Dólar despenca a R$ 5,80 com tensão entre Trump e Powell; Ibovespa avança em dia volátil
A volatilidade marcou os mercados financeiros nesta quinta-feira, 17 de abril, com o dólar comercial registrando forte queda, atingindo R$ 5,80, um recuo de 1,05% em relação ao fechamento anterior, quando a moeda norte-americana encerrou cotada a R$ 5,8645. O movimento reflete a atenção dos investidores às recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em um contexto de incertezas globais impulsionadas pela política tarifária americana. Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, reagiu positivamente, subindo 0,86% e alcançando 129.423 pontos, após uma sessão de perdas na véspera. A dinâmica dos mercados foi influenciada por fatores externos, como a guerra comercial liderada por Trump, e internos, com indicadores econômicos brasileiros mantendo o foco dos agentes financeiros.
O embate entre Trump e Powell ganhou destaque após o presidente americano criticar publicamente a condução da política monetária do Fed, chamando Powell de “atrasado e errado” e pressionando por cortes imediatos nas taxas de juros, atualmente entre 4,25% e 4,50% ao ano. Trump argumentou que as tarifas impostas pelo seu governo, que elevaram os custos de importação, estão enriquecendo os EUA, mas Powell alertou que essas medidas podem complicar o controle da inflação americana, atualmente em 2,9%, acima da meta de 2%. No Brasil, a queda do dólar foi impulsionada por um alívio temporário nas tensões globais, embora o mercado permaneça cauteloso com os impactos das tarifas no comércio internacional.
A bolsa brasileira, por sua vez, encontrou suporte no desempenho de empresas exportadoras, como Vale e Petrobras, que se beneficiaram da valorização de commodities no mercado internacional. O minério de ferro, por exemplo, registrou alta de 1,2% na bolsa de Dalian, na China, enquanto o petróleo Brent avançou 0,8%, cotado a US$ 62 por barril. Esses movimentos ajudaram a contrabalançar as preocupações com a política tarifária americana, que tem gerado temores de uma desaceleração econômica global. No cenário doméstico, a expectativa por novos dados econômicos, como o IPCA-15 de abril, também influenciou as negociações, com analistas prevendo uma inflação de 5,7% no acumulado de 12 meses.
A queda do dólar para R$ 5,80 reflete um movimento global de enfraquecimento da moeda americana, com o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, recuando 0,70%. Esse cenário foi impulsionado pela cautela dos investidores diante da escalada nas tensões comerciais lideradas pelos Estados Unidos. Desde o início de 2025, Trump intensificou sua agenda protecionista, impondo tarifas de até 245% sobre produtos chineses e taxas de 10% a 25% sobre importações de outros países, incluindo Brasil, Canadá e México. Essas medidas geraram retaliações, com a China aplicando tarifas de 84% sobre produtos americanos e a União Europeia anunciando taxas de 25% a partir de 15 de abril.
A guerra comercial tem elevado as incertezas sobre o crescimento econômico global. Analistas apontam que o aumento das tarifas encarece produtos importados, pressiona a inflação e reduz o consumo, podendo levar a uma recessão em grandes economias. Nos Estados Unidos, a inflação de 2,9% em março já acende alertas, e Powell indicou que o Fed pode manter os juros inalterados na próxima reunião, marcada para 6 e 7 de maio, até que haja maior clareza sobre os impactos das tarifas. No Brasil, o real se beneficiou da desvalorização global do dólar, mas a proximidade comercial com a China, principal parceiro do país, mantém os investidores atentos aos desdobramentos.
O Brasil, como exportador de commodities, enfrenta um cenário ambíguo. Por um lado, a valorização do minério de ferro e do petróleo impulsiona empresas como Vale e Petrobras, que respondem por grande parte do Ibovespa. A Vale, por exemplo, viu suas ações subirem 1,5% na sessão, enquanto a Petrobras avançou 0,9%. Por outro, as tarifas americanas, que incluem uma taxa de 10% sobre produtos brasileiros, podem reduzir a competitividade de setores como aço e alumínio no mercado americano. Em 2024, os Estados Unidos foram o destino de 13% das exportações brasileiras, totalizando US$ 39 bilhões, segundo o Ministério da Economia.
Além disso, a guerra comercial pode impactar indiretamente o Brasil por meio da China, que absorve 27% das exportações brasileiras, especialmente soja e minério de ferro. A imposição de tarifas de 245% pelos EUA sobre produtos chineses deve reduzir a demanda chinesa por insumos, afetando as exportações brasileiras. Para mitigar esses riscos, o governo brasileiro, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, anunciou negociações com os EUA para buscar acordos comerciais que minimizem os impactos das tarifas. Alckmin destacou a importância de uma relação “ganha-ganha” com os americanos, especialmente no setor de aço.
O mercado interno também enfrenta desafios. A inflação brasileira, que acumula alta de 5,06% em 12 meses até março, pressiona o Banco Central a manter a Selic em 14,25% ao ano, após cinco altas consecutivas. A ata do Copom, divulgada em 25 de março, indicou que uma nova alta, de menor magnitude, é esperada para a reunião de maio. O aumento dos juros encarece o crédito e pode desacelerar a economia, mas é visto como necessário para conter a inflação, que deve fechar 2025 em 5,58%, segundo o Boletim Focus.
Os mercados globais operaram em terreno misto, com as bolsas asiáticas fechando majoritariamente em baixa, exceto na China, onde o índice CSI300 subiu 1,2% após intervenções estatais para estabilizar o mercado. Na Europa, o índice STOXX 600 recuou 0,8%, refletindo preocupações com as tarifas americanas e a desaceleração econômica na zona do euro. Em Wall Street, o S&P 500 caiu 0,5%, enquanto o Nasdaq avançou 0,3%, impulsionado por empresas de tecnologia menos expostas ao comércio internacional.
A volatilidade nos mercados foi amplificada por rumores de uma possível pausa nas tarifas de Trump, que chegou a ser mencionada por assessores da Casa Branca, mas foi desmentida em 7 de abril. A incerteza sobre as negociações comerciais, especialmente com a China, mantém os investidores em alerta. O governo chinês, por meio do ministro do Comércio, Wang Wentao, afirmou que está preparado para “lutar até o fim”, acusando os EUA de sabotarem as regras do comércio internacional.
No Brasil, o Ibovespa conseguiu se descolar parcialmente do pessimismo global, apoiado pelo desempenho de setores ligados a commodities. Além da Vale e da Petrobras, empresas como Suzano e Klabin, do setor de papel e celulose, registraram ganhos de 1,3% e 1,1%, respectivamente, beneficiadas pela valorização do dólar em semanas anteriores. Bancos, como Itaú Unibanco e Bradesco, também contribuíram para a alta do índice, com avanços de 0,7% e 0,5%.
No cenário interno, a atenção dos investidores se voltou para os próximos indicadores econômicos. O IPCA-15 de abril, a ser divulgado na próxima terça-feira, é aguardado com expectativa, já que pode influenciar as decisões do Banco Central. Economistas projetam uma inflação mensal de 0,45%, puxada por alimentos e combustíveis. Outro dado relevante é o Caged, que será publicado na quarta-feira, com estimativas de criação de 120 mil vagas formais em março, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2024.
O mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego em 6,5% no trimestre encerrado em janeiro, reforça a percepção de dinamismo econômico, mas também acende alertas sobre pressões inflacionárias. Mais empregos geram maior renda, o que estimula o consumo e dificulta a convergência da inflação para a meta de 3%. Nesse contexto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu uma política monetária cautelosa, alertando que aumentos excessivos nos juros podem levar a uma recessão.
A aprovação do Orçamento de 2025, em 21 de março, também trouxe alívio ao mercado. O texto prevê um superávit primário de R$ 15 bilhões, com R$ 50 bilhões destinados a emendas parlamentares e R$ 27,9 bilhões para reajustes salariais de servidores. Apesar disso, a dívida bruta do Brasil subiu para 78,2% do PIB em fevereiro, segundo o Banco Central, o que mantém as preocupações com a sustentabilidade fiscal.
Os próximos dias prometem manter a volatilidade nos mercados, com os investidores monitorando de perto as negociações comerciais entre EUA, China e outros parceiros. A possibilidade de acordos bilaterais, como os sinalizados por Alckmin com os EUA, pode trazer alívio temporário, mas a falta de clareza sobre a extensão das tarifas mantém o cenário incerto. No front doméstico, os dados de inflação e emprego serão cruciais para definir as expectativas sobre a política monetária do Banco Central.
A valorização das commodities, que impulsionou o Ibovespa, pode continuar a oferecer suporte à bolsa brasileira, mas analistas alertam que uma queda na demanda global, especialmente da China, pode reverter esses ganhos. Para o dólar, a tendência de curto prazo depende do comportamento do DXY e das decisões do Fed, que enfrenta pressões de Trump para reduzir os juros e preocupações internas com a inflação.
O desempenho do Ibovespa também será influenciado por empresas de peso, como Vale, Petrobras e bancos, que respondem por cerca de 40% do índice. A temporada de balanços do primeiro trimestre, que começa na próxima semana, trará mais clareza sobre o impacto das tarifas e da alta dos juros nos resultados corporativos. Até lá, o mercado deve continuar reagindo a cada nova declaração de Trump ou Powell, em um ambiente de elevada sensibilidade a notícias.