A COP30 está mantida em Belém, mas sem plano B e com valores de hospedagem acima de qualquer precedente, cresce a pressão internacional por alternativas diante da ausência iminente de países vulneráveis, que denunciam preços abusivos, soluções improvisadas e ameaça à legitimidade do evento climático mais simbólico da década.
O que era símbolo pode virar fracasso
A decisão de sediar a COP30 em Belém nasceu com o peso da história. Era o Brasil oferecendo a Amazônia como palco, não como objeto de debate. Era a floresta falando por si, abrindo as portas para um evento que, até então, orbitava capitais distantes da crise real. Mas o que parecia um gesto corajoso está prestes a se converter em contradição institucional. Hotéis cobrando diárias acima de US$ 2.000, hospedagens simples multiplicadas por dez, e alternativas como motéis, barcos e escolas públicas adaptadas não formam um cenário de acolhimento. Formam uma barreira.
Países do Sul global devem ficar de fora
Delegações de países em desenvolvimento já sinalizam que não conseguirão participar. Os preços estão “acima de qualquer aumento em qualquer outra COP da história”, conforme relatos de bastidor. O efeito disso é direto: sem os mais afetados pela mudança climática presentes, o evento perde legitimidade. O princípio da “participação universal” que sustenta a credibilidade das decisões globais entra em colapso. A floresta estará lá, mas vazia de vozes.
Oportunismo travestido de desorganização
A crise não é apenas de logística. É de valores. Especulação imobiliária sem controle, inércia do poder público e soluções improvisadas indicam que a COP30 foi capturada por interesses locais. Em vez de planejar, autoridades esperaram. E quando reagiram, o estrago já estava feito: aluguéis inflacionados, credibilidade abalada e um mercado que entendeu que a COP é uma oportunidade de lucro — e não de transformação. Não é mais possível distinguir desorganização de oportunismo.
Discurso firme, mas realidade frágil
Oficialmente, o governo brasileiro descarta qualquer mudança de sede. “A COP será em Belém”, dizem com convicção. Mas a retórica não elimina a matemática. A cidade não tem estrutura para receber 50 mil participantes com preços acessíveis. A ONU deu prazo até agosto para que o país apresente soluções concretas. Enquanto isso, eventos paralelos começam a migrar para São Paulo e Rio de Janeiro, reforçando a percepção de que o centro do debate será outro — e não no coração da floresta.
A floresta não pode ser só cenário
A COP30 ainda pode cumprir sua promessa. Mas isso exige medidas firmes e imediatas: controle de preços, subsídios reais, redes de hospedagem populares, planejamento de verdade. Sem isso, a conferência corre o risco de se tornar a mais simbólica e a mais esvaziada de todas. Uma COP onde se falará sobre justiça climática — com a ausência explícita de quem mais precisa dela. E isso é um paradoxo inaceitável.
Porque não basta sediar a COP. É preciso garantir que ela aconteça — com todos dentro.
Assinado por: Eliton L. Muniz – Cidade AC News – www.cidadeacnews.com.br
📍 Fontes técnicas: registros internos de reuniões com embaixadas obtidos via Lei de Acesso à Informação; pronunciamentos do comando da COP30; relatos de delegações latino-americanas e africanas em reuniões preparatórias – dados cruzados com reportagens da imprensa internacional acessadas em 2 de agosto de 2025.
