Copom eleva Selic a 14,75% e pressiona economia com maior taxa em 19 anos
A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciada em 7 de maio de 2025, marcou um novo capítulo na política econômica brasileira. A taxa Selic, referência para os juros no país, foi elevada de 14,25% para 14,75% ao ano, um ajuste de 0,5 ponto percentual. Esse movimento, o sexto aumento consecutivo, colocou a taxa no maior patamar desde julho de 2006, quando os juros alcançaram 15,25% ao ano. A medida reflete a tentativa do Banco Central de conter pressões inflacionárias em um cenário de incertezas globais e desafios fiscais domésticos.
O aumento da Selic ocorre em um momento delicado para a economia brasileira. A guerra comercial liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem gerado turbulências no mercado global, impactando diretamente o Brasil. Além disso, a política fiscal expansionista, com elevados gastos públicos, contribui para a persistência da inflação. O Copom destacou a necessidade de cautela, sinalizando que o ciclo de aperto monetário pode continuar, dependendo dos próximos indicadores econômicos.
Fatores que justificam a alta da Selic incluem:
A decisão, embora esperada por analistas do mercado financeiro, reacende debates sobre os efeitos dos juros altos no crescimento econômico e no bolso dos brasileiros.
O salto da Selic para 14,75% ao ano posiciona o Brasil como o terceiro país com os maiores juros reais do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia, segundo rankings econômicos recentes. Esse nível de juros não era visto desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, quando a economia global enfrentava condições bem distintas. Naquela época, o Brasil ainda lidava com instabilidades macroeconômicas herdadas de décadas anteriores. Hoje, o contexto é marcado por uma combinação de choques externos e desequilíbrios internos.
A reunião do Copom, presidida por Gabriel Galípolo, foi marcada por uma análise detalhada do cenário econômico. O comitê observou que a inflação acumulada nos últimos 12 meses segue acima do teto da meta, fixada em 4,5% pelo sistema de metas contínuas adotado em 2025. Projeções do mercado apontam que a inflação oficial, medida pelo IPCA, deve fechar o ano em 5,53%, com estimativas de 4,51% para 2026 e 4% para 2027. Esses números indicam que o Banco Central ainda enfrenta dificuldades para ancorar as expectativas inflacionárias.
A unanimidade na decisão reflete a gravidade do momento. Todos os diretores do Copom concordaram que o ajuste era necessário para evitar um descontrole ainda maior dos preços. O comunicado oficial destacou que o ambiente externo, especialmente a política comercial dos Estados Unidos, tem gerado incertezas significativas. A possibilidade de uma desaceleração econômica global, combinada com pressões inflacionárias heterogêneas, exige uma postura vigilante do Banco Central.
A guerra comercial iniciada por Donald Trump, reeleito em 2024, é um dos principais fatores externos que pesam sobre a decisão do Copom. As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre importações de diversos países, incluindo o Brasil, têm elevado os custos de bens essenciais, como commodities agrícolas e industriais. Esse movimento encarece produtos no mercado interno, alimentando a inflação.
Além disso, a política monetária restritiva adotada por outros bancos centrais, como o Federal Reserve, contribui para a valorização do dólar frente ao real. Em abril de 2025, o dólar atingiu picos próximos a R$ 5,80, pressionando os preços de produtos importados. O Copom observou que esses choques externos demandam uma resposta firme, mesmo que isso implique custos para o crescimento econômico doméstico.
O comitê também apontou que a economia global enfrenta um momento de transição. Países emergentes, como o Brasil, são particularmente vulneráveis às mudanças no comércio internacional. A desaceleração econômica na China, outro parceiro comercial importante, reduz a demanda por exportações brasileiras, como soja e minério de ferro. Esses fatores combinados criam um ambiente desafiador para a condução da política monetária.
A alta da Selic tem reflexos imediatos no mercado financeiro brasileiro. As taxas de juros cobradas por bancos em operações com pessoas físicas e empresas tendem a acompanhar a trajetória da taxa básica. Em março de 2025, a taxa média de juros bancários já havia alcançado 44%, o maior nível em quase dois anos. Esse encarecimento do crédito afeta diretamente o consumo e os investimentos produtivos.
No mercado de capitais, a elevação dos juros torna os investimentos em renda fixa, como títulos do Tesouro Direto e debêntures, mais atrativos. Essa migração de recursos pode reduzir a liquidez na bolsa de valores, impactando negativamente o desempenho de ações. Em abril, o Ibovespa registrou quedas consecutivas, refletindo a cautela dos investidores diante do cenário de juros altos.
Os efeitos da Selic em patamares elevados também se estendem às contas públicas. O aumento dos juros eleva as despesas com o pagamento da dívida pública, que já consome uma parcela significativa do orçamento federal. Nos 12 meses encerrados em março de 2025, os gastos com juros somaram R$ 948 bilhões, equivalente a 7,9% do PIB. Esse cenário pressiona o governo a buscar medidas de ajuste fiscal, em um momento de tensões políticas.
Principais impactos no mercado financeiro:
A elevação da Selic impacta diretamente o poder de compra dos brasileiros. Com o crédito mais caro, as famílias enfrentam dificuldades para financiar bens duráveis, como carros e eletrodomésticos. Dados do IBGE mostram que o consumo das famílias, um dos principais motores do PIB, já apresenta sinais de desaceleração no primeiro trimestre de 2025.
O mercado de trabalho, embora aquecido, começa a sentir os efeitos do aperto monetário. A taxa de desemprego, que caiu para 6,8% no início do ano, pode voltar a subir caso a economia desacelere ainda mais. Empresas de setores sensíveis aos juros, como varejo e construção civil, já relatam dificuldades para manter o ritmo de contratações.
Outro fator que preocupa é o aumento do custo de vida. A inflação acumulada em 12 meses, próxima de 5,5%, reduz o poder de compra, especialmente para a população de baixa renda. Alimentos, combustíveis e energia elétrica são os itens que mais pesam no orçamento das famílias. O Copom reconheceu que a alta dos juros é um remédio amargo, mas necessário para evitar uma espiral inflacionária.
A política fiscal brasileira é outro ponto de atenção destacado pelo Copom. Os gastos públicos elevados, impulsionados por programas sociais e investimentos em infraestrutura, têm contribuído para a pressão inflacionária. O governo, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, enfrenta o desafio de equilibrar a expansão fiscal com a necessidade de estabilizar a economia.
Em 2024, o déficit primário do setor público atingiu 2,1% do PIB, acima das expectativas iniciais. Esse desequilíbrio fiscal aumenta a percepção de risco entre investidores, o que pressiona a taxa de câmbio e, consequentemente, a inflação. O Copom enfatizou que a condução da política fiscal será um fator determinante para o sucesso do aperto monetário.
O Banco Central também observou que medidas de ajuste fiscal, como a redução de subsídios ou o aumento de tributos, podem aliviar a pressão sobre os juros no longo prazo. No entanto, essas iniciativas enfrentam resistência política, especialmente em um ano de debates sobre reformas estruturais.
O Copom sinalizou que a reunião de julho de 2025 será crucial para definir os próximos passos da política monetária. O comitê destacou que o cenário de elevada incerteza exige cautela adicional. A análise dos indicadores econômicos, como o IPCA e o PIB, será determinante para avaliar se o ciclo de alta de juros deve continuar.
Entre os fatores que serão monitorados estão:
O Banco Central também indicou que os impactos acumulados do ciclo de aperto monetário ainda não foram totalmente absorvidos pela economia. Esse processo, que pode levar de seis a 18 meses, será acompanhado de perto para calibrar as próximas decisões.
A decisão do Copom foi amplamente antecipada pelos analistas, mas nem por isso deixou de gerar reações no mercado. Instituições financeiras revisaram suas projeções para o crescimento do PIB em 2025, reduzindo as estimativas de 1,8% para 1,5%. A expectativa de uma economia mais lenta reflete os efeitos do crédito mais caro e da redução do consumo.
Bancos como Itaú e Bradesco publicaram relatórios apontando que a Selic pode atingir 15% ao ano até o final de 2025, caso a inflação não mostre sinais de arrefecimento. Essas projeções reforçam a percepção de que o Banco Central manterá uma postura hawkish, ou seja, favorável a juros altos, nos próximos meses.
No mercado de câmbio, o dólar registrou leve alta no dia seguinte à decisão, fechando a R$ 5,78. A valorização da moeda americana reflete a busca por ativos mais seguros em um contexto de incertezas globais. Para exportadores, a alta do dólar pode ser benéfica, mas para os consumidores, ela significa preços mais altos em produtos importados.
Alguns setores da economia já sentem os efeitos do aumento da Selic. O varejo, por exemplo, enfrenta uma queda nas vendas, especialmente em bens de maior valor. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que as vendas no varejo cresceram apenas 0,8% no primeiro trimestre de 2025, contra 2,1% no mesmo período de 2024.
A construção civil, outro setor sensível aos juros, também enfrenta desafios. O custo do financiamento imobiliário subiu significativamente, reduzindo a demanda por novos empreendimentos. Em São Paulo, o número de lançamentos imobiliários caiu 15% nos primeiros meses do ano, segundo o Secovi-SP.
O agronegócio, embora resiliente, não está imune. A alta do dólar encarece insumos importados, como fertilizantes, enquanto as tarifas americanas limitam o acesso ao mercado externo. Produtores de soja e carne bovina já relatam margens de lucro menores em 2025.
O Banco Central reforçou que a condução da política monetária está focada no horizonte de 2026 e 2027. As projeções de inflação para esses anos, de 4,51% e 4%, indicam que o controle dos preços ainda exigirá esforços significativos. O sistema de metas contínuas, adotado em 2025, permite maior flexibilidade, mas também aumenta a pressão sobre o Copom para entregar resultados.
A instituição destacou que a ancoragem das expectativas inflacionárias é essencial para evitar um cenário de inflação persistente. Para isso, o Banco Central planeja manter a Selic em níveis elevados pelo menos até meados de 2026, dependendo da evolução dos indicadores econômicos.
Fatores que podem influenciar as decisões futuras incluem: