Decisão atinge ex-integrantes do Ministério da Saúde e reacende debate sobre exploração de médicos cubanos e dependência do Brasil em acordos externos na saúde pública.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou a revogação dos vistos de Moza Salles, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleinman, ex-assessor de Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde. Ambos foram acusados de cumplicidade na exploração de médicos cubanos no âmbito do Mais Médicos, programa criado em 2013 durante o governo Dilma Rousseff em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Contexto e histórico
O Mais Médicos nasceu com a proposta de levar profissionais de saúde às áreas mais remotas do Brasil — interior do Norte e Nordeste e periferias das grandes capitais. O acordo firmado entre Brasil, Cuba e OPAS previa que os salários dos médicos cubanos seriam intermediados pela organização internacional, mas a maior parte dos recursos acabava nas mãos do governo de Havana, e não diretamente com os médicos.
Em 2018, Cuba encerrou o convênio, após pressões políticas e denúncias de que os profissionais sofriam restrições de liberdade e recebiam menos de 30% do valor pago pelo Brasil.
O impacto da decisão americana
A medida de Washington não é simbólica: trata-se de um recado direto. Os EUA não apenas condenam o modelo de cooperação como responsabilizam gestores brasileiros por terem aceitado — e defendido — o acordo. A revogação dos vistos é vista como sanção diplomática, colocando o Brasil no centro de uma disputa geopolítica maior, onde Cuba segue como alvo histórico do embargo americano.
Para o Brasil, isso significa reabrir um debate que muitos consideravam superado: até onde a urgência em garantir atendimento médico justifica fechar os olhos para a exploração trabalhista?
A resposta do governo brasileiro

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, saiu em defesa de Moza e Kleinman, chamando a decisão de “ataque injustificável”. Segundo ele, os dois foram “fundamentais” para o Mais Médicos e o programa segue sendo “um salvador de vidas” que resiste a pressões externas.
O discurso reforça uma contradição: enquanto o governo defende a legitimidade do Mais Médicos, agora tem que lidar com a narrativa internacional de que o Brasil foi cúmplice em um sistema que financiava a ditadura cubana.
O que está em jogo
- Na saúde pública: a lembrança de que o Brasil ainda não resolveu o problema da falta de médicos em regiões remotas.
- Na diplomacia: o desgaste com os EUA pode ter efeito em negociações bilaterais, especialmente em temas de saúde global.
- Na política: a oposição tende a explorar o caso como prova de que o governo Lula mantém vínculos com regimes autoritários.
Conclusão
A decisão dos EUA joga luz sobre um ponto incômodo: o Brasil comprou acesso à saúde às custas da dignidade dos profissionais cubanos. O Mais Médicos pode ter salvado vidas, mas também financiou um regime fechado e transferiu bilhões para Havana. A conta política agora chega em forma de sanção diplomática.
Só com coragem política, transparência e progressividade será possível repensar programas de saúde sem repetir os erros de 2013. O desafio é simples de formular e difícil de responder: o Brasil precisa de médicos — mas a que preço?
✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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