o custo humano por trás daquele furo jornalístico. Martin Bashir, determinado a conquistar a confiança de Diana, recorreu a táticas desonestas, incluindo a falsificação de documentos e a disseminação de boatos sobre pessoas próximas à princesa, como Davies.
A investigação conduzida por Lord Dyson, concluída em 2021, revelou que Bashir apresentou extratos bancários falsos para sugerir que membros da equipe de Diana estavam sendo pagos para traí-la. Entre as vítimas dessas acusações estava Steve Davies, cuja lealdade foi questionada sem que ele tivesse chance de se defender. A BBC, ao reconhecer os erros, pediu desculpas e indenizou diversas pessoas afetadas, incluindo o ex-motorista, que recebeu uma compensação financeira estimada em dezenas de milhares de libras.
Para Davies, no entanto, o dinheiro não apaga o trauma. Ele relata que a perda do emprego o lançou em um período de instabilidade emocional e profissional. Após anos dirigindo para uma das figuras mais famosas do mundo, ele precisou reconstruir sua vida longe dos círculos reais, carregando o peso de uma injustiça que só seria esclarecida décadas depois.
Perder o posto ao lado de Diana foi um golpe duro para Steve Davies. Ele descreve o trabalho como uma honra única, uma chance de fazer parte da vida de alguém que ele admirava profundamente. A demissão abrupta, sem explicações, deixou cicatrizes que perduraram por anos. Davies passou muito tempo tentando entender o que havia acontecido, enquanto enfrentava dificuldades para encontrar um novo rumo em sua carreira.
Quando a verdade sobre as ações de Bashir veio à tona, Davies sentiu um misto de alívio e revolta. Saber que sua saída foi resultado de uma mentira trouxe clareza, mas também a frustração de que a BBC não agiu mais cedo para corrigir o erro. Ele critica a emissora por sua lentidão em investigar as denúncias e por permitir que a reputação de pessoas inocentes fosse manchada. A indenização, embora bem-vinda, não compensa os anos de silêncio e incerteza que ele enfrentou.
O ex-motorista também reflete sobre o impacto em sua relação com Diana. Ele acredita que, se a princesa soubesse da verdade na época, teria mantido sua confiança nele. A manipulação de Bashir, segundo Davies, roubou-lhe a chance de continuar servindo alguém por quem ele diz que “levaria um tiro”, uma declaração que sublinha a profundidade de seu compromisso.
Apesar das mágoas, as lembranças de Steve Davies com Diana e seus filhos permanecem vivas. Ele guarda na memória episódios que mostram o lado descontraído da princesa, como quando ela ria de suas próprias tentativas de escapar dos paparazzi ou agradecia por sua paciência em dias particularmente caóticos. Com William e Harry, Davies recorda viagens repletas de conversas animadas e pequenas travessuras, como o dia em que Harry escondeu um brinquedo no carro só para ver a reação do motorista.
Esses instantes, segundo ele, revelam a humanidade de uma família constantemente observada pelo mundo. Davies destaca que Diana fazia questão de tratar sua equipe com respeito, criando um ambiente onde a lealdade era recíproca. Para ele, essas memórias são um lembrete do privilégio que teve, mesmo com o desfecho amargo de sua jornada ao lado da realeza.
Entre os relatos, Davies menciona uma lista de momentos que o marcaram:
Os eventos que envolveram Steve Davies e Martin Bashir seguem uma linha do tempo que reflete tanto o auge quanto a queda de uma das maiores polêmicas da mídia britânica. Veja os principais marcos:
Essa cronologia mostra como as ações de um único jornalista reverberaram por décadas, afetando vidas e expondo falhas institucionais.
Um dos pontos mais emocionantes das declarações de Steve Davies é sua crença de que poderia ter mudado o destino de Diana. Ele se refere ao acidente fatal em Paris, em 31 de agosto de 1997, quando a princesa morreu em uma colisão enquanto era perseguida por paparazzi. Davies afirma que, com sua experiência e conhecimento das rotas de Londres e além, poderia ter evitado a tragédia se estivesse ao volante naquela noite.
Ele explica que sua abordagem à segurança era meticulosa, sempre priorizando rotas alternativas e mantendo a calma sob pressão. Para Davies, a combinação de um motorista inexperiente e a perseguição implacável da imprensa criou as condições para o acidente. Sua voz carrega tristeza ao imaginar um cenário diferente, onde sua presença poderia ter feito a diferença.
Essa reflexão não é apenas pessoal, mas também levanta questões sobre as circunstâncias que cercaram a morte de Diana. Investigaciones posteriores apontaram falhas na segurança e na condução do veículo, reforçando a ideia de que decisões cruciais poderiam ter alterado o desfecho.
A história de Steve Davies joga luz sobre o poder da mídia e os danos que ela pode causar quando a ética é deixada de lado. O caso de Martin Bashir não é isolado, mas serve como exemplo de como a busca por exclusividade pode cruzar linhas perigosas. A manipulação de informações para atingir objetivos jornalísticos comprometeu a vida de pessoas como Davies e alimentou uma narrativa que, por anos, permaneceu incompleta.
O impacto vai além do ex-motorista. A entrevista de 1995 intensificou a exposição de Diana, contribuindo para a pressão que ela enfrentava diariamente. Para muitos observadores, o episódio é um marco nas discussões sobre a relação entre a realeza e a imprensa, destacando a necessidade de limites claros e responsabilidade jornalística.
Davies, por sua vez, vê sua experiência como um alerta. Ele espera que sua decisão de falar agora inspire uma reflexão mais ampla sobre a importância da verdade e o custo humano de práticas antiéticas, especialmente em um mundo onde a mídia continua a moldar percepções e destinos.