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Chuva no Acre: igarapés transbordam e rotina da lama se repete

chuva no acre igarapé rio branco bairro alagado população com sacolas nos pés

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Chuva no Acre expõe rotina de alagamentos, sacolas nos pés e incerteza de energia e transporte em Rio Branco. Crônica popular sobre o “sempre foi assim”..

📍 Localização Município: Rio Branco – AC Estado: Acre (Norte do Brasil)
Data: 2 de novembro de 2025
Horário local: 21h15 (GMT-5 – America/Rio_Branco)

Moradores de Rio Branco enfrentam mais uma noite de chuva forte e ruas alagadas na capital acreana.

Em Rio Branco e em tantas cidades do interior, quando o céu se fecha e a chuva engrossa, o medo vem primeiro. O que para uns é “benção divina”, para milhares de acreanos é sinônimo de lama, energia cortada, internet oscilando e ambulância atolada. O Acre vive esse ritual há décadas, e a frase que ecoa nas varandas é sempre a mesma: “sempre foi assim”.

Quando o temporal anuncia o velho roteiro

A água começa tímida. Dez minutos depois, a rua é igarapé, o bueiro é cachoeira e o cheiro de esgoto sobe como lembrança antiga.
As donas de casa correm, levantam o botijão, a geladeira, o sofá. As crianças observam pela janela a correnteza de embalagens, chinelos e — às vezes — animais mortos.

No bairro Preventório, na Baixada da Sobral, no Triângulo Novo, as cenas se repetem há mais de 20 anos. O mesmo filme, o mesmo roteiro, os mesmos personagens, o mesmo silêncio das autoridades quando a chuva passa.

O Acre do “sempre foi assim”

Há quem diga que o povo se acostumou. É mentira. O povo se defende, não se acostuma.
Sacola nos pés, madeira no chão, fogão sobre tijolos. A adaptação virou sobrevivência.
“Quando começa a relampejar, a gente já sabe onde vai subir a água”, diz o aposentado Raimundinho, morador há 32 anos do bairro Palheiral.
Ele aponta para uma marca na parede — um risco preto deixado pela enchente de 2017. “Dali pra cima, é sorte”, resume.

Essa frase — “sempre foi assim” — serve pra justificar a omissão que virou paisagem.
Enquanto a capital se vende como cidade verde, tem esgoto a céu aberto e famílias que perdem o pouco que têm toda vez que o céu decide lavar o Acre.

Mal cheiro, silêncio e improviso

Quando a água recua, o ar muda. O cheiro de podre toma conta.
Mosquitos voltam antes da limpeza pública, e os caminhões de lixo passam rápido, como quem não quer ver.
O cheiro mistura-se com o do medo.
É o medo de chegar em casa e não ter energia, de precisar ligar pra ambulância e ouvir: “a viatura não chega aí”.
De abrir o aplicativo e ver que nenhum Uber, nenhum táxi, nenhum mototáxi aceita a corrida.
O medo de estar preso dentro do próprio bairro — isolado por uma poça que virou lago.

Soluções que escorrem pelo ralo

Engenheiros e ambientalistas alertam há anos: o problema não é só a chuva, é o descuido crônico.
Sem drenagem adequada, sem limpeza regular, sem planejamento urbano, o Acre vive o colapso a cada temporal.
Há projetos de canalização engavetados desde 2008, promessas de obras milionárias nunca concluídas, e orçamentos que evaporam junto com a água do último verão.
Enquanto isso, os moradores inventam suas próprias “obras”: valas, diques de madeira, pequenas pontes de tábua, extensões elétricas penduradas nos portões.
São engenharias de resistência, soluções da base — invisíveis aos olhos do poder.

Quando chove, a cidade vira denúncia

O rádio silencia, a TV chiando, a internet some.
O Acre desconecta.
Mas a chuva continua — e com ela vem a notícia que nunca é manchete: gente cansada de perder o pouco, mas que ainda não perdeu a esperança.

“Meu filho pergunta se vai chover amanhã e eu respondo que sim, mas que a gente também vai dar um jeito”, diz dona Jucilene, 45 anos, mãe solo e guerreira da baixada.
O “dar um jeito” é filosofia acreana.
E talvez esteja aí o ponto mais forte dessa crônica: um povo que não desiste, mesmo quando o rio sobe dentro de casa.

O que se sabe até agora

FAQ otimizado

Por que o Acre sofre tanto com as chuvas?
Porque o sistema de drenagem é antigo e insuficiente, e a manutenção é irregular. Além disso, o crescimento urbano sem planejamento multiplica o impacto.

O que poderia ser feito de forma imediata?
Mutirões de limpeza preventiva, canalização dos igarapés, reestruturação das galerias e políticas permanentes de saneamento.

Por que isso não é prioridade política?
Porque as enchentes não rendem palanque depois que a lama seca — e o voto, infelizmente, evapora com a água.

Como a população reage?
Com ironia, fé e criatividade. Do improviso nas passarelas de madeira às gambiarras elétricas, a periferia cria a sua própria engenharia da sobrevivência.

Conclusão 

O Acre aprendeu a sobreviver com a chuva, mas não devia.
Enquanto políticos desfilam em carros altos, o povo amarra sacolas nos pés e anda descalço sobre promessas.
É hora de trocar o “sempre foi assim” por “nunca mais será”.
Compartilhe essa história. Que ela chegue aos gabinetes, aos prefeitos, aos engenheiros e, principalmente, a quem ainda acha que isso é “coisa de quem mora na baixada”.

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📍 Editorial Institucional — Cidade AC News
Por Eliton Lobato MunizCidade AC News
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