A nona friagem de 2025 não é só fenômeno meteorológico: é termômetro de como o Acre continua sem estratégia para lidar com extremos climáticos cada vez mais previsíveis.

Um frio que revela mais do que derruba temperaturas
Neste domingo (24), o Acre deve amanhecer sob a nona friagem do ano. O que para muitos pode parecer apenas mais um registro no calendário amazônico, para quem olha de perto é alerta vermelho. Não apenas pelo frio em si — que derruba temperaturas para a casa dos 12 °C em Rio Branco — mas porque o fenômeno expõe, de novo, a falta de preparo estrutural do Estado diante de uma realidade climática que não perdoa amadorismo.
Clima não é surpresa: é previsível
O paradoxo é cruel: friagens sempre existiram na Amazônia Ocidental. O problema é que em 2025, com todos os avanços da ciência meteorológica, ainda reagimos como se cada massa polar fosse um raio em céu azul.
Onde estão os planos municipais de contingência para frio, seca e incêndios? Onde estão as campanhas antecipadas de vacinação contra gripe, a preparação da rede hospitalar para crises respiratórias, a logística de distribuição de cobertores, a proteção das escolas rurais sem isolamento térmico?
A conta cai sempre no povo
Quando o poder público falha, a conta sobra para a população: idosos que enfrentam noites geladas sem suporte, agricultores que veem plantações sofrerem com ventania e baixa umidade, famílias que, em menos de 48 horas, precisam improvisar um inverno em casas sem estrutura.
A friagem é só o gatilho: o pano de fundo é a vulnerabilidade social. E esse filme, todo acreano já conhece de cor — enchentes, queimadas, estiagens e agora, friagens mais longas e intensas.
O que falta é política de Estado, não previsão
Previsão nós temos, até com antecedência de uma semana. O que não temos é um sistema estadual robusto de preparação climática. O Acre ainda trata o clima como se fosse “vontade da natureza”, e não como variável concreta de planejamento público.
Em países que aprenderam a respeitar seus extremos, cada frente fria aciona um protocolo automático: defesa civil, saúde, educação, infraestrutura. Aqui, seguimos na base do improviso.
Conclusão letal
A nona friagem do ano não deveria ser manchete pelo frio, mas pela falta de preparo. O Acre precisa entender que clima não é acidente, é política. Enquanto não houver um plano integrado de resiliência climática — que envolva municípios, governo estadual e união — seguiremos transformando previsibilidade em tragédia anunciada.
O frio de agosto não é apenas meteorológico: é o retrato gelado da nossa paralisia.
✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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