Em um desdobramento que marca um capítulo decisivo na política brasileira, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) enfrenta as consequências de um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode encerrar sua trajetória no Congresso. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, votou pela condenação da parlamentar a 10 anos de prisão por crimes relacionados à invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em um processo que também envolve o hacker Walter Delgatti Netto. A decisão, ainda pendente de votos de outros ministros, sinaliza a perda do mandato de Zambelli e levanta debates sobre o papel do Judiciário na fiscalização do Legislativo.
A votação ocorre no plenário virtual do STF, com prazo até 16 de maio para que os cinco ministros da Primeira Turma apresentem seus posicionamentos. Além da pena de prisão, Moraes defendeu que Zambelli perca automaticamente seus direitos políticos, conforme prevê a Constituição em casos de condenações superiores a 120 dias em regime fechado. O caso ganhou destaque por envolver acusações graves de falsidade ideológica e invasão de dispositivo informático qualificada, crimes que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), tinham como objetivo abalar a credibilidade do Judiciário brasileiro.
URGENTE: O Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acaba de votar para condenar a Deputada Federal Carla Zambelli (PL-SP) a 15 anos e 3 meses de prisão pic.twitter.com/rUJ9wX4m2w
— PESQUISAS E ANÁLISES ELEIÇÕES (@pesquisas_elige) May 9, 2025
O julgamento atual não é o único desafio enfrentado por Zambelli. A deputada já teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) em janeiro de 2025, por abuso de poder nas eleições de 2022, decisão que ainda aguarda análise no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, outro processo no STF, relacionado a um episódio de perseguição armada em 2022, resultou em maioria para condená-la a 5 anos e 3 meses de prisão. Esses desdobramentos judiciais colocam a parlamentar em uma posição delicada, com implicações que vão além de sua carreira política.
- Crimes em foco: Invasão ao sistema do CNJ e falsidade ideológica, com tentativa de inserir um falso mandado de prisão contra Moraes.
- Penas propostas: 10 anos para Zambelli e 8 anos e 3 meses para Delgatti, ambos em regime fechado.
- Impacto político: Perda do mandato e inelegibilidade por até oito anos, caso as decisões sejam confirmadas.
- Outros processos: Cassação pelo TRE-SP e condenação por perseguição armada agravam a situação da deputada.
Reações no meio político
A notícia da votação de Moraes gerou reações imediatas entre aliados e opositores de Zambelli. Parlamentares do Partido Liberal (PL), como o senador Jorge Seif, manifestaram apoio à deputada, classificando o julgamento como uma forma de “perseguição à direita”. Em redes sociais, Seif afirmou que a decisão do STF desrespeita a vontade dos eleitores, já que Zambelli foi eleita com 946.244 votos em 2022. Por outro lado, deputados de oposição, como Sâmia Bomfim (PSOL-SP), autora da ação que levou à cassação no TRE-SP, celebraram o rigor do Judiciário. Bomfim destacou que a condenação reforça a luta contra a desinformação e os ataques às instituições democráticas.
Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro, antigo aliado de Zambelli, manteve silêncio sobre o caso. A relação entre os dois, outrora marcada por apoio mútuo, deteriorou-se nos últimos anos, especialmente após Bolsonaro atribuir à deputada parte da responsabilidade por sua derrota nas eleições de 2022. O episódio da perseguição armada, ocorrido na véspera do segundo turno, teria afastado eleitores, segundo aliados do ex-presidente.
No PL, a cúpula do partido avalia os impactos da possível perda do mandato de Zambelli. A deputada, conhecida por sua postura combativa e alinhamento ao bolsonarismo, era uma figura central na articulação da bancada conservadora. Sua ausência pode abrir espaço para novos nomes, mas também levanta preocupações sobre a coesão do grupo em um momento de embates com o governo Lula.
Histórico de polêmicas
Carla Zambelli ingressou na política como uma das principais vozes do movimento conservador, ganhando projeção durante a campanha de Jair Bolsonaro em 2018. Eleita deputada federal por São Paulo, ela se destacou por pautas como a flexibilização do porte de armas, o combate à corrupção e a defesa de valores tradicionais. No entanto, sua trajetória foi marcada por episódios controversos que culminaram nos processos judiciais em curso.
O caso da invasão ao CNJ, julgado agora pelo STF, teve início em janeiro de 2023, quando Walter Delgatti Netto, conhecido como o “hacker de Araraquara”, revelou à Polícia Federal (PF) que foi contratado por Zambelli para acessar ilegalmente os sistemas do conselho. Segundo a PGR, a deputada orientou a inserção de um falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, com o objetivo de desacreditar o ministro e o STF. Delgatti alegou ter recebido dinheiro da parlamentar, enquanto a defesa de Zambelli nega qualquer envolvimento.
Outro episódio marcante ocorreu em outubro de 2022, às vésperas do segundo turno das eleições. Durante um ato de campanha no bairro dos Jardins, em São Paulo, Zambelli perseguiu o jornalista Luan Araújo por cerca de cem metros, apontando uma pistola após uma discussão. O caso, amplamente registrado em vídeos, gerou críticas e foi apontado como um fator que prejudicou a campanha de Bolsonaro. O STF formou maioria para condenar a deputada por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, com pena de 5 anos e 3 meses.
- Primeira acusação: Invasão ao CNJ em 2023, com tentativa de falsificar documentos judiciais.
- Segundo processo: Perseguição armada em 2022, resultando em condenação por dois crimes.
- Cassação eleitoral: Decisão do TRE-SP por abuso de poder e desinformação nas eleições.
- Relação com Bolsonaro: Afastamento após críticas do ex-presidente, que a responsabilizou por 2022.
Detalhes do julgamento no STF
O julgamento da invasão ao CNJ começou no dia 9 de maio de 2025, com o voto de Alexandre de Moraes, que detalhou a gravidade dos crimes cometidos. Em um documento de 120 páginas, o ministro destacou que Zambelli agiu de forma “premeditada, organizada e consciente” para atacar o Judiciário. A acusação aponta que a deputada usou sua influência e prerrogativas parlamentares para planejar a operação, que incluía a produção de documentos falsos, como ordens de bloqueio de valores milionários.
A Primeira Turma do STF, composta por Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Flávio Dino e Cármen Lúcia, tem até o dia 16 de maio para concluir a votação. Embora o voto de Moraes seja um indicativo forte, a decisão final depende do posicionamento dos demais ministros. Caso a condenação seja confirmada, Zambelli enfrentará o cumprimento da pena em regime fechado, além da perda imediata de seu mandato, sem necessidade de deliberação da Câmara dos Deputados.
A defesa de Zambelli, liderada pelo advogado Daniel Bialski, tentou adiar o julgamento para o plenário físico, alegando a necessidade de sustentar oralmente os argumentos. O pedido, no entanto, foi rejeitado. Bialski enviou um arquivo de áudio ao STF com sua sustentação, mas a estratégia não alterou o andamento do processo. A defesa insiste que não há provas concretas da participação da deputada na invasão e questiona a credibilidade de Delgatti, que já foi condenado em outros casos.
Embates com o Legislativo
O julgamento de Zambelli reacendeu discussões sobre a relação entre o STF e a Câmara dos Deputados. Para alguns analistas, o Supremo está suprindo uma lacuna deixada pelo Legislativo, que não cassou o mandato da deputada apesar das acusações graves. O colunista Josias de Souza, em comentário no UOL News, afirmou que a Câmara “já deveria ter agido” contra Zambelli, e que o STF está corrigindo essa omissão. A decisão de Moraes, que prevê a perda automática do mandato, baseia-se em jurisprudência que dispensa a necessidade aprovação da Casa Legislativa em casos de condenações criminais.
Por outro lado, deputados do PL e de outros partidos conservadores criticaram a atuação do STF, alegando que o Judiciário está interferindo indevidamente nas prerrogativas do Legislativo. A resolução da Câmara que tentou suspender ações penais contra deputados, como no caso de Alexandre Ramagem (PL-RJ), foi considerada “inaplicável” por Moraes, reforçando a tensão entre os poderes. O embate evidencia o desafio de equilibrar a independência do Legislativo com a responsabilização de parlamentares por crimes graves.
Perseguição armada em 2022
O episódio que marcou a trajetória de Zambelli ocorreu em 29 de outubro de 2022, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Durante um ato de campanha, o jornalista Luan Araújo abordou a deputada, gritando palavras de apoio a Lula e provocações. Zambelli, que se desequilibrou e caiu, reagiu sacando uma pistola e perseguindo Araújo por cerca de cem metros, acompanhada de um segurança. Vídeos mostram a deputada apontando a arma para o jornalista, que entrou em um bar e foi obrigado a se deitar no chão.
O STF, em julgamento iniciado em março de 2025, formou maioria para condenar Zambelli por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal. O relator, Gilmar Mendes, considerou a reação da deputada “desproporcional e violenta”, rejeitando o argumento da defesa de que ela agiu em legítima defesa. Seis ministros, incluindo Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, votaram pela pena de 5 anos e 3 meses, além da perda do mandato. O julgamento foi suspenso após um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques, mas a maioria já formada indica a provável confirmação da sentença.
- Data do incidente: 29 de outubro de 2022, véspera do segundo turno.
- Local: Bairro dos Jardins, São Paulo, durante ato de campanha.
- Acusações: Porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com arma de fogo.
- Pena proposta: 5 anos e 3 meses de prisão, com perda do mandato.
- Status: Julgamento suspenso, mas com maioria de 6 a 0 pela condenação.
Cassação pelo TRE-SP
Em 30 de janeiro de 2025, o TRE-SP cassou o mandato de Zambelli por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições de 2022. A decisão, tomada por 5 votos a 2, também tornou a deputada inelegível por oito anos. A ação, movida pela deputada Sâmia Bomfim, acusou Zambelli de divulgar vídeos e postagens que questionavam a lisura do processo eleitoral, incluindo a falsa alegação de manipulação de urnas em Itapeva, interior de São Paulo.
Zambelli reagiu à decisão com serenidade, afirmando que a cassação não terá efeitos imediatos e que recorrerá ao TSE. Em nota, a deputada destacou que a medida não anula a vontade de seus 946.244 eleitores e classificou o processo como uma tentativa de “silenciar os conservadores”. O julgamento no TSE, ainda sem data definida, será decisivo para determinar se Zambelli poderá manter sua cadeira na Câmara até o fim do mandato.
A cassação também colocou em risco os mandatos de outros deputados do PL eleitos em 2022, como Tiririca e Paulo Bilynskyj, que se beneficiaram da expressiva votação de Zambelli. Caso o TSE confirme a decisão, uma retotalização dos votos pode alterar a distribuição de vagas, afetando a bancada do partido em São Paulo.
Papel de Walter Delgatti
Walter Delgatti Netto, conhecido pelo envolvimento em outros casos de invasão de sistemas, é uma figura central no processo contra Zambelli. O hacker afirmou à PF que foi procurado pela deputada em 2022 para realizar a invasão ao CNJ, recebendo recursos financeiros para a operação. A defesa de Delgatti reforça que Zambelli foi a mentora do esquema, enquanto a parlamentar nega qualquer participação.
Moraes, em seu voto, destacou a gravidade do papel de Delgatti, propondo uma pena de 8 anos e 3 meses em regime fechado. O hacker, que já cumpriu pena por outros crimes cibernéticos, admitiu ter acessado os sistemas do CNJ e inserido documentos falsos, incluindo o mandado de prisão contra Moraes. A colaboração de Delgatti com as investigações foi um dos elementos que fortaleceram a acusação contra Zambelli.
Repercussão nas redes sociais
A condenação de Zambelli gerou intensa movimentação nas redes sociais, com hashtags relacionadas ao caso alcançando os trending topics no Brasil. Postagens de apoiadores do PL criticaram o STF, reforçando a narrativa de perseguição política. Usuários como @cortezpsol celebraram a decisão, destacando que a condenação marca um avanço contra o que chamam de “propaganda fascista”. Outros, como @lazarorosa25, classificaram o dia da votação como um “grande dia” para a democracia.
Por outro lado, aliados de Zambelli, como os deputados Gustavo Gayer e Hélio Lopes, usaram suas plataformas para defender a deputada, chamando a cassação de “absurda” e “injusta”. A polarização nas redes reflete o cenário político brasileiro, com divisões claras entre os que veem o julgamento como uma medida necessária e os que o consideram um ataque à liberdade de expressão.
- Apoiadores: Parlamentares do PL e bolsonaristas defendem Zambelli, alegando perseguição.
- Opositores: Deputados de esquerda celebram a decisão como vitória contra a desinformação.
- Polarização: Hashtags pró e contra Zambelli dominam as redes sociais.
- Repercussão: Postagens viralizam, com milhares de compartilhamentos e comentários.
Trajetória política de Zambelli
Carla Zambelli começou sua carreira política como ativista, participando de movimentos como o Vem Pra Rua e o Nas Ruas, que defendiam o impeachment de Dilma Rousseff. Sua ascensão veio com o apoio de Bolsonaro, que a projetou como uma das principais figuras do bolsonarismo. Eleita em 2018, ela se destacou por discursos inflamados e pela defesa de pautas conservadoras, como a redução da maioridade penal e o combate à ideologia de gênero.
No entanto, sua relação com o PL e com Bolsonaro enfrentou desgastes. Em 2023, Zambelli criticou publicamente o ex-presidente por seu silêncio após a derrota eleitoral, gerando atritos. Bolsonaro, por sua vez, a acusou de prejudicar sua campanha com o episódio da perseguição armada. A deputada também perdeu espaço no partido, sendo destituída do cargo de vice-líder na Câmara em favor de deputados do centrão.
Apesar das polêmicas, Zambelli manteve uma base fiel de eleitores, especialmente nas redes sociais, onde acumula milhões de seguidores. Sua habilidade em mobilizar apoiadores online foi um dos fatores que a tornaram uma figura influente, mas também a colocou no centro de investigações por desinformação.
Possíveis desdobramentos judiciais
O julgamento no STF é apenas uma das frentes judiciais enfrentadas por Zambelli. No caso da perseguição armada, o processo aguarda a retomada após o pedido de vista de Nunes Marques. A expectativa é que a condenação seja confirmada, já que a maioria de 6 a 0 dificilmente será revertida. A pena, se aplicada, será cumprida em regime semiaberto, mas a perda do mandato dependerá do esgotamento de recursos.
No TSE, a análise da cassação pelo TRE-SP será um momento crucial. A decisão pode não apenas tirar Zambelli da Câmara, mas também reconfigurar a bancada do PL em São Paulo. Advogados especializados em direito eleitoral, como Fernando Neisser, apontam que a anulação dos votos de Zambelli pode afetar deputados menos votados, como Tiririca, que dependeu da votação expressiva da deputada para se eleger.
Além disso, Zambelli enfrenta outras investigações, incluindo denúncias de abuso de poder econômico e uso indevido de recursos de campanha. Esses casos, embora menos avançados, podem agravar sua situação jurídica nos próximos anos, dificultando qualquer tentativa de retorno à política.
- STF: Julgamento da invasão ao CNJ termina em 16 de maio, com possível confirmação da pena.
- TSE: Cassação pelo TRE-SP aguarda análise, com impacto na bancada do PL.
- Outras investigações: Denúncias por abuso de poder econômico seguem em andamento.
- Efeito cascata: Anulação de votos pode afetar deputados eleitos em 2022.
Tensão entre STF e Câmara
A atuação do STF em casos como o de Zambelli reforça o papel do Judiciário como fiscal do Legislativo, mas também alimenta críticas de interferência. A decisão de Moraes de considerar “inaplicável” a resolução da Câmara que protegia deputados de ações penais foi vista como uma resposta direta às tentativas do Legislativo de limitar o alcance do Supremo. O caso de Alexandre Ramagem, cujo processo também foi mantido por Moraes, ilustra essa dinâmica.
Deputados conservadores planejam articular uma reação na Câmara, incluindo propostas para reforçar a imunidade parlamentar. No entanto, a falta de consenso e a divisão interna no PL dificultam a implementação de medidas concretas. Enquanto isso, o STF segue julgando casos de outros parlamentares, como os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, sinalizando que a fiscalização judicial permanecerá rigorosa.
Legado político de Zambelli
Carla Zambelli deixa um legado marcado por polarização e combatividade. Para seus apoiadores, ela foi uma defensora incansável dos valores conservadores, enfrentando o que chamam de “sistema” em prol de seus eleitores. Para seus críticos, sua trajetória é um exemplo dos perigos da radicalização, com ações que desafiaram as instituições democráticas e alimentaram a desinformação.
Enquanto o STF decide seu futuro, Zambelli mantém sua base de apoio nas redes sociais, onde continua publicando mensagens de resistência. Sua saída da Câmara, caso confirmada, não significa o fim de sua influência, mas representa um obstáculo significativo para o bolsonarismo, que perde uma de suas vozes mais expressivas no Congresso.