O Evangelho nunca foi palco. O púlpito nunca foi picadeiro. E pastor nunca foi personagem de aluguel. O que vemos hoje, contudo, é uma geração de líderes que tentam ser tudo ao mesmo tempo — pregadores de domingo, influencers de segunda, humoristas de terça, palestrantes de quarta, e assim vão dividindo a vida como quem reparte a semana em fatias.
Mas a fé não se mede em turnos. A Bíblia não aceita contrato de meio expediente. Jesus não chamou discípulos para uma escala de plantão, mas para uma entrega total: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lucas 9:23).
O púlpito não é picadeiro
É aqui que mora a ironia: no domingo, a voz grave ecoa no microfone com trechos bíblicos; na segunda, o mesmo lábio serve para piada, improviso e corte engraçado para o TikTok. O público olha e não sabe se dá “amém” ou “kkkk”. É o paradoxo da duplicidade: o Espírito pede santidade, mas o algoritmo cobra performance.
Spurgeon já dizia: “Aquele que brinca com coisas sagradas não passa de um bufão diante de Deus”. Hernandes Dias Lopes resume: “Quem tenta conciliar o púlpito com o palco secular perde a autoridade em ambos”.
A verdade é simples e dura: se o pastorado vira entretenimento, o rebanho perde o pastor e ganha apenas um personagem.
Chamado não cabe em 24h fracionadas
O que pesa mais durante as 24 horas? O chamado ou a conveniência? O púlpito porque é escolhido, ou porque estava disponível na agenda?
Billy Graham já alertava: “O mundo não precisa de pregadores engraçados, mas de homens cheios do Espírito Santo”. E John MacArthur não deixou espaço para dúvidas: “O pastor que tenta ser entertainer acaba alimentando cabras em vez de pastorear ovelhas”.
E é exatamente isso: quando o pastor assume outra máscara, a autoridade evapora. O testemunho perde força. Até o ímpio olha e pergunta: “isso é fé ou é teatro?”
Ou queima o arado, ou volta pra roça
A Bíblia não é tímida ao tratar dessa tensão entre profissão e chamado.
- Jesus largou a carpintaria e abraçou a cruz.
- Pedro deixou as redes e se tornou pescador de homens.
- Eliseu queimou o arado e matou os bois.
- Amós abandonou o gado para profetizar.
- Paulo fazia tendas, mas nunca confundiu provisão com missão.
- Os levitas abriram mão de terras porque Deus era a sua herança.
O recado é um só: profissão é digna, mas chamado é absoluto. Uma coisa pode preparar para a outra, mas nunca concorrer com ela.
Copo de cristal ou copo de plástico?
Minha avó, esposa do pastor Muniz, certa vez deu uma lição que nunca esqueci. Um pastor foi visitar sua casa. A ajudante trouxe um copo simples. Ela interveio: “Esse não. O melhor copo é para o pastor”.
O detalhe é simples, mas o princípio é profundo: o ministério exige honra. Se até um copo de água era tratado com reverência, como aceitar que o púlpito seja reduzido a palco, ou que o pastor seja confundido com personagem?
O melhor copo é para o sagrado. E o sagrado não se mistura com o profano.
Culto não é show: é fogo no altar
É aqui que muita gente se perde: culto não é agenda de eventos, é encontro com Deus. E isso sempre foi a essência da fé pentecostal: não é só sermão, não é só liturgia, é presença.
O púlpito não é palco, é altar. E altar só funciona quando há fogo — e o fogo não vem da técnica, vem do Espírito Santo.
Quantas vezes, em cultos simples, uma irmã se levantou, tomou o microfone e declarou: “Jesus está aqui!” — e logo entregou de volta. Sem floreio, sem espetáculo. Essa frase curta vale mais do que muitos discursos, porque carrega atmosfera. Não é performance, é transbordar. É resultado de quem passou a semana no secreto, buscando, pagando preço, vivendo de joelhos para falar em pé.
Esse é o “cheiro do Céu”: Pedro tinha sombra que curava não porque sombra tem poder, mas porque estava tão cheio de Deus que até o natural virou canal de milagre. É sobre ser vaso, não sobre ser personagem.
E não, o reboliço que toma conta nesses momentos não é bagunça. É resposta espiritual. É o Céu descendo sobre a terra porque encontrou alguém disposto a buscar de verdade.
👉 Conclusão? Quando alguém ousa declarar “Jesus está aqui” com fé e autoridade, não é frase de efeito. É marca de quem carrega fogo. É convite para que o Espírito Santo faça aquilo que só Ele pode fazer.
Currículo velho não unge ninguém
Paulo foi claro: “Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás, avanço para o que está diante de mim” (Filipenses 3:13).
O altar não é museu de feitos antigos. Não importa quantas vitórias alguém tenha contado no passado, se no presente a vida não confirma o chamado. O Evangelho é caminhada viva, diária, não troféu empoeirado.
Liderança omissa é cúmplice
Esse é outro ponto que dói: há líderes que veem, mas se calam. Há presidentes que preferem acomodar do que confrontar. Há igrejas que toleram o personagem por conveniência.
Mas a Bíblia é direta: “Seja o vosso falar sim, sim; não, não”. “Sede santos, porque Eu sou santo”. “Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino”.
Quem fecha os olhos diante da duplicidade já se tornou cúmplice. Silêncio pastoral é covardia espiritual.
Esse texto exige decisão
Não escrevo para entreter. Escrevo para confrontar. Esse texto não é travesseiro de comodismo, é martelo de despertar.
Ao líder, digo: não tape o sol com a peneira. Ao irmão, digo: não confunda pastor com personagem. Ao próprio pastor que divide o chamado com performance, digo: largue as coisas de menino, porque Deus já te chamou para a maturidade.
E ao ímpio, que olha de fora confuso, digo: o Evangelho não é caricatura. É sério, é vivo, é transformador. Mas só faz sentido quando quem anuncia vive em coerência.
Ou santo, ou bufão
Não dá para ser servo de Deus e marionete de algoritmos. Não dá para brincar de ministério. Não dá para subir ao púlpito como quem sobe a um palco de show.
O sagrado pede exclusividade. O chamado exige vida inteira. E o Espírito Santo não divide altar com personagem.
Jesus está voltando. E cada linha deste texto é um alerta para acordar. Desperte, porque não dá mais tempo para viver de duplicidade. O Reino não tolera máscara.
Ah!!…
No palco, o homem é o centro.
No púlpito, Cristo é o centro.
✍️ Coluna do Ton – Cidade AC News
Entre o “amém” e o “kkkk”, a Palavra ainda corta mais fundo do que qualquer Tramontina.




