ONDE FOI PARAR O EXTRATO? A FARSA DO SUBSÍDIO DO TRANSPORTE COLETIVO EM RIO BRANCO E A URGÊNCIA POR CLAREZA.
A pauta política de Rio Branco tem sido dominada por um tema que esmaga o bolso e a paciência do cidadão: o transporte coletivo. Se na semana anterior a denúncia era sobre a “saga dos ônibus quebrados,” hoje o foco se volta para a raiz do problema: a polêmica envolvendo o aumento do subsídio repassado pela Prefeitura às empresas de ônibus. O debate na Câmara Municipal expôs uma ferida aberta na administração pública: a falta de transparência na gestão de recursos que, teoricamente, deveriam garantir a qualidade do serviço.
O subsídio, que é dinheiro público retirado dos cofres municipais, tem um propósito claro e nobre: atuar como um amortecedor financeiro. Ele visa cobrir parte dos custos operacionais das concessionárias—como combustível, manutenção e salários—para evitar que o preço da tarifa dispare, tornando-a acessível à população. No entanto, o que se vê na prática é uma contradição revoltante. Enquanto o valor repassado às empresas cresce, a qualidade do serviço desaba. Ônibus velhos e sucateados continuam a circular, quebrando em plena via, expondo passageiros ao sol e ao risco, além de atrasos que comprometem a rotina de milhares de trabalhadores e estudantes.
A crítica central, levantada por vozes da oposição e amplificada pela insatisfação popular, reside na opacidade com que este aumento de subsídio foi tratado. Vereadores denunciam manobras e a dificuldade em obter extratos e planilhas detalhadas que justifiquem o destino exato da verba. Não se trata de questionar a necessidade do subsídio em si – que pode ser uma ferramenta legítima para equilibrar as contas – mas sim de exigir a prova de que este recurso está sendo investido na melhoria da frota e na expansão das linhas, e não apenas inflando o lucro das concessionárias. Esta falta de transparência transforma um instrumento de política pública em uma caixa-preta de difícil acesso.
A Lei da Transparência não é uma sugestão; é uma obrigação constitucional que impõe a publicidade e a clareza na aplicação de todo e qualquer recurso público. Quando documentos essenciais são dificultados, arquivados sob sigilo injustificado ou apresentados de forma vaga e incompleta, a administração falha duplamente: primeiro, ao não garantir um serviço de qualidade (a ineficácia do subsídio), e segundo, ao desrespeitar o direito fundamental do cidadão de fiscalizar como seu dinheiro está sendo gasto.
O termo “manobra” tem circulado nos corredores da Câmara, sugerindo que o processo foi acelerado para desviar o foco da crise do transporte. A população de Rio Branco precisa de respostas concretas. Precisa saber se o dinheiro está comprando pneus novos, investindo em veículos com ar-condicionado e ampliando a cobertura para bairros periféricos, ou se está apenas servindo para maquiar déficits ou garantir dividendos. A falta de prestação de contas permite que o serviço continue ruim enquanto as empresas recebem, criando um ciclo vicioso de ineficiência financiada pelo contribuinte.
A exigência de auditoria e prestação de contas rigorosa não é um ato político, mas um imperativo moral e administrativo que toca na responsabilidade e dignidade do cidadão. O rio-branquense, que paga impostos e sofre diariamente com o mau serviço, merece ter a certeza de que o subsídio não é um prêmio à ineficiência, mas sim um investimento estratégico com retorno tangível em mobilidade urbana. A pressão deve continuar até que os extratos sejam abertos e a verdadeira rota do dinheiro seja revelada, colocando, finalmente, a Lei da Transparência em prática. A fiscalização popular é a única via para desatar esse nó e garantir que a saga dos ônibus quebrados chegue ao fim e que os recursos públicos sejam usados para servir a população, e não apenas o lucro privado.
