Por Eliton Muniz – Cidade AC News
Noite após noite, o mesmo roteiro
Na Avenida Antônio da Rocha Viana, uma das principais ligações viárias de Rio Branco, o barulho não é apenas incômodo — é sintoma de um problema maior: rachas, acrobacias perigosas e som automotivo em níveis que ultrapassam qualquer limite legal.
Para os moradores, a paisagem sonora é marcada pelo ronco de motores modificados, estalos de escapamento e músicas que atravessam paredes e madrugadas.
“A gente não dorme mais. Não é só barulho — é medo de atravessar a rua e ser atingido”, relata Maria do Carmo, moradora há 25 anos.
Os acidentes que já mancharam a via
O caso mais recente e emblemático ocorreu em 29 de junho de 2025, quando uma idosa de 79 anos foi atropelada e não resistiu aos ferimentos. Câmeras de segurança mostraram o fluxo intenso e o desrespeito à travessia de pedestres.
Não é um episódio isolado. Nos últimos anos, vídeos de quedas de motociclistas, colisões múltiplas e quase-acidentes circulam nas redes — sempre na mesma geografia de risco.
Quem deveria agir — e o que foi feito até agora
A fiscalização, no papel, é clara:
- Polícia Militar (CIATRAN): coibir rachas e manobras perigosas.
- Detran-AC: monitorar, aplicar multas e remover veículos irregulares.
- Prefeitura/Semeia: atuar em casos de poluição sonora e uso irregular de vias.
Medidas já adotadas incluem obras de recapeamento e drenagem, ações educativas do Detran e investigações pontuais da Polícia Civil. Mas, para moradores, isso é paliativo.
“Não adianta só asfalto novo. Se não tiver blitz à noite e câmera pegando placa, vai continuar igual”, afirma João Batista, comerciante da região.
O que falta para mudar o cenário
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam um pacote mínimo de medidas:
- Instalação de lombadas eletrônicas com monitoramento de velocidade e som.
- Blitz regulares em horários críticos (noite e madrugada).
- Uso de câmeras inteligentes para identificar placas e aplicar multas automáticas.
- Resposta rápida a denúncias, com integração entre PM, Detran e Prefeitura.
O Ministério Público do Acre confirma que já recebeu representações sobre a avenida e estuda medidas, incluindo eventual Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os órgãos responsáveis.
A batalha das provas
Moradores agora investem em tecnologia própria. Câmeras de segurança particulares e celulares registram flagrantes de rachas e abusos. O material é compilado em um dossiê, que será entregue ao MPAC, à Ouvidoria da Segurança Pública e à imprensa local.
Segundo juristas, provas audiovisuais com data, hora e local definidos têm peso significativo para abrir inquéritos e fundamentar ações civis públicas.
Por que é tão difícil fiscalizar?
Fontes internas admitem três obstáculos:
- Falta de efetivo suficiente para blitz noturnas frequentes.
- Equipamentos de medição sonora e de velocidade limitados e, em alguns casos, descalibrados.
- Ausência de protocolos claros para atuação conjunta entre órgãos.
“O problema não é só falta de lei. É falta de coordenação e prioridade”, resume Carlos Henrique, especialista em segurança viária.
Enquanto isso, o risco permanece
A cada final de semana, a avenida mantém seu “calendário” de risco: motores acelerando, manobras perigosas, som ensurdecedor e a sensação de que nada muda.
Para os moradores, o próximo passo é endurecer a cobrança com apoio jurídico e político — e transformar o barulho das ruas no eco de uma mobilização.
“Se as autoridades não querem agir, nós vamos agir para que elas sejam obrigadas a agir”, diz Maria do Carmo.
Conclusão:
A Antônio da Rocha Viana não é só uma avenida movimentada de Rio Branco. Hoje, é um símbolo de como a omissão do poder público pode transformar um espaço urbano em território de risco — e como a mobilização popular pode ser a única via possível para mudar o trajeto.
Por Eliton Lobato Muniz
Estágiario de Jornalista multimídia do do Cidade AC News, com foco em notícias quentes, investigativas e hiperlocais. Coluna assinada com olhar crítico e compromisso com a verdade dos fatos.
