Do Oscar ao streaming: Conclave ganha destaque com morte de Papa e revela segredos do Vaticano
A morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025, trouxe ao centro das atenções um dos eventos mais emblemáticos da Igreja Católica: o conclave, reunião secreta dos cardeais para eleger o novo pontífice. Por uma coincidência marcante, o filme Conclave, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2025, chegou ao streaming apenas seis dias antes, em 16 de abril, e desde então registrou um aumento de 283% em sua audiência. Dirigido por Edward Berger e estrelado por Ralph Fiennes, Stanley Tucci, Isabella Rossellini e John Lithgow, o longa retrata com riqueza de detalhes o processo de escolha de um papa, misturando fatos históricos com elementos fictícios que capturam a imaginação do público. Gravado nos estúdios Cinecittà, em Roma, com uma réplica fiel da Capela Sistina, o filme combina precisão técnica com uma narrativa envolvente, repleta de intrigas e segredos.
A produção, baseada no livro homônimo de Robert Harris, publicado em 2016, mergulha no universo político e espiritual do Vaticano, explorando as tensões entre cardeais progressistas e conservadores. Embora o contexto da morte de Francisco tenha impulsionado o interesse pelo filme, a trama fictícia apresenta diferenças significativas em relação ao processo real, que já está em curso para a escolha do próximo líder da Igreja Católica. O aumento na procura por Conclave reflete a curiosidade global sobre esse ritual milenar, que combina tradição, sigilo e poder. Nos últimos dias, a obra também voltou a ser exibida em algumas salas de cinema, embora em circuito limitado, reforçando sua relevância no atual momento histórico.
Além do sucesso nas plataformas de streaming, como o Prime Video, Conclave se destacou na temporada de premiações, recebendo indicações em categorias como Melhor Filme, Melhor Ator para Ralph Fiennes e Melhor Atriz Coadjuvante para Isabella Rossellini. A combinação de um elenco estelar, uma direção primorosa e um tema que ressoa com a atualidade transformou o filme em um fenômeno cultural, especialmente após os eventos recentes no Vaticano. Este texto explora as verdades e mentiras apresentadas na produção, detalhando o que corresponde à realidade do conclave e o que foi criado para intensificar o drama cinematográfico.
O processo de escolha de um novo papa, conforme mostrado em Conclave, é um dos pontos mais fiéis à realidade. Os cardeais elegíveis, todos com menos de 80 anos, reúnem-se na Capela Sistina, em Roma, após a morte ou renúncia do pontífice. O local é isolado do mundo exterior, com portas trancadas e janelas cobertas, garantindo total sigilo. Durante o conclave, os cardeais não podem usar telefones, acessar a internet ou manter qualquer comunicação com pessoas de fora. As votações ocorrem em sessões diárias, com até quatro escrutínios por dia – dois pela manhã e dois à tarde. Cada voto é registrado em cédulas de papel, e o candidato precisa alcançar dois terços dos votos para ser eleito.
A queima das cédulas após cada votação é outro aspecto retratado com precisão. Quando não há consenso, produtos químicos são adicionados para produzir uma fumaça preta, visível pelas chaminés da Capela Sistina, sinalizando que o processo continua. Quando um novo papa é escolhido, a fumaça branca anuncia a decisão ao mundo, acompanhada do famoso pronunciamento “Habemus Papam”. Esse ritual, carregado de simbolismo, permanece praticamente inalterado há séculos e é um dos elementos mais fascinantes do conclave, tanto na vida real quanto no filme.
Outro ponto verdadeiro é o uso do latim como idioma oficial durante o processo. Todas as cerimônias, votos e documentos formais são conduzidos em latim, a língua litúrgica da Igreja Católica. As orações que abrem e encerram o conclave, assim como os juramentos de sigilo feitos pelos cardeais, seguem esse padrão. Mesmo as conversas informais entre os cardeais podem incluir expressões em latim ou italiano, refletindo a tradição e a universalidade da instituição. Conclave capta essa atmosfera com diálogos que reforçam o peso histórico do momento.
A política interna da Igreja Católica é um elemento central em Conclave, e isso também encontra eco na realidade. Os cardeais, vindos de diferentes continentes e contextos culturais, frequentemente têm visões divergentes sobre o futuro da Igreja. Alguns defendem uma abordagem mais progressista, com ênfase em questões como inclusão, diálogo inter-religioso e adaptação aos tempos modernos. Outros, mais conservadores, priorizam a preservação da doutrina tradicional e a resistência a mudanças. Essas divisões, embora mantidas em segredo, influenciam as negociações e alianças formadas durante o conclave.
Historicamente, alguns conclaves foram marcados por longos períodos de deliberação devido a essas tensões. Em 1903, a eleição do Papa Pio X levou cinco dias, com disputas entre facções que buscavam influenciar o resultado. Da mesma forma, em 1831, a escolha do Papa Gregório XVI exigiu 50 dias de debates intensos. Embora Conclave exagere o drama dessas disputas para fins narrativos, a existência de um jogo político discreto é inegável. Os cardeais, afinal, são humanos e trazem consigo suas convicções, experiências e, em alguns casos, ambições.
O filme também acerta ao mostrar a pressão psicológica sobre os cardeais. Isolados do mundo, eles enfrentam longas horas de reflexão, oração e discussão, sabendo que sua decisão afetará milhões de fiéis. Esse clima de tensão, agravado pela responsabilidade de escolher um líder global, é um aspecto que ressoa com relatos históricos de conclaves passados. A combinação de espiritualidade e política torna o processo único, e Conclave aproveita essa dualidade para criar uma narrativa envolvente.
Apesar de sua fidelidade em muitos aspectos, Conclave toma liberdades criativas para intensificar o suspense e o impacto emocional. Um dos elementos mais marcantes é a presença de reviravoltas dramáticas, como traições, segredos pessoais dos cardeais e conspirações que abalam o processo. Na realidade, o conclave é um evento altamente controlado, com regras rígidas que minimizam a possibilidade de escândalos públicos. Embora desentendimentos possam ocorrer, é improvável que cheguem ao nível de revelações sensacionalistas retratadas no filme.
Outro ponto fictício é a figura do cardeal “in pectore”, um personagem que alega ter sido nomeado secretamente pelo papa anterior. Na prática, um cardeal “in pectore” – termo que significa “no coração” em latim – é alguém escolhido pelo papa, mas cuja identidade é mantida em segredo, geralmente por razões políticas ou de segurança. Contudo, para que esse cardeal participe de um conclave, sua nomeação deve ser formalizada antes da morte do pontífice. A aparição surpresa de um cardeal secreto, como ocorre no filme, é uma licença poética que não encontra respaldo nos procedimentos reais.
A inclusão de uma carta deixada pelo papa falecido, revelando segredos que impactam o conclave, também é uma invenção. Embora papas possam deixar documentos ou instruções para seus sucessores, esses papéis raramente contêm revelações bombásticas. O foco do conclave é a eleição do novo líder, e quaisquer questões pessoais ou administrativas são tratadas em outros contextos. Essas adições, embora eficazes para o cinema, distanciam a narrativa da sobriedade do processo real.
A produção de Conclave impressiona pelo cuidado com os detalhes visuais e históricos. As filmagens, realizadas nos estúdios Cinecittà, em Roma, incluíram a construção de uma réplica exata da Capela Sistina, com seus afrescos icônicos e arquitetura imponente. Cada elemento, desde os tronos dos cardeais até as urnas de votação, foi projetado para refletir a autenticidade do ambiente real. O figurino, indicado ao Oscar, também contribuiu para a imersão, com vestes clericais que respeitam as tradições do Vaticano.
O diretor Edward Berger, conhecido por seu trabalho em All Quiet on the Western Front, trouxe uma abordagem meticulosa ao projeto. Ele colaborou com historiadores e consultores eclesiásticos para garantir que os aspectos técnicos do conclave fossem representados com precisão. A trilha sonora, composta por Volker Bertelmann e também indicada ao Oscar, adiciona uma camada de tensão e solenidade, complementando a narrativa. Esses elementos técnicos elevaram Conclave a um patamar de excelência, reconhecido tanto pela crítica quanto pelo público.
A escolha de um elenco internacional reforça a universalidade do tema. Ralph Fiennes, no papel do cardeal Thomas Lawrence, entrega uma atuação poderosa, marcada por nuances que capturam a complexidade de um líder religioso em crise. Stanley Tucci, Isabella Rossellini e John Lithgow completam o time com interpretações que dão vida às dinâmicas de poder e fé. A química entre os atores, aliada à direção de Berger, faz de Conclave uma obra que transcende o gênero de thriller religioso.
A morte do Papa Francisco trouxe uma nova camada de relevância a Conclave. Desde o anúncio de seu falecimento, o filme registrou um aumento exponencial em sua audiência, com 283% mais visualizações no Prime Video em apenas uma semana. Esse fenômeno reflete o interesse renovado do público em compreender o conclave, especialmente em um momento em que o processo está prestes a ocorrer na vida real. A volta do filme a algumas salas de cinema, embora em circuitos limitados, também evidencia sua conexão com os acontecimentos atuais.
A Igreja Católica, com seus 1,4 bilhão de fiéis, permanece uma das instituições mais influentes do mundo, e o conclave é um de seus rituais mais simbólicos. A cobertura midiática sobre a morte de Francisco e as especulações sobre seu sucessor intensificaram a procura por conteúdos relacionados ao Vaticano. Conclave, com sua mistura de factualidade e ficção, tornou-se uma porta de entrada para o público leigo, oferecendo uma visão dramatizada, mas fundamentada, desse processo enigmático.
O filme também gerou debates sobre a modernização da Igreja. Temas abordados na trama, como a divisão entre progressistas e conservadores, ecoam discussões reais sobre o futuro do catolicismo. Embora a narrativa fictícia exagere certos conflitos, ela levanta questões pertinentes sobre o papel da Igreja em um mundo em rápida transformação. Esse diálogo, amplificado pela morte de Francisco, posiciona Conclave como uma obra de impacto cultural duradouro.
O conclave é um evento que varia em duração e complexidade, dependendo do contexto histórico. Alguns conclaves modernos foram rápidos, enquanto outros demandaram mais tempo devido a divisões internas. Abaixo, uma lista com os conclaves mais recentes e suas durações:
Essa cronologia mostra que os conclaves modernos tendem a ser mais breves, refletindo uma maior organização e consenso entre os cardeais. No entanto, o conclave de 2025, iniciado após a morte de Francisco, pode enfrentar desafios únicos devido às tensões globais e às expectativas por um papa que equilibre tradição e inovação.
Conclave conquistou a crítica com sua narrativa envolvente e sua abordagem respeitosa, mas ousada, ao tema religioso. A vitória na categoria de Melhor Roteiro Adaptado no Oscar de 2025 foi um marco, destacando a habilidade de Peter Straughan em transformar o livro de Robert Harris em um thriller cinematográfico. As indicações em outras categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem, reforçam a qualidade técnica da produção.
Ralph Fiennes, cuja atuação foi elogiada por sua intensidade e sutileza, tornou-se um dos favoritos na categoria de Melhor Ator. Isabella Rossellini, com um papel coadjuvante marcante, também recebeu aclamação por sua presença magnética. A direção de arte, responsável pela recriação da Capela Sistina, foi amplamente celebrada, assim como o figurino, que capturou a pompa e a tradição do Vaticano. Esses elementos consolidaram Conclave como uma das produções mais prestigiadas do ano.
A recepção do público, por sua vez, foi igualmente positiva. No Prime Video, o filme alcançou altas avaliações, com muitos espectadores destacando sua capacidade de educar e entreter ao mesmo tempo. A combinação de um tema atual, uma produção impecável e um elenco de peso garantiu o sucesso de Conclave em múltiplas frentes.
A coincidência entre o lançamento de Conclave no streaming e a morte do Papa Francisco transformou o filme em um fenômeno cultural. Sua capacidade de capturar a essência de um ritual milenar, ao mesmo tempo em que adiciona elementos de suspense, fez dele uma obra acessível tanto para fiéis quanto para o público secular. A narrativa, embora fictícia em muitos aspectos, oferece uma janela para o funcionamento interno do Vaticano, um mundo que permanece envolto em mistério para muitos.
O aumento de 283% na audiência reflete não apenas a curiosidade sobre o conclave, mas também o poder do cinema em contextualizar eventos históricos. Enquanto o mundo acompanha a escolha do próximo papa, Conclave continuará a ser uma referência, tanto por sua relevância temática quanto por sua excelência artística. A obra prova que histórias bem contadas, mesmo quando misturam fato e ficção, têm o poder de iluminar aspectos complexos da experiência humana.
O impacto do filme também se estende às discussões sobre o futuro da Igreja Católica. Em um momento em que o catolicismo enfrenta desafios como a secularização, as tensões internas e a necessidade de diálogo com outras religiões, Conclave levanta questões sobre liderança e mudança. Embora o drama exagerado seja uma licença criativa, os temas subjacentes ressoam com as inquietações de milhões de fiéis e observadores.