Jorge Natal, especial para o AcreNews
A bela e exuberante cidade de Cruzeiro do Sul ainda é um rincão na Amazônia. Palco da Revolução Acreana e do Movimento Autonomista, a cidade abrigou alguns coronéis de barranco. Esse termo foi usado para designar os proprietários de terra que detinham poder político e econômico durante o ciclo da borracha. Eles coagiam os subordinados a votar em seus candidatos, mantendo-se no poder.
Diferentemente das demais colonizações, a região do Juruá criou a política do compadrio, ou seja, o coronel dava uma índia paro o seringueiro e este, em agradecimento, chamava-o para ser o padrinho de seu casamento, bem como dos filhos que viria a ter. O mais famoso deles foi o Coronel Mâncio Lima, que dá nome ao município mais ocidental do Brasil e que, segundo alguns historiadores, teria escravizado o povo da etnia Puyanawa.
O maior herdeiro desse legado, que já se autointitulou “Leão do Juruá”, é o ex-prefeito Vagner Sales. De acordo com o site Jusbrasil, mais de 90 processos mencionam o seu nome. Inelegível, agora restou-lhe lançar os filhos para concorrer à prefeitura. E foram duas derrotas consecutivas para o atual prefeito Zequinha Lima, de 56 anos, que, por ironia do destino, vem a ser filho de agricultores juruaenses.
Bastante questionado em seus dois primeiros anos de mandato, o atual prefeito agora é considerado um bom gestor e desponta como um dos principais líderes políticos da região. O Papo de Domingo foi ao gabinete dele, localizado no bairro Miritizal, para uma conversa franca e rápida. “Melhoramos os serviços essenciais, estamos fazendo obras estruturantes e vamos gerar emprego e renda para a nossa gente”, declarou. Veja a entrevista:
Acre News – Como o senhor avalia a sua primeira gestão?
Zequinha Lima – Acho que deixamos a nossa marca na história, ou seja, fizemos grandes realizações. Além disso, houve mudanças estruturais em Cruzeiro do Sul, desde a parte administrativa até a execução de obras importantes, tanto na cidade como na zona rural. Foi uma gestão desafiadora, mas positiva. Vale lembrar que houve dois anos de pandemia e que tivemos que nos reinventar em vários aspectos. Salvar vidas foi uma experiência que vamos levar para o resto de nossa vida. Modernizamos e agilizamos a parte administrativa, bem como criamos planos de cargos e salários para os servidores. Fizemos o asfaltamento de ruas e valorizamos a agricultura familiar, principalmente incentivando a produção vocacional, além de criarmos as bases para desenvolvimento da cultura do café. Já temos mais de R$ 3 milhões e vamos beneficiar mais de cem famílias, com um ou dois hectares desta cultura. Vamos preparar o solo e distribuir o calcário, as mudas e o fertilizante, por um período do um ano, além da disponibilização da equipe técnica. Por fim, nós ganhamos alguns prêmios na área da saúde e no recolhimento e na destinação do lixo. Isso é o reconhecimento de um trabalho.
Acre News – O senhor teve muitas idas e vindas a Brasília à procura de recursos. O que tem para gastar nesses próximos quatro anos?
Zequinha Lima – Só para o porto temos um recurso de R$ 50 milhões, que foi oriundo das emendas parlamentares do senador Petecão e do deputado Barbary. Vamos licitar essa obra, se Deus quiser, ainda neste semestre e iniciar ainda neste ano. Vamos oferecer um porto à altura de Cruzeiro do Sul. Depois disso, vamos fazer toda a parte da orla. Será um ambiente onde as famílias possam se encontrar. Temos também a obra da Avenida Copacabana e a Casa do Trabalhador Rural, que é algo inédito no município. Quando o agricultor vier à cidade e não puder vender todos os seus produtos, ele terá um local para se hospedar com café, almoço e janta. O mesmo se aplica quando ele vier fazer um tratamento de saúde. Aliás, é bom lembrar que o local será próximo ao centro de saúde. Temos ainda mais de R$ 50 milhões em obras sendo ou esperando serem executadas. Durante muito tempo não houve parcerias do município com o estado. No entanto, agora, isso é uma realidade, ou seja, o governador Gladson Cameli é um grande parceiro.
Acre News – O senhor fez um calendário de eventos e a cidade fica bastante movimentada. Qual é o retorno disso para as famílias que precisam de renda?
Zequinha Lima – A gente tem procurado valorizar a cultura e a economia locais. As pessoas estão vindo e ganhando o seu dinheiro. O Festival da Farinha deixou de ser uma festa pequena e virou um grande evento, que tivemos que levá-la para a Arena do Juruá. É uma grande oportunidade de empresas novas virem a se instalar em Cruzeiro do Sul. Além disso, estamos fortalecendo a economia local das empresas que já estão aqui. Também promovemos o comércio de comidas típicas da nossa região. E o que é mais importante: as pessoas de fora vêm. Estão promovendo a nossa cidade.
Acre News – Qual foi a sua principal promessa de campanha?
Zequinha Lima – O nosso principal compromisso de campanha foi asfaltar 50 quilômetros dentro da cidade. Temos uma demanda de cerca de 70. Ainda neste ano vamos fazer 12 quilômetros de ruas. É importante frisar que, quando chega o asfalto, ele não chega sozinho, uma vez que vem drenagem, bueiros, meio-fio, iluminação e água tratada. Isso é dignidade, e casas e seus terrenos são valorizados. Além disso, vamos revitalizar a Avenida Copacabana, que é uma rua comercial e das mais antigas da cidade. Ela apresenta muitas deficiências, principalmente no período das chuvas. Também vamos construir o Mirante do Morro da Glória, que é um espaço que as pessoas vão tirar fotos com o fundo da Catedral. Será mais um local turístico da cidade.
Acre News – O senhor ganhou a eleição por uma diferença de 197 votos. Comente sobre isso?
Zequinha Lima – Eu nunca parei para pensar qual foi o principal fator. Mas eu sempre costumo trabalhar com a verdade. Nem sempre quem está na política faz isso. E às vezes as pessoas acreditam na mentira. Eu sempre morei aqui e nunca precisei me afastar para nada. Eu sempre amei esta cidade. Eu não sou de aparecer só em períodos de eleição. As mentiras fizeram com que as pessoas confundissem as propostas. Por falar nisso, a nossa plataforma, ou plano de governo, foi construído ouvindo as pessoas. E a minha gestão também é compartilhada. E eu tenho certeza absoluta de que, nos próximos quatros, iremos fazer muito mais.
Acre News – O Progressistas do Acre é o maior do país, proporcionalmente falando. A que o senhor atribui a esse fenômeno?
Zequinha Lima – O partido cresceu porque tem um bom comandante. Esse comandante é o governador Gladson Cameli. Esse crescimento muito se deve a ele, que é o grande protagonista desse êxito, principalmente nas últimas eleições municipais. O apoio dele foi decisivo. O partido só é grande porque tem um governador popular e que ajuda a todos. E a outra razão é o trabalho que os prefeitos fizeram e fazem. Eu tenho formação partidária. E valorizo muito as decisões das nossas instâncias. Aqui o partido e os aliados foram muito importantes.
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