sexta-feira, 5 dezembro, 2025

BC corta previsão do PIB para 1,9% em 2025 e sinaliza mais alta de juros em maio

Banco Central, economia

O Banco Central ajustou para baixo sua projeção de crescimento econômico em 2025, reduzindo a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,1% para 1,9%. O anúncio foi feito no relatório de política monetária do primeiro trimestre, publicado nesta quinta-feira, 27 de março. A revisão reflete um cenário de desaceleração da atividade econômica, influenciado por uma política monetária mais restritiva, com sucessivas altas na taxa de juros, e por um contexto global menos favorável. Em 2024, o PIB brasileiro cresceu 3,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas o ritmo deve perder força neste ano. A instituição também elevou a projeção de inflação para 5,1%, indicando que a meta de 3%, com teto de 4,5%, será novamente ultrapassada.

A desaceleração projetada pelo Banco Central está ligada a fatores como a alta dos juros, que alcançaram 14,25% ao ano após cinco aumentos consecutivos. Esse patamar, o mais elevado desde o período entre 2015 e 2016, reflete a estratégia da instituição para conter as pressões inflacionárias. Outro ponto destacado é a redução do impulso fiscal, com gastos públicos menores, e a moderação do crescimento global, que impactam diretamente a economia brasileira. O relatório aponta ainda que o hiato do produto, indicador que mede a diferença entre o PIB real e o potencial, segue positivo, sugerindo que a economia opera acima de sua capacidade, mas com sinais iniciais de arrefecimento.

No mesmo documento, o Banco Central sinalizou que a taxa de juros terá novo aumento em maio, embora em magnitude inferior ao ajuste de 1 ponto percentual observado nas últimas decisões. A medida visa reforçar o controle sobre a inflação, que deve permanecer em níveis elevados nos próximos meses. Representantes da instituição têm defendido que uma moderação no ritmo da economia é indispensável para trazer os preços de volta ao intervalo de tolerância da meta, fixada em 3% com variação de 1,5% para mais ou menos.

Pressões inflacionárias desafiam a meta

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar 2025 em 5,1%, conforme a nova estimativa do Banco Central, acima dos 4,5% projetados em dezembro passado. Esse índice supera o teto da meta e confirma um segundo ano consecutivo de descumprimento, já que em 2024 os preços também ficaram fora do intervalo estipulado. Para 2026, a previsão subiu de 3,6% para 3,7%, ainda próxima da meta de 3%, mas com risco crescente de desvio. A probabilidade de a inflação ultrapassar o limite tolerado passou de 50% para 70% em 2025 e de 26% para 28% no ano seguinte.

Nos próximos meses, os preços ao consumidor devem manter variações mensais altas, com a inflação acumulada em 12 meses girando ao redor de 5,5%. O segmento de alimentação no domicílio é um dos principais responsáveis por essa pressão, especialmente os alimentos in natura e as proteínas. A oferta restrita de boi gordo, combinada a uma demanda externa aquecida, mantém os custos elevados. Já os alimentos industrializados, embora possam apresentar alguma moderação, não devem aliviar significativamente o índice geral.

Fatores que impulsionam os preços

Diversos elementos contribuem para o cenário inflacionário. A depreciação do real ao longo do último ano encarece bens importados e pressiona os preços de produtos industriais. No setor de combustíveis, o etanol deve registrar queda sazonal, mas isso não será suficiente para compensar a alta generalizada. A energia elétrica, que começou o ano com bandeira tarifária verde, enfrenta agora um quadro mais adverso devido à piora das condições hídricas em fevereiro e março, o que pode alterar as projeções para os próximos meses.

O mercado de trabalho aquecido também exerce influência sobre os serviços, cuja inflação segue em patamar elevado. Mesmo com sinais de arrefecimento em categorias como alimentação fora de casa, a disseminação dos aumentos de preços nesse setor reflete uma inércia inflacionária persistente. O Banco Central avalia que a combinação de uma economia operando acima do potencial e choques de oferta mantém a necessidade de uma política monetária mais dura.

Impactos da política monetária

A sequência de altas na taxa Selic, iniciada para frear a escalada dos preços, já soma cinco ajustes consecutivos. O atual nível de 14,25% ao ano remete ao período de maior aperto monetário durante o governo de Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016. O Banco Central reconhece que os efeitos dos juros sobre a economia se manifestam com atraso e de forma variável, o que exige uma condução cuidadosa da política monetária. A próxima elevação, prevista para maio, será calibrada com base na evolução dos indicadores econômicos e na persistência das pressões inflacionárias.

A instituição destaca que o horizonte para o retorno da inflação à meta depende da natureza dos choques econômicos e dos mecanismos de transmissão em curso. Caso a inflação permaneça fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, o Banco Central terá de enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhando as razões do descumprimento e as medidas para corrigir o desvio. Esse mecanismo faz parte do regime de meta contínua, adotado desde o início de 2025.

Alimentos e energia no radar

Os preços da alimentação no domicílio devem seguir como um dos principais desafios. Produtos in natura, que tiveram variações mais contidas recentemente, tendem a subir acima da sazonalidade esperada. No caso das proteínas, a restrição na oferta de boi gordo deve persistir ao longo do ano, agravada por uma demanda internacional robusta. Esses fatores limitam a possibilidade de alívio nos custos de itens básicos para as famílias brasileiras.

Na energia elétrica, o cenário hídrico desfavorável em fevereiro e março contrasta com o início do ano, quando as condições permitiram a manutenção da bandeira verde. Até junho, a projeção do Banco Central considera a ausência de sobretaxas, mas a volatilidade climática pode alterar esse quadro. Já os bens industriais seguem pressionados pela alta nos preços ao produtor e pelo impacto da desvalorização cambial, que eleva os custos de insumos importados.

Cronograma da inflação em 2025

A trajetória da inflação neste ano já tem marcos definidos pelo Banco Central:

  • A meta será ultrapassada a partir de junho, com o IPCA acumulado em 12 meses acima de 5,5%.
  • Variações mensais elevadas devem persistir até meados do ano, puxadas por alimentos e serviços.
  • A revisão das bandeiras tarifárias de energia elétrica pode ocorrer no segundo semestre, dependendo das chuvas.
  • Para 2026, a expectativa é de uma desaceleração gradual, com o IPCA se aproximando de 3,7%.

Sinais de moderação na economia

Apesar do crescimento de 3,4% em 2024, os primeiros indicadores de 2025 apontam para uma perda de fôlego. Em janeiro, a prévia do PIB calculada pelo Banco Central registrou alta de 0,9%, mas os dados mais recentes sugerem uma desaceleração. O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou no início de março que a economia mostra sinais de moderação, um movimento considerado essencial para aliviar as pressões sobre os preços.

O mercado de trabalho, embora ainda aquecido, começa a dar sinais de arrefecimento, o que pode reduzir a demanda por bens e serviços. A combinação de juros altos e menor estímulo fiscal também contribui para esse cenário. O Banco Central avalia que o dinamismo da atividade econômica, observado nos últimos meses, está cedendo lugar a uma trajetória mais contida, alinhada com os objetivos de controle inflacionário.

Desafios para os próximos meses

Os preços dos serviços devem continuar em níveis elevados, refletindo a força do mercado de trabalho e a inércia inflacionária. Itens como transporte, educação e saúde, que compõem esse segmento, têm registrado aumentos consistentes. A alimentação fora de casa, embora com alguma desaceleração, não deve compensar a alta disseminada nos demais serviços.

A depreciação do real, acumulada ao longo do último ano, segue como um fator de risco. Ela encarece produtos importados e eleva os custos de produção, impactando desde bens industriais até insumos agrícolas. O Banco Central projeta que esses efeitos continuarão a ser sentidos ao longo de 2025, dificultando a convergência da inflação para a meta.

O que esperar da política monetária

A sinalização de um novo aumento dos juros em maio reforça a postura contracionista do Banco Central. A magnitude do ajuste, inferior a 1 ponto percentual, indica uma calibragem mais fina na tentativa de equilibrar o controle da inflação com os impactos sobre a atividade econômica. A instituição enfatiza que os efeitos das decisões atuais só serão plenamente percebidos com o passar do tempo, devido às defasagens naturais da política monetária.

O relatório destaca ainda que a comunicação com o mercado será ajustada conforme a evolução do cenário. Se a inflação não retornar ao intervalo de tolerância no prazo estipulado, novas medidas serão anunciadas, acompanhadas de uma revisão das estratégias em curso. Esse processo inclui a possibilidade de uma segunda carta pública ao ministro da Fazenda, caso as projeções sejam novamente frustradas.

Números que explicam o cenário

O panorama econômico de 2025 pode ser resumido em alguns dados-chave:

  • PIB projetado: 1,9%, ante 2,1% da estimativa anterior.
  • Inflação esperada: 5,1% em 2025 e 3,7% em 2026.
  • Taxa Selic atual: 14,25% ao ano, com nova alta prevista para maio.
  • Teto da meta de inflação: 4,5%, ultrapassado pelo segundo ano seguido.

Perspectivas para os consumidores

A alta persistente dos preços deve continuar afetando o bolso das famílias brasileiras. Alimentos como carne bovina, frutas e legumes, além de serviços essenciais, como transporte e energia, seguirão como os principais vilões do orçamento doméstico. A moderação no ritmo da economia, embora necessária para o controle da inflação, pode trazer reflexos no mercado de trabalho, com menor geração de empregos formais.

O Banco Central mantém o foco em ancorar as expectativas de inflação, mas o cenário de curto prazo permanece desafiador. A combinação de choques de oferta, câmbio desvalorizado e demanda ainda aquecida exige um esforço contínuo para evitar que os preços se descontrolem ainda mais nos próximos meses.

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