O discurso antissistema ganha força e ameaça corroer as bases da República brasileira. Críticas legítimas dão lugar à deslegitimação institucional, promovendo caos político e social.
Onde? Em todo o Brasil, especialmente nas redes sociais.
Quem? Formadores de opinião, jornalistas, políticos e influenciadores.
O quê? Têm lançado ataques frequentes ao STF, Congresso e instituições.
Quando? Tendência crescente nos últimos cinco anos, com novos episódios em 2025.
Por quê? Por insatisfação política, ideológica ou desinformação.
Como? Por meio de narrativas que desacreditam o sistema democrático.
A desconfiança deixa de ser cívica e torna-se corrosiva
Postagens como a da jornalista Cristina Graeml, com milhões de visualizações e curtidas, expõem mais do que um desabafo: revelam uma tendência perigosa de deslegitimação das instituições. Ao afirmar que “o STF é um tribunal ilegalmente político”, a crítica extrapola o campo da discordância jurídica para adentrar o território da erosão institucional.
A crítica pode ser válida. A dúvida, legítima. O problema é quando se afirma — sem base jurídica — que ministros não têm autoridade legal para julgar, ou que o Judiciário age “fora da Constituição”. Isso não apenas desinforma, como radicaliza o debate público.
A armadilha do descrédito público
A confiança nas instituições é o alicerce de qualquer democracia. O Judiciário não é eleito pelo voto direto, mas sua existência é prevista e legitimada pela Constituição Federal de 1988, com indicação presidencial e sabatina no Senado Federal. Ou seja: há controle democrático indireto.
Quando esse sistema passa a ser sistematicamente desacreditado, surgem discursos de ruptura, pedidos de “intervenção” e rejeição às regras do jogo democrático. Isso ocorreu em países como Venezuela, Turquia e Hungria — e sempre precedeu o autoritarismo.
O Datafolha de março de 2025 mostrou que 52% dos brasileiros não confiam no STF — um número alarmante para um dos pilares do Estado de Direito.
O papel dos comunicadores e da mídia
A mídia tem o poder de informar — ou de inflamar. Ao colocar em dúvida a legitimidade de decisões judiciais sem apresentar fatos verificáveis ou propostas alternativas, influenciadores digitais e jornalistas arriscam contribuir para a fragilização da democracia.
Não se trata de defender o Judiciário a qualquer custo. Trata-se de preservar a credibilidade do sistema democrático como um todo. Juízes erram. Políticos também. Mas a resposta está na democracia, no debate plural, no voto — e não na deslegitimação total.
O preço de desacreditar tudo
Desacreditar todas as instituições não fortalece a liberdade — abre caminho para salvadores da pátria e regimes de exceção. A democracia brasileira já enfrentou rupturas demais para brincar com o fogo da intolerância institucional.
Quando o povo não confia mais no voto, no Congresso, na Justiça ou na imprensa, a democracia desmorona. E em seu lugar, instala-se o autoritarismo, seja de toga, de farda ou de palanque.
O que fazer? Reconstruir com maturidade cívica
A reconstrução da confiança exige mais do que campanhas publicitárias. Requer:
- Educação cívica nas escolas;
- Resgate do papel dos partidos políticos como mediadores sociais;
- Transparência ativa do Judiciário e do Congresso;
- E principalmente, responsabilidade de quem comunica.
Como cidadãos, precisamos entender que democracia não é só votar a cada quatro anos, mas manter as instituições funcionando, mesmo com críticas.
Sabe o que eu penso?
“Toda casa dividida contra si mesma será destruída.” – Lucas 11:17
A democracia é imperfeita, mas é o melhor que construímos até agora. Quando nos levantamos contra os pilares que nos sustentam, enfraquecemos a casa comum — e permitimos que o medo tome o lugar da liberdade.
O Brasil precisa mais do que gritos e hashtags. Precisa de responsabilidade pública, compromisso com a verdade e respeito pelas instituições. Que as críticas continuem — mas que venham com propostas, com diálogo e com o compromisso de não destruir aquilo que ainda nos une.
