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Banco Central rejeita mudanças no IOF; Haddad desmente negociações com Galípolo

Banco Central, economia

A decisão do governo federal de alterar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) gerou intensos debates no mercado financeiro na última quinta-feira, 22 de maio de 2025. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou inicialmente um aumento nas alíquotas do tributo, mas horas depois negou qualquer negociação prévia com o Banco Central (BC) sobre o tema. A medida, que impactaria diretamente operações de crédito e câmbio, enfrentou resistência de corretoras e entidades financeiras. Fontes consultadas apontam que o BC, liderado por Gabriel Galípolo, posicionou-se contra as mudanças, enquanto o mercado reagiu com volatilidade à falta de clareza na comunicação oficial.

Haddad usou sua conta na rede social X às 20h20 do mesmo dia para esclarecer que “nenhuma das medidas fiscais anunciadas foi negociada com o BC”. A declaração veio após o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmar, às 18h39, que o ministro havia tratado do aumento do IOF com o presidente do BC. A contradição entre as falas expôs um descompasso na equipe econômica, alimentando críticas de analistas e investidores. O governo, pressionado por reações negativas, recuou parcialmente na sexta-feira, 23 de maio, mantendo a alíquota zerada para investimentos de fundos nacionais no exterior.

  • Cronologia dos eventos: Anúncio do aumento do IOF na quinta-feira, 22 de maio.
  • Reação do mercado: Queda inicial do dólar, seguida de instabilidade no Ibovespa.
  • Posição do BC: Fontes indicam oposição às mudanças, sem pronunciamento oficial.
  • Recuo do governo: Revogação parcial do decreto na sexta-feira, 23 de maio.

Reações do mercado financeiro

O mercado financeiro sentiu o impacto imediato do anúncio do aumento do IOF. A alíquota, que subiria de 0,38% ou 1,1% para 3,5% em operações de câmbio, foi vista como uma tentativa de fortalecer a arrecadação federal, projetada em R$ 20 bilhões para 2025 e R$ 41 bilhões até 2026. No entanto, a medida gerou receios de controle cambial, com analistas apontando possíveis prejuízos à atratividade de investimentos no país. O dólar, que chegou a cair para R$ 5,59 na quinta-feira, voltou a subir com a incerteza.

Entidades como a Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord) criticaram a falta de diálogo com o setor. Um líder setorial, sem identificação, classificou a medida como uma “trapalhada total” devido à ausência de consulta prévia. A possibilidade de cobrança retroativa em transações já contratadas também levantou preocupações sobre insegurança jurídica, especialmente para operações com prazo de liquidação em D+2.

Detalhes das mudanças propostas

O decreto original, publicado no Diário Oficial da União (DOU) às 15h de quinta-feira, previa a unificação da alíquota de IOF em 3,5% para diversas operações financeiras. A medida abrangia cartões de crédito e débito internacionais, remessas de recursos para investimentos no exterior, compra de moeda estrangeira em espécie e empréstimos externos de curto prazo. Para cooperativas com operações acima de R$ 100 milhões anuais, o tributo seria equiparado ao de empresas comuns.

  • Cartões internacionais: Alíquota subiria de 3,38% para 3,5% até 2029.
  • Empréstimos externos: Taxação de 3,5% para operações de até 364 dias.
  • Investimentos no exterior: Alíquota passaria de zero para 3,5%, mas foi mantida em zero após recuo.
  • Compra de moeda em espécie: Unificação em 3,5%, contra 1,1% anterior.
  • Cooperativas de crédito: Novas regras para operações de grande porte.

A proposta inicial revogava um cronograma estabelecido em 2022, que previa a redução progressiva do IOF até sua eliminação em 2028, como parte do compromisso do Brasil para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A reversão parcial, anunciada na sexta-feira, preservou a isenção para fundos de investimento no exterior, mas manteve as demais alterações.

Posicionamento do Banco Central

O Banco Central, segundo fontes próximas à instituição, manifestou-se internamente contra as mudanças no IOF. A autarquia, que não emitiu comunicado oficial, teria alertado para os riscos de desestímulo a investimentos estrangeiros e aumento do custo de operações financeiras. A ausência de diálogo com o BC, conforme negado por Haddad, reforçou a percepção de descoordenação entre a política fiscal do Ministério da Fazenda e a política monetária da autarquia.

Gabriel Galípolo, presidente do BC, tem defendido a autonomia da instituição em meio a debates sobre a condução da política econômica. Em eventos recentes, ele destacou a importância de manter o regime de câmbio flutuante, que permite ao mercado determinar o valor do real sem intervenções diretas. A tentativa de elevar o IOF, segundo analistas, poderia ser interpretada como uma forma indireta de controle cambial, algo que contraria a postura técnica do BC.

Críticas do setor financeiro

A reação do setor financeiro foi marcada por críticas à forma como o governo conduziu o processo. Corretoras de câmbio e bancos apontaram que o aumento do IOF elevaria os custos de transações internacionais, impactando desde pessoas físicas até grandes empresas. Um executivo do setor varejista alertou que a tributação de recebíveis poderia obrigar empresas a reconhecerem esses valores como dívida, gerando chamadas de capital e até falências.

A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e outras entidades setoriais manifestaram preocupação com a falta de previsibilidade. Um comunicado apócrifo, atribuído à Anbima, circulou em grupos de WhatsApp do mercado financeiro, questionando a legalidade da aplicação retroativa do tributo. Embora a Anbima não tenha confirmado a autoria, a nota refletiu o descontentamento do setor com a medida.

Recuo estratégico do governo

Na sexta-feira, 23 de maio, o governo anunciou a revogação parcial do decreto, após reunião com a Casa Civil. A alíquota de IOF para aplicação de fundos nacionais em investimentos no exterior foi mantida em zero, atendendo a demandas do mercado financeiro. Haddad, em São Paulo, justificou o recuo afirmando que o governo recebeu “subsídios de pessoas que operam os mercados” apontando possíveis problemas na medida original.

O ministro destacou que o impacto financeiro da revogação seria baixo, estimado em menos de R$ 2 bilhões, dentro de um pacote fiscal de R$ 54 bilhões. Ele reforçou que o diálogo com o mercado tem sido constante, mas evitou comentar as divergências internas na equipe econômica. A decisão foi vista como um esforço para conter a volatilidade nos mercados e recuperar a confiança de investidores.

Histórico de polêmicas com o IOF

O IOF tem sido um instrumento recorrente na política econômica brasileira, usado tanto para arrecadação quanto para regulação de fluxos financeiros. Em 2024, Haddad negou em pelo menos quatro ocasiões rumores sobre alterações no tributo para conter a alta do dólar, que atingiu picos de R$ 5,68 em julho e R$ 6,10 no final do ano. Em todas as ocasiões, o ministro enfatizou a importância da comunicação clara sobre a autonomia do BC e a rigidez do arcabouço fiscal.

  • Julho de 2024: Haddad nega mudanças no IOF após dólar atingir R$ 5,65.
  • Janeiro de 2025: Ministro descarta aumento do tributo e prevê “acomodação natural” do câmbio.
  • Maio de 2025: Anúncio e recuo parcial do aumento do IOF em menos de 24 horas.

A insistência do governo em usar o IOF como ferramenta fiscal tem gerado atritos com o mercado, que cobra maior transparência e planejamento. Em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que reduzia gradualmente o IOF sobre câmbio, alinhado aos compromissos da OCDE. A tentativa de reverter esse cronograma em 2025 reacendeu debates sobre a consistência da política econômica.

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – Foto: rafastockbr/ Shutterstock.com

Efeitos no crédito e no varejo

O aumento do IOF, mesmo com o recuo parcial, deve elevar o custo de operações de crédito, especialmente para empresas que dependem de empréstimos externos. Especialistas apontam que a tributação de recebíveis pode impactar o setor varejista, que enfrenta margens apertadas em um cenário de juros elevados. O encarecimento das operações financeiras tende a ser repassado aos consumidores, pressionando preços de bens e serviços.

No caso de pessoas físicas, a unificação da alíquota em 3,5% para cartões internacionais e compra de moeda estrangeira eleva os custos de viagens e transações no exterior. Um especialista em investimentos offshore estimou que a medida impactará fortemente quem realiza negociações internacionais, como remessas para contas bancárias no exterior ou uso de cartões pré-pagos.

Relação entre Fazenda e Banco Central

A divergência entre Haddad e Durigan sobre o diálogo com o BC expôs tensões na relação entre o Ministério da Fazenda e a autarquia. Embora o ministro tenha negado negociações com Galípolo, a fala inicial do secretário-executivo sugeriu uma tentativa de alinhamento que não se concretizou. Analistas interpretam o episódio como um sinal de falta de coordenação na formulação de políticas econômicas.

O BC, sob a gestão de Galípolo, tem buscado reforçar sua independência, conquistada formalmente em 2021. A resistência da autarquia às mudanças no IOF reflete a prioridade de manter a estabilidade do mercado financeiro, em um momento de pressões externas, como a valorização global do dólar e incertezas sobre a política econômica dos Estados Unidos.

Repercussão política

O recuo do governo no aumento do IOF foi interpretado por parlamentares como um reconhecimento de erro estratégico. Deputados da oposição, como Mauro Benevides (PDT-CE), defenderam a necessidade de maior diálogo com o Congresso antes de medidas fiscais de grande impacto. Benevides, integrante do grupo de trabalho da reforma tributária, afirmou que o Legislativo está comprometido com a aprovação de medidas que promovam crescimento econômico, mas cobrou mais transparência do Executivo.

No Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou comentar diretamente o episódio. Em evento com prefeitos na quinta-feira, Lula foi vaiado ao defender a política econômica do governo, sinalizando a insatisfação de parte do público com as recentes decisões fiscais. A agenda do presidente na sexta-feira incluiu reuniões para discutir o Orçamento de 2025, que deve ser votado em fevereiro.

Custos para empresas e consumidores

A unificação da alíquota do IOF em 3,5% para operações de câmbio e crédito tem impactos diretos e indiretos na economia. Empresas que tomam crédito externo enfrentarão custos mais altos, o que pode limitar investimentos e contratações. No varejo, a tributação de recebíveis deve elevar os preços de produtos, especialmente em setores como eletrodomésticos e vestuário, que dependem de vendas parceladas.

  • Custo para consumidores: Aumento de 0,12% na alíquota de cartões internacionais.
  • Impacto no varejo: Possível repasse de custos em vendas a prazo.
  • Empresas exportadoras: Maior custo em operações de câmbio para remessas.
  • Setor de turismo: Encargos maiores em compras de moeda para viagens.

A medida também afeta cooperativas de crédito, que passam a ser tributadas como grandes empresas em operações acima de R$ 100 milhões. Essa equiparação, segundo analistas, pode desestimular o crescimento de cooperativas regionais, que desempenham um papel importante no acesso ao crédito em pequenas cidades.

Cenário econômico global

A decisão de aumentar o IOF ocorre em um momento de incertezas no mercado internacional. A valorização do dólar, impulsionada por expectativas sobre a política econômica do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tem pressionado moedas de países emergentes. Em janeiro de 2025, Haddad atribuiu a instabilidade cambial a fatores externos, descartando intervenções diretas no regime de câmbio flutuante.

O Brasil, que mantém um regime de câmbio flutuante desde 1999, enfrenta desafios para atrair investimentos estrangeiros em um contexto de alta carga tributária. A elevação do IOF, mesmo que parcial, reforça a percepção de que o governo prioriza a arrecadação em detrimento da competitividade econômica, segundo especialistas em comércio exterior.

Debate sobre arrecadação fiscal

O aumento do IOF faz parte de um pacote fiscal anunciado pelo governo para equilibrar as contas públicas. O Ministério da Fazenda projeta arrecadar R$ 54 bilhões com diversas medidas, incluindo a tributação de fundos de investimento e ajustes em outros impostos. O IOF, por sua natureza regulatória, é um instrumento flexível, mas seu uso frequente gera críticas por impactar diretamente o custo de vida e a atividade econômica.

Haddad defendeu que o ajuste no IOF é um “pequeno ajuste” para atingir a meta fiscal de 2025. No entanto, o recuo na tributação de investimentos no exterior indica que o governo está atento às reações do mercado. A necessidade de ampliar o contingenciamento orçamentário, mencionada pelo ministro, sugere que novas medidas fiscais podem ser anunciadas nas próximas semanas.

Perspectiva do mercado de câmbio

O mercado de câmbio, que opera com alta sensibilidade a mudanças tributárias, reagiu com cautela ao recuo parcial do governo. Operadores apontam que a manutenção da alíquota de 3,5% para cartões internacionais e remessas ao exterior deve encarecer operações de turismo e investimentos. A taxa do dólar, que oscilou entre R$ 5,59 e R$ 6,10 nos últimos meses, reflete a incerteza sobre a direção da política econômica.

Analistas da StoneX Banco de Câmbio estimam que a elevação do IOF pode afastar investidores estrangeiros, que já enfrentam barreiras como a complexidade tributária brasileira. A percepção de que o governo busca equilibrar as contas com aumento de receita, em vez de cortes de gastos, reacendeu temores de deterioração fiscal, reminiscentes do período em que o dólar superou R$ 6,00.

Papel do IOF na economia brasileira

O IOF é um tributo federal que incide sobre operações financeiras, como crédito, câmbio, seguros e investimentos. Sua flexibilidade permite ao governo ajustar alíquotas por decreto, sem necessidade de aprovação legislativa, o que o torna uma ferramenta ágil, mas controversa. Historicamente, o imposto foi usado para desestimular o consumo de crédito, regular fluxos de capital e aumentar a arrecadação em momentos de crise.

  • Arrecadação: Principal função fiscal do IOF, com impacto imediato nas contas públicas.
  • Regulação: Usado para incentivar ou desestimular comportamentos econômicos, como remessas ao exterior.
  • Impacto indireto: Encargos repassados a consumidores elevam preços de bens e serviços.
  • Críticas: Setor financeiro cobra maior previsibilidade e diálogo antes de mudanças.

A decisão de aumentar o IOF em maio de 2025 reflete a pressão do governo para cumprir metas fiscais em um ano de desafios econômicos. A rápida reversão parcial, no entanto, destaca a dificuldade de implementar medidas impopulares em um contexto de alta sensibilidade do mercado.

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