Os preços dos medicamentos no Brasil estão mais altos desde o início de abril, quando entrou em vigor o reajuste anual autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O teto fixado para este ano foi de 5,06%, mas os consumidores já relatam aumentos bem superiores em algumas farmácias, chegando a picos de 216,58%, conforme levantamento realizado por plataformas de comparação de preços. Diante desse cenário, encontrar formas de reduzir os gastos com remédios tornou-se essencial, especialmente para quem depende de tratamentos contínuos. A boa notícia é que existem estratégias práticas que podem aliviar o impacto no bolso, desde a escolha por genéricos até a participação em programas de fidelidade e clubes de vantagens. Com planejamento e pesquisa, é possível economizar até 80% em alguns casos, garantindo acesso a medicamentos sem comprometer o orçamento familiar.
Comprar remédios hoje exige mais atenção do que nunca. O aumento nos preços, que começou a ser aplicado em 1º de abril, reflete o teto estabelecido pelo governo, mas a realidade nas gôndolas e nos sites das farmácias mostra variações significativas. Um exemplo claro é o contraceptivo Gestodeno + Etinilestradiol (72 comprimidos), cujo preço médio saltou de R$ 39 para R$ 67,92 em apenas um dia, um salto de 74,15%. Apesar disso, o valor ainda está dentro do limite do Preço Máximo ao Consumidor (PMC) em São Paulo, que é de R$ 93,31. Essa discrepância ocorre porque o PMC é apenas um teto, e as farmácias têm liberdade para praticar valores menores, ajustando os preços conforme estratégias comerciais, estoques antigos e promoções.
Para os consumidores, o impacto desses aumentos pesa especialmente no caso de medicamentos de uso contínuo, como os indicados para hipertensão, diabetes ou contracepção. Em um país onde os gastos com saúde já representam uma fatia considerável do orçamento familiar, o reajuste anual traz um desafio adicional. Por outro lado, as farmácias também enfrentam dilemas: enquanto o aumento pode elevar o faturamento, a queda no volume de vendas é um risco real, principalmente em regiões onde a concorrência é acirrada ou o poder aquisitivo é menor.
Por que os preços variam tanto?
Entender o motivo por trás das diferenças nos preços dos medicamentos é o primeiro passo para economizar. O reajuste anual, fixado em 5,06% para este ano, é calculado com base em fatores como a inflação acumulada nos últimos 12 meses, a produtividade das empresas farmacêuticas e o nível de concorrência no mercado. No entanto, esse percentual incide sobre o PMC, que nem sempre reflete o valor cobrado na prática. Muitas farmácias já vendiam produtos abaixo desse teto antes do reajuste e, ao ajustar os preços para o novo limite, acabam aplicando aumentos bem superiores ao índice oficial.
Um exemplo prático ilustra essa dinâmica. Antes do reajuste, um medicamento podia ser vendido por R$ 50, mesmo tendo um PMC de R$ 80. Com o aumento de 5,06%, o novo teto passou a ser R$ 84,05. Se a farmácia decide alinhar o preço ao limite máximo, o consumidor percebe um salto de 68%, muito acima do percentual divulgado. Isso explica os relatos de aumentos expressivos, como os 216,58% registrados em algumas redes. Além disso, fatores como variação cambial, custos de insumos importados e logística também influenciam os valores finais, tornando o cenário ainda mais complexo.
Impacto gradual e regional
O bolso do consumidor não sente o reajuste de forma imediata em todos os casos. Muitas farmácias ainda operam com estoques adquiridos antes de abril, o que pode retardar a aplicação dos novos preços por algumas semanas. Em grandes redes, essa transição tende a ser mais lenta, beneficiando quem compra logo após o anúncio do aumento. Já em cidades menores ou áreas com menos opções de estabelecimentos, os valores atualizados aparecem mais rapidamente, reduzindo as chances de encontrar promoções ou preços antigos.
Essa diferença regional é um ponto crucial. Em metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro, a concorrência entre farmácias estimula descontos e ofertas, enquanto em locais com pouca variedade o consumidor fica mais vulnerável às oscilações. Para quem vive nessas regiões, a pesquisa de preços se torna ainda mais importante, já que a falta de alternativas pode significar pagar o valor cheio sem opções de negociação.
Estratégias para aliviar o bolso
Diante dos aumentos, adotar estratégias inteligentes faz toda a diferença. Veja algumas opções práticas que podem reduzir os custos com medicamentos:
- Genéricos e biossimilares: Essas versões têm a mesma eficácia dos remédios de marca, mas custam até 80% menos.
- Comparação de preços: Plataformas online permitem verificar valores em diferentes farmácias sem sair de casa.
- Programas de fidelidade: Redes como Pacheco, São Paulo e Venâncio oferecem descontos exclusivos para clientes cadastrados.
- Compra online: Muitas farmácias têm preços menores em sites ou aplicativos, além de promoções como frete grátis.
- Negociação no balcão: Perguntar por descontos, especialmente em compras de maior quantidade, pode render economia.
O poder dos genéricos e biossimilares
Optar por medicamentos genéricos ou biossimilares é uma das formas mais eficazes de gastar menos. Esses produtos passam por rigorosos testes de qualidade e têm o mesmo princípio ativo dos remédios de referência, mas chegam ao mercado com preços bem mais acessíveis. Um genérico pode custar entre 35% e 80% menos, dependendo da marca e da farmácia. Para tratamentos de longo prazo, como os usados em doenças crônicas, essa escolha representa uma economia significativa ao longo do tempo.
Além disso, a oferta de genéricos no Brasil é ampla, cobrindo desde analgésicos até medicamentos para condições complexas, como hipertensão e diabetes. A chave está em consultar o médico ou farmacêutico para confirmar que a substituição é viável, já que alguns casos exigem marcas específicas por questões de formulação ou resposta do paciente. Quando aplicável, essa troca é uma solução simples e imediata para driblar os reajustes.

Programas governamentais em foco
Aproveitar iniciativas públicas também é uma alternativa valiosa. O programa Farmácia Popular, mantido pelo governo federal, ampliou seu alcance em fevereiro deste ano e agora oferece gratuitamente 41 itens, incluindo 39 medicamentos, além de absorventes e fraldas geriátricas. Para acessar, basta apresentar documento de identidade e receita médica – válida tanto do SUS quanto de médicos particulares – em uma das farmácias credenciadas espalhadas pelo país.
Outro recurso é a assistência farmacêutica oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Unidades de saúde disponibilizam diversos medicamentos essenciais sem custo, especialmente para condições crônicas como asma, hipertensão e tuberculose. Embora a disponibilidade varie entre regiões, verificar o que está acessível na unidade mais próxima pode evitar gastos desnecessários em farmácias comerciais.
Fidelidade que compensa
Participar de programas de fidelidade é uma estratégia cada vez mais popular entre os consumidores. Grandes redes como Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo contam com o programa Meu Viva Saúde, que oferece descontos personalizados, carteirinha virtual e acesso a promoções exclusivas. Na Venâncio, o VClube garante vantagens como ofertas sazonais e abatimentos em produtos selecionados. Já a Stix, plataforma que conecta programas de fidelidade de varejistas como Droga Raia e Drogasil, permite acumular pontos que podem ser trocados por descontos em compras futuras.
Esses programas são simples de aderir – geralmente basta informar o CPF ou baixar um aplicativo – e trazem benefícios imediatos. Em alguns casos, os descontos chegam a 20% ou mais, especialmente em itens de higiene, beleza e medicamentos de venda livre. Para quem compra regularmente na mesma rede, o retorno financeiro pode ser expressivo ao longo do ano.
Canais de compra fazem diferença
Pesquisar preços em diferentes canais da mesma farmácia é outra tática que vale o esforço. Muitas redes oferecem condições especiais para compras online, por telefone ou via aplicativo, com descontos que superam os praticados nas lojas físicas. Na Venâncio, por exemplo, pedidos acima de R$ 130 têm frete grátis na modalidade padrão, além de cupons para novos clientes. Já nas plataformas de Pacheco e São Paulo, é possível ativar ofertas exclusivas e usar convênios parceiros para ampliar a economia.
A diferença de preço entre canais pode chegar a 15% ou mais, dependendo do produto. Um medicamento vendido por R$ 50 no balcão pode sair por R$ 42 no site, especialmente durante campanhas promocionais. Comparar essas opções antes de finalizar a compra é uma forma prática de garantir o melhor custo-benefício sem complicações.
Barganha no balcão ainda funciona
Negociar diretamente com o atendente ou gerente da farmácia é uma prática antiga que continua eficaz. Perguntar se o preço cobrado é o menor possível ou mencionar ofertas de concorrentes pode abrir espaço para descontos, especialmente em compras de maior quantidade ou para medicamentos de uso contínuo. Em algumas redes, os gerentes têm autonomia para oferecer abatimentos adicionais, principalmente se o cliente demonstrar fidelidade ou intenção de comprar regularmente.
Essa abordagem exige um pouco de iniciativa, mas os resultados compensam. Um desconto de 10% em um remédio de R$ 100, por exemplo, já representa R$ 10 economizados em uma única compra. Para famílias com gastos mensais elevados em farmácias, essa tática pode fazer uma diferença notável no orçamento.
Clubes de vantagens em alta
Participar de clubes de vantagens é outra forma de reduzir custos. A Stix, que integra redes como Droga Raia, Drogasil, Pão de Açúcar e Extra, permite acumular pontos em compras variadas e usá-los para descontos em farmácias. Já o Meu INSS+, voltado para aposentados, pensionistas e beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social, oferece abatimentos em diversos estabelecimentos, incluindo drogarias parceiras. Esses clubes são gratuitos e acessíveis, exigindo apenas um cadastro simples para começar a aproveitar as vantagens.
Os benefícios variam de acordo com o programa. Na Stix, os pontos acumulados em compras do dia a dia podem ser convertidos em descontos significativos em medicamentos, enquanto o Meu INSS+ foca em atender um público que muitas vezes depende de remédios contínuos, como idosos. Escolher o clube certo depende do perfil de consumo de cada pessoa, mas ambos são ferramentas poderosas para enfrentar os reajustes.
Cuidados ao informar o CPF
Muitas farmácias oferecem descontos em troca do CPF, mas essa prática exige atenção. Em alguns casos, o preço cheio apresentado é o teto máximo, e o desconto aplicado após a cessão dos dados apenas alinha o valor ao que já é praticado no mercado. Isso cria a sensação de economia, mas pode ser uma estratégia para coletar informações pessoais. Órgãos de defesa do consumidor têm investigado redes que tornam o CPF obrigatório para descontos, prática considerada abusiva sob a Lei Geral de Proteção de Dados.
Antes de compartilhar o CPF, vale verificar se o desconto é genuíno ou se o preço já é competitivo sem a exigência. Comparar os valores em diferentes estabelecimentos ajuda a identificar se a oferta é real ou apenas um chamariz comercial. Proteger os dados pessoais é tão importante quanto economizar, especialmente em um cenário de aumento nos custos.
Fatores que afetam os preços
Além do reajuste oficial, outros elementos influenciam o custo dos medicamentos ao longo do ano. A dependência de insumos importados, impactada pela variação do dólar, eleva os gastos de produção. Custos logísticos, como transporte e armazenamento, também entram na conta, assim como a redução de promoções sazonais. Quando uma farmácia corta descontos que costumava oferecer, o preço final pode subir mais do que o esperado, mesmo dentro do teto permitido.
Essas oscilações explicam por que o mesmo remédio pode ter valores tão distintos entre redes ou até dentro da mesma loja, dependendo do canal de compra. Para o consumidor, acompanhar essas mudanças e agir estrategicamente é a melhor forma de evitar surpresas desagradáveis na hora de pagar.
Calendário dos reajustes anuais
Os aumentos nos preços dos medicamentos seguem um cronograma fixo no Brasil. O reajuste é autorizado anualmente pela CMED e entra em vigor sempre em 1º de abril. Veja como funciona:
- Março: O percentual é definido com base em inflação, produtividade e concorrência.
- 1º de abril: O novo teto entra em vigor, mas os preços nas farmácias podem subir gradualmente.
- Ao longo do ano: Farmácias ajustam valores conforme estoques e estratégias comerciais.
Esse calendário ajuda os consumidores a se prepararem. Comprar estoques antes do reajuste ou aproveitar promoções no início do ano são táticas que minimizam o impacto dos aumentos.
Dicas práticas para economizar hoje
Para quem quer gastar menos agora, algumas ações simples podem trazer resultados imediatos:
- Pesquise preços em plataformas online antes de comprar.
- Priorize genéricos ou peça orientação ao farmacêutico sobre alternativas.
- Cadastre-se em programas de fidelidade da farmácia que você mais frequenta.
- Verifique se o SUS ou o Farmácia Popular oferecem o medicamento necessário.
- Compare preços entre loja física, site e aplicativo da mesma rede.
Com os preços dos remédios em alta, adotar essas medidas é mais do que uma escolha – é uma necessidade. O reajuste de 5,06% pode parecer pequeno à primeira vista, mas os aumentos reais sentidos no dia a dia mostram que o impacto vai além dos números oficiais. Planejar as compras, negociar e aproveitar os recursos disponíveis são passos fundamentais para manter os tratamentos em dia sem comprometer as finanças.