Jorge Viana e Binho Marques desembarcam em Rio Branco para um café nostálgico com velhos aliados do PT. Entre lembranças e discursos, evento expõe fragilidade e desafio de reconquistar espaço político no Acre.
Enquanto o PT amarga o afastamento das prefeituras e do governo estadual, figuras históricas como Jorge Viana e Binho Marques voltam a Rio Branco, protagonizando um encontro carregado de simbolismo e contradições. Entre saudosismo e discurso de resistência, o evento expôs o dilema: reconstrução política ou mero reencontro de velhos aliados?
O retorno dos líderes históricos em um Acre politicamente transformado
O Acre de 2025 não é o mesmo da época em que Jorge Viana e Binho Marques comandavam o governo estadual e a prefeitura da capital. A hegemonia petista que marcou quase duas décadas de gestão (1999 a 2018) hoje dá lugar a um cenário dominado por outros grupos políticos, principalmente liderados por Gladson Cameli e partidos de centro-direita.
Diante desse contexto, a presença de Jorge e Binho em Rio Branco para um café informal – apelidado nas redes de “Café Sem Açúcar” – gerou reações curiosas. De um lado, antigos militantes e simpatizantes comemoraram o reencontro. De outro, críticos viram o evento como mais uma tentativa de resgatar o capital político que o PT perdeu ao longo dos últimos anos.
Saudosismo ou rearticulação? Os bastidores por trás do café nostálgico
A reunião foi marcada por tom nostálgico, com discursos de resistência e lembranças dos tempos áureos do PT no Acre. Internamente, fontes ligadas aos organizadores afirmam que o objetivo foi além de uma simples confraternização. O encontro serviu também como um termômetro para avaliar o potencial de mobilização da base histórica do partido.
O próprio Jorge Viana, hoje à frente do ICMBio no governo Lula, enfrenta pressões e desafios de gestão nacional, enquanto Binho Marques mantém atuação discreta, mas ainda influente nos bastidores petistas. Ambos sabem que a reconstrução política no Acre passa por reconquistar a confiança de um eleitorado que migrou para novas lideranças nos últimos pleitos.
A fragilidade da imagem petista e o desafio de comunicação com a nova geração de eleitores
Um dos principais obstáculos enfrentados pelo PT acreano é justamente sua desconexão com a juventude e com novos eleitores. A geração que cresceu sob gestões petistas hoje vota com pautas mais diversificadas e com baixa identificação com os antigos ícones da política local.
Além disso, a associação do partido com casos de desgaste político nacional e regional – incluindo escândalos de corrupção e crises de gestão – ainda pesa na memória coletiva. O reencontro em Rio Branco, apesar de simbólico, pode ter reforçado para muitos o estigma de um grupo que insiste em viver do passado.
Reações nas redes e o risco de virar piada política
A cobertura nas redes sociais, como a publicação feita pelo perfil @noticiasdahoraoficial, usou tom de ironia e deboche, retratando Jorge e Binho dentro de um fusca vermelho com o símbolo do PT. A metáfora visual – um carro antigo, precisando ser empurrado – sintetizou bem o sentimento de parte da população: um projeto político que perdeu tração e hoje depende de empurrões nostálgicos para seguir adiante.
A resposta bem-humorada e provocativa de Binho Marques à postagem mostra que, ao menos no campo da comunicação, os líderes petistas ainda sabem como chamar atenção. Mas, entre uma brincadeira e outra, permanece o dilema: como reconquistar o eleitorado acreano em um cenário político tão fragmentado e competitivo?
O café entre Jorge Viana, Binho Marques e militantes históricos do PT pode até ter aquecido corações saudosos, mas, politicamente, o evento deixa uma reflexão importante: o PT no Acre precisa muito mais do que encontros simbólicos para voltar a ser protagonista. A tarefa de reconectar-se com a sociedade acreana exigirá renovação de discurso, autocrítica e, acima de tudo, uma estratégia que dialogue com as novas demandas da população.
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