Na correria do dia a dia, muitos não param para observar o que acontece depois que o sol se põe. Mas à noite, a cidade não dorme — e em determinados cantos, ela pulsa através de histórias de luta, superação e fé no trabalho.
A equipe do Jornal das 12 saiu às ruas e esteve na Praça Relógio do Sol, no bairro Procon, para conhecer de perto a rotina de quem escolheu empreender à noite. A pergunta que guiou essa reportagem foi simples, mas carrega profundidade:
Quais são os desafios de quem trabalha à noite?
As respostas vieram carregadas de realidade, mas também de esperança. Para quem depende das vendas noturnas, a chuva é sempre um desafio. Ela espanta o público e atrapalha a rotina dos que montam suas barracas com estrutura básica, muitas vezes improvisada. O medo de acidentes também é constante, já que a Praça fica à margem da movimentada rua Getúlio Vargas.
Outro ponto que pesa no coração dos empreendedores é a insegurança. À medida que a noite avança, especialmente após as 23h, o movimento diminui e o medo aumenta. “Fica deserto, a gente não sabe quem está passando. Tem que ficar esperto o tempo todo”, relatou um vendedor.

Mas foi um tema inesperado que uniu quase todos os entrevistados: o impacto das festas juninas, os tradicionais arraiais. Segundo os comerciantes, durante este período as vendas caem de forma brusca. “As pessoas vão para os arraiais, lá tem tudo: comida, música, diversão. E aqui, a praça esvazia. A gente sente demais no bolso”, contou uma vendedora.
Essa realidade revela uma verdade que nem sempre é visível para quem apenas passa: os empreendedores noturnos são a energia que mantém vivas as praças de Rio Branco. Onde há gente trabalhando, há movimento, há cheiro de comida, há música, há encontro. Onde não há, reina o silêncio e a sensação de abandono.

E aqui faço questão de deixar registrada minha percepção como repórter. Passo quase todos os dias em frente à Praça Relógio do Sol e é impossível não notar a diferença entre uma noite cheia e outra vazia.
O empreendedorismo gera um movimento orgânico que transforma o espaço. Quando a praça está cheia de gente trabalhando, o ambiente muda. Parece até outro lugar.
Esses pequenos empreendedores — homens e mulheres — são verdadeiros guerreiros e guerreiras. Alguns estão na informalidade, outros lutam para manter a formalização em dia, pagando taxas e impostos. Mas todos compartilham o mesmo objetivo: fazer o capital girar, sustentar suas famílias e oferecer algo de bom para a cidade.

Um desses exemplos é a Camila, que vende hot dog todos os dias, de segunda a segunda, a partir das 17h30. A barraca dela já virou ponto de encontro. Clientes viraram amigos. Famílias passam por lá não só para comer, mas para viver um momento juntos.
“É cansativo, tem dias fracos, dias de chuva, de medo… mas eu amo estar aqui. Gosto de trabalhar com o público, e saber que as pessoas gostam de voltar já é uma recompensa enorme”, conta ela com orgulho.

Ao observar com atenção, percebemos que não são só lanches, hot dog, espetinhos ou refrigerantes sendo vendidos. São sonhos sendo empurrados noite após noite. São vidas sendo sustentadas. São espaços públicos ganhando alma, ganhando história.
Com essa matéria, o Jornal das 12 reforça um compromisso com quem movimenta a economia local na base da força de vontade. Valorizar o pequeno empreendedor é também valorizar a cidade. São eles que iluminam a noite, aquecem as calçadas e transformam um simples passeio em família em uma lembrança boa.
Que a próxima vez que você passar por uma praça à noite, pare por um instante. Olhe ao redor. Converse. Compre algo. Valorize. Você pode não perceber, mas ali está alguém que, com muito esforço, ajuda a manter viva a alma de Rio Branco.
Por Francisco Mesquita