
O dólar comercial registrou forte alta nesta quinta-feira, 10 de julho de 2025, alcançando R$ 5,6213 na máxima do dia, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida, comunicada por carta ao governo brasileiro, gerou turbulência nos mercados, com o Ibovespa caindo 0,70% e ações de empresas como a Embraer despencando mais de 8%. A decisão de Trump, justificada por supostas barreiras comerciais do Brasil, também teve motivações políticas, incluindo críticas ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF. O presidente Lula prometeu retaliar com base na Lei da Reciprocidade Econômica, enquanto analistas alertam para riscos de inflação global e aumento dos juros nos EUA.
A valorização do dólar reflete a incerteza gerada pela tarifa, que deve impactar setores estratégicos como petróleo, aço, café e carne bovina. No mesmo dia, o IPCA de junho confirmou a inflação brasileira acima da meta, com alta de 0,24% no mês e 5,35% em 12 meses, pressionando ainda mais o Banco Central. A medida de Trump, que também enviou cartas com tarifas a outros 22 países, reacende temores de uma guerra comercial global.
- Principais impactos no Brasil:
- Alta do dólar em 0,87%, atingindo R$ 5,5509 às 12h20.
- Queda do Ibovespa, com destaque para a Embraer (-8%).
- Risco de aumento nos custos de produção e preços ao consumidor.
A notícia abalou investidores, que temem os efeitos em cadeia de uma política tarifária agressiva. O mercado agora aguarda a resposta do governo brasileiro e os desdobramentos nas negociações com os EUA.
Reação do mercado financeiro
A imposição da tarifa de 50% por Trump pegou os mercados desprevenidos, intensificando a volatilidade. Por volta das 12h20, o dólar operava a R$ 5,5509, com alta de 0,87%, enquanto o Ibovespa registrava perdas de 0,70%, alcançando 136.3524 pontos. A Embraer, uma das empresas mais expostas aos EUA, liderou as quedas na bolsa, com seus papéis caindo mais de 8%. Segundo a XP Investimentos, 23,8% da receita da companhia vem de vendas ao mercado americano, o que explica a reação imediata dos investidores.
Outras empresas também sentiram o impacto. A Suzano, com 16,6% de sua receita ligada aos EUA, e a Tupy, com 13,9%, aparecem entre as mais vulneráveis. O setor de siderurgia, já afetado por tarifas anteriores de 50% sobre aço e alumínio, enfrenta novas dificuldades. A perspectiva de custos mais altos para exportações preocupa analistas, que preveem reflexos nos preços internos e na competitividade das empresas brasileiras.
O mercado também reagiu ao IPCA de junho, que confirmou a inflação acumulada de 5,35% em 12 meses, acima do teto da meta de 4,50%. A pressão inflacionária no Brasil, combinada com a alta do dólar, pode complicar as decisões do Banco Central, que agora precisa justificar o descumprimento da meta em uma nova carta ao Ministério da Fazenda.

Justificativas de Trump
Na carta enviada ao Brasil, Trump alegou que a tarifa de 50% é uma resposta a práticas comerciais “injustas” do Brasil, que, segundo ele, impõe barreiras significativas às exportações americanas. Ele também citou o déficit comercial dos EUA com o Brasil, que considera insustentável. No entanto, dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que o Brasil registra déficits comerciais com os EUA desde 2009, o que contradiz a narrativa do presidente americano.
A menção ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF, chamado por Trump de “vergonha internacional”, adicionou um tom político à decisão. Economistas, como o Nobel Paul Krugman, destacaram que a tarifa parece ter motivações mais políticas do que econômicas. Krugman lembrou que os EUA já usaram políticas tarifárias para pressionar outros países em contextos políticos delicados.
Trump também sugeriu que as tarifas poderiam ser reduzidas se o Brasil abrisse seus mercados, eliminando barreiras comerciais. Outra proposta foi incentivar empresas brasileiras a produzir diretamente nos EUA, com promessas de agilizar processos para investimentos.
- Pontos levantados por Trump:
- Barreiras comerciais brasileiras como justificativa para a tarifa.
- Déficit comercial dos EUA com o Brasil.
- Incentivo à produção de empresas brasileiras em solo americano.
- Crítica ao julgamento de Bolsonaro no STF.
Resposta do governo brasileiro
O presidente Lula reagiu rapidamente, afirmando que o Brasil não aceitará imposições externas. Ele prometeu retaliar com base na Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso para responder a tarifas unilaterais. A lei permite que o Brasil aplique taxas equivalentes a países que taxem suas exportações, o que pode escalar as tensões comerciais com os EUA.
No entanto, Trump alertou que uma resposta brasileira com tarifas retaliatórias poderia levar a um aumento ainda maior nas taxas americanas. Essa troca de ameaças preocupa o mercado, que teme uma guerra comercial mais ampla. Analistas apontam que a escalada de tarifas pode elevar os preços de produtos importados nos EUA, pressionando a inflação e forçando o Federal Reserve a manter juros altos por mais tempo.
Lula também destacou a importância de proteger os interesses econômicos brasileiros, especialmente em setores como agricultura e indústria, que dependem fortemente do mercado americano. O governo estuda medidas para mitigar os impactos da tarifa, incluindo incentivos fiscais para empresas afetadas e a busca por novos mercados de exportação.
Setores mais afetados
A tarifa de 50% deve atingir em cheio setores estratégicos da economia brasileira. Produtos como petróleo, aço, café e carne bovina, que lideram as exportações para os EUA, enfrentam o risco de perder competitividade. A Embraer, com forte presença no mercado americano, é uma das empresas mais expostas, mas outras companhias também podem sofrer.
- Empresas impactadas, segundo a XP Investimentos:
- Embraer: 23,8% da receita vem dos EUA.
- Suzano: 16,6% da receita ligada ao mercado americano.
- Tupy: 13,9% de exposição aos EUA.
- Jalles Machado: 11% da receita de exportações para os EUA.
- Frasle Mobility: 10,8% de dependência do mercado americano.
Além disso, a siderurgia brasileira, já prejudicada por tarifas anteriores, enfrenta um cenário ainda mais desafiador. O aumento dos custos de exportação pode forçar empresas a reduzir margens de lucro ou repassar preços aos consumidores, o que pode alimentar a inflação interna.
Contexto global das tarifas
A tarifa imposta ao Brasil faz parte de uma estratégia mais ampla de Trump, que, desde o início da semana, enviou cartas a 22 países, estabelecendo taxas mínimas para negociações comerciais. Na segunda-feira, 14 nações receberam notificações com alíquotas entre 25% e 40%. Na quarta-feira, além do Brasil, outros sete países, como Argélia, Filipinas e Sri Lanka, foram notificados.
As cartas seguem um padrão: Trump destaca a necessidade de proteger a economia americana e critica déficits comerciais com parceiros globais. No caso do Brasil, a tarifa de 50% é a mais alta entre as anunciadas até agora, o que coloca o país em uma posição delicada nas negociações.
A política tarifária de Trump reacende temores de uma guerra comercial global. Investidores temem que as taxas elevem os custos de produção em cadeias globais, aumentando preços ao consumidor e pressionando a inflação. Nos EUA, isso pode levar o Federal Reserve a adiar cortes de juros, fortalecendo o dólar e impactando moedas de países emergentes, como o real.
Inflação brasileira em destaque
No mesmo dia do anúncio da tarifa, o IBGE divulgou o IPCA de junho, que registrou alta de 0,24% no mês e 5,35% em 12 meses, superando o teto da meta de 4,50%. Esse resultado reforça a pressão sobre o Banco Central, que já enfrenta críticas pela condução da política monetária.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, deverá enviar uma nova carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos do descumprimento da meta. A alta do dólar, impulsionada pela tarifa de Trump, pode agravar o cenário inflacionário, dificultando o controle de preços no Brasil.
Analistas apontam que a combinação de inflação acima da meta e incertezas externas pode levar o BC a manter ou até elevar a taxa Selic, impactando o custo do crédito e o crescimento econômico.
Negociações adiadas
A suspensão das tarifas por 90 dias, anunciada por Trump na segunda-feira, trouxe um alívio temporário aos mercados. A nova data de início, 1º de agosto, dá aos países notificados um prazo para negociar com os EUA. No entanto, o baixo número de acordos fechados até agora preocupa investidores, que temem uma aplicação generalizada das taxas.
No caso do Brasil, a tarifa de 50% pode ser revista se o país aceitar abrir seus mercados ou eliminar barreiras comerciais, como sugeriu Trump. Porém, a postura firme de Lula, que defende a soberania econômica, sugere que as negociações serão complexas.
Cenário para empresas brasileiras
A tarifa de 50% representa um desafio significativo para empresas brasileiras que dependem do mercado americano. Além da Embraer, companhias como Suzano e Tupy já avaliam estratégias para minimizar perdas, como diversificar mercados ou ajustar preços.
O setor agrícola, que exporta café, carne e outros produtos para os EUA, também está em alerta. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que as tarifas podem reduzir a competitividade de produtos brasileiros, forçando produtores a buscar mercados alternativos, como China e União Europeia.
O governo brasileiro, por sua vez, avalia medidas de apoio, como linhas de crédito e incentivos fiscais, para proteger os setores mais afetados. No entanto, a eficácia dessas ações dependerá da rapidez nas negociações com os EUA e da capacidade de diversificar as exportações.



