A crise hídrica em Rio Branco expõe o improviso da gestão e a responsabilidade que também é nossa.
📍 Rio Branco – AC | Atualizado em 30/09/2025
Em Rio Branco, a estiagem deixou de ser exceção para virar rotina. O Rio Acre baixou, as torneiras secaram, os baldes viraram moeda de sobrevivência e os discursos oficiais, mais uma vez, encheram mais que qualquer caixa d’água. A cada ano, a cena se repete com nova maquiagem, mas o roteiro é sempre o mesmo: promessa em alta, planejamento em baixa.
A política do improviso
Aqui, toda seca é tratada como se fosse a primeira. Autoridade corre para coletiva, anuncia “medidas emergenciais” e posa ao lado de um carro-pipa. É uma encenação que se renova a cada setembro, como novela reprisada em horário nobre. O final, porém, o leitor já sabe: a água some, e a gestão segue improvisando.
É como se o improviso fosse política pública. Em vez de planejamento, vêm justificativas. Em vez de obras estruturantes, vêm discursos de ocasião. Enquanto isso, o povo se adapta como pode: balde na cabeça, mangueira atravessada na rua, banho de cuia e café reaproveitado.
O que se sabe até agora
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O Rio Acre permanece abaixo da cota de segurança.
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A estiagem já compromete escolas, hospitais e bairros inteiros.
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Carros-pipa não suprem a demanda e, muitas vezes, chegam “evaporados”.
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Segundo a previsão, a chuva só retorna em novembro.
Reflexo do descaso
A seca não é surpresa — todo ano ela dá as caras com pontualidade britânica. Surpresa mesmo seria encontrar um gestor preparado. O que falta em água, sobra em desculpa. “Não houve previsão”, “o sistema é antigo”, “a culpa é do clima”. Sempre existe um culpado externo, raramente um responsável interno.
O rio, esse sim, não engana: baixa e mostra tudo que a cidade insiste em esconder. Sofá, bicicleta, geladeira, fogão — não é apenas entulho, é metáfora. O Rio Acre é o espelho da nossa cultura de jogar problema na correnteza e torcer para que desapareça.
O humor que cansa
O acreano é criativo. Improvisa banho de cuia, faz fila na casa do vizinho e até transforma mangueira em ponte. Dá para rir, até certo ponto. Depois de alguns dias, o humor perde a graça, e o improviso cobra caro.
Ironia das ironias: em plena Amazônia, onde a chuva é marca registrada, a capital aprende a viver como se fosse sertão. O que nos falta não é recurso natural. É gestão — e, sejamos honestos, também consciência coletiva.
Perguntas rápidas, respostas diretas
As dúvidas que sempre retornam são simples: por que a seca pega Rio Branco de surpresa todo ano? Porque planejamento, por aqui, virou mito urbano. O que poderia mudar esse cenário? Investimento real, diversificação de mananciais e menos coletiva de imprensa, mais entrega concreta.
Quando o rio baixa, a realidade aparece
E não é só a gestão que falha — nós também temos parcela de culpa. O sofá e a geladeira não caíram sozinhos no leito do rio. Foi a sociedade que tratou o manancial como depósito. Da mesma forma, o desperdício que escorre pela torneira enquanto o vizinho raciona na cuia não é culpa de político. É nosso.
Sim, o poder público é mestre no improviso, mas nós também nos acostumamos com a acomodação. A estiagem expõe o problema duplo: falta responsabilidade lá em cima e sobra descuido aqui embaixo.
Conclusão
A crise hídrica em Rio Branco não é apenas climática. É política, social e cultural. A natureza cumpre seu ciclo: seca no verão, cheia no inverno. Já a gestão insiste em não cumprir o seu, e a população muitas vezes prefere reclamar sem mudar hábitos.
Enquanto isso, seguimos no improviso: transformando balde em coroa, mangueira em ponte e carro-pipa em milagre sobre rodas. Rimos para não chorar, mas a verdade é que improviso não enche caixa-d’água. E cada vez que repetimos esse roteiro, quem paga a conta — salgada e sem desconto — é sempre o mesmo: o cidadão.
💬 E você, vizinho: vai esperar o carro-pipa ou já entendeu que a próxima seca não perdoa nem a nossa própria falta de responsabilidade?
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Por Eliton Lobato Muniz — Free Lancer – Cidade AC News
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