Anvisa analisa 41 suplementos de creatina e aponta falhas em rótulos de 40 marcas no Brasil
A análise de suplementos de creatina ganhou destaque no Brasil após a divulgação de resultados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que examinou 41 produtos de 29 fabricantes. A investigação, realizada ao longo do segundo semestre de 2024, avaliou aspectos como teor de creatina, adequação de rotulagem e presença de matérias estranhas. Enquanto os teores do suplemento se mostraram, em grande parte, dentro das normas, problemas de rotulagem foram identificados em quase todos os produtos, levantando debates sobre a transparência no mercado de suplementos alimentares. A única marca que passou ilesa em todos os testes foi a Creatine Monohydrate – 100% Pure, da Atlhetica Nutrition, fabricada pela ADS Laboratório Nutricional.
Os suplementos de creatina são amplamente consumidos por atletas e praticantes de atividades físicas, especialmente para melhorar a força e a resistência muscular. No Brasil, o mercado desses produtos cresceu exponencialmente nos últimos anos, impulsionado pelo aumento da busca por um estilo de vida saudável e pela popularização das academias. Contudo, a qualidade e a confiabilidade das informações fornecidas pelos fabricantes têm sido alvo de questionamentos, o que motivou a Anvisa a realizar uma análise detalhada.
A coleta das amostras ocorreu em cinco estados brasileiros – Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo –, refletindo a concentração do mercado de suplementos nessas regiões. As amostras, obtidas em triplicata para garantir a precisão dos resultados, foram analisadas pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referência em testes laboratoriais no país.
A avaliação da Anvisa revelou que, em relação ao teor de creatina, a maioria dos produtos atende às normas vigentes. A legislação brasileira permite uma variação de até 20% em relação ao teor declarado no rótulo, com um valor de referência de 3.000 mg por porção. Apenas um suplemento apresentou teor abaixo do esperado, mas a marca não foi revelada, pois está sob processo administrativo.
Apesar do bom desempenho no teor de creatina, a análise de rotulagem trouxe resultados preocupantes. Dos 41 produtos examinados, 40 apresentaram algum tipo de irregularidade nos rótulos, como informações enganosas ou ausência de dados obrigatórios. Esses problemas podem confundir consumidores e comprometer a segurança do uso dos suplementos.
A análise também verificou a presença de matérias estranhas, como contaminantes ou substâncias não declaradas. Nesse quesito, todos os produtos foram aprovados, indicando que os suplementos analisados não representam riscos diretos à saúde por contaminação.
A rotulagem correta é essencial para orientar o consumidor sobre o uso seguro e eficaz dos suplementos. No caso da creatina, informações claras sobre a dosagem e os ingredientes são cruciais, especialmente para atletas que dependem da precisão dessas indicações para otimizar o desempenho.
As irregularidades encontradas pela Anvisa, embora não representem risco imediato à saúde, podem gerar confusão. Por exemplo, alegações exageradas ou em língua estrangeira podem levar consumidores a acreditar que o produto oferece benefícios não comprovados. Além disso, a ausência de dados sobre a quantidade de porções ou a composição nutricional dificulta o planejamento de uma suplementação adequada.
O mercado de suplementos no Brasil é regulado pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 843/2024 e pela Instrução Normativa (IN) 281/2024. Essas normas estabelecem que todos os suplementos devem ser notificados à Anvisa antes de serem comercializados. A partir de 1º de setembro de 2025, produtos já disponíveis no mercado também precisarão estar regularizados, reforçando a necessidade de conformidade com as regras de rotulagem.
O crescimento do mercado de suplementos no Brasil reflete uma mudança cultural, com mais pessoas buscando melhorar a performance física e a saúde. A creatina, em particular, é valorizada por sua capacidade de aumentar a força e a resistência muscular, sendo amplamente usada em treinos de alta intensidade, como musculação e crossfit.
Nos últimos anos, o setor enfrentou desafios relacionados à qualidade dos produtos. Levantamentos anteriores, realizados por entidades como a Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), apontaram problemas graves, incluindo suplementos com teores de creatina muito abaixo do declarado ou até mesmo sem o composto. Esses relatórios geraram polêmicas e ações judiciais por parte de fabricantes, que questionaram a metodologia das análises.
A análise da Anvisa, no entanto, sugere uma possível autorregulação do mercado. Comparada aos resultados de 2022 e 2023, a atual avaliação indica que os fabricantes podem estar ajustando seus processos para atender às exigências regulatórias, especialmente no que diz respeito ao teor de creatina.
A lista de produtos analisados pela Anvisa abrange marcas populares no mercado brasileiro, refletindo a diversidade de opções disponíveis. Abaixo, algumas das marcas examinadas:
A única marca com teor de creatina abaixo do esperado está sob investigação, e seu nome permanece confidencial até a conclusão do processo administrativo.
As falhas de rotulagem identificadas pela Anvisa podem levar a notificações aos fabricantes, que terão de corrigir os problemas para manter seus produtos no mercado. Para os consumidores, esses resultados reforçam a importância de escolher marcas confiáveis e verificar as informações nos rótulos antes da compra.
A creatina é considerada segura quando consumida dentro das doses recomendadas – geralmente 3 a 5 gramas por dia, dependendo do peso corporal e dos objetivos do usuário. No entanto, informações incorretas nos rótulos podem levar a doses inadequadas, reduzindo a eficácia do suplemento ou causando desconforto, como problemas gastrointestinais.
Para os fabricantes, a análise da Anvisa serve como um alerta. A necessidade de ajustar rótulos e processos produtivos pode aumentar os custos, mas também representa uma oportunidade de ganhar a confiança dos consumidores por meio de maior transparência.
A creatina é um composto natural formado por três aminoácidos – glicina, arginina e metionina – e produzido pelo organismo, principalmente no fígado, rins e pâncreas. Ela também é encontrada em alimentos como carne vermelha e peixe, mas a suplementação permite atingir doses mais altas, ideais para quem busca melhorar a performance física.
No corpo, a creatina atua como uma fonte de energia para os músculos, ajudando a regenerar o trifosfato de adenosina (ATP), essencial para atividades de curta duração e alta intensidade. Além disso, estudos apontam benefícios adicionais, como a prevenção da sarcopenia (perda de massa muscular) em idosos e a melhora da cognição em algumas populações.
Para maximizar os efeitos da creatina, é recomendado:
A partir de setembro de 2025, todos os suplementos comercializados no Brasil precisarão estar regularizados junto à Anvisa, conforme as normas vigentes. Essa exigência deve intensificar a fiscalização e pressionar os fabricantes a corrigirem falhas, como as identificadas na rotulagem.
A análise da Anvisa também destaca a importância de laboratórios certificados, como o INCQS/Fiocruz, na garantia da qualidade dos suplementos. A coleta em triplicata e os métodos rigorosos utilizados reforçam a confiabilidade dos resultados, oferecendo aos consumidores uma base sólida para avaliar os produtos disponíveis.
O mercado de suplementos deve continuar crescendo, impulsionado pela demanda por produtos que melhorem a performance e a saúde. No entanto, a transparência e a conformidade com as normas regulatórias serão fundamentais para manter a confiança dos consumidores e evitar problemas como os identificados nas análises anteriores.
Abaixo, a relação dos 41 produtos examinados pela Anvisa, com destaque para suas respectivas marcas e fabricantes:
Essa lista reflete a ampla variedade de marcas disponíveis no mercado, mas também evidencia a necessidade de maior atenção à rotulagem para garantir a confiabilidade dos produtos.
O setor de suplementos enfrenta o desafio de equilibrar a inovação com a conformidade regulatória. A popularidade da creatina, aliada à concorrência acirrada, levou algumas marcas a adotarem práticas que comprometem a transparência, como alegações exageradas nos rótulos.
Por outro lado, a análise da Anvisa oferece uma oportunidade para que as empresas revisem seus processos e invistam em qualidade. Marcas que priorizarem a conformidade com as normas e a clareza nas informações podem se destacar em um mercado cada vez mais exigente.
A educação do consumidor também desempenha um papel crucial. Campanhas de conscientização sobre a importância de verificar rótulos e escolher produtos certificados podem ajudar a reduzir os riscos associados a suplementos de baixa qualidade.
Escolher um suplemento de creatina confiável requer atenção a alguns detalhes. Consumidores devem priorizar produtos de marcas reconhecidas e com boa reputação no mercado. Além disso, é importante verificar se o produto possui notificações junto à Anvisa, o que garante sua regularidade.
Outro ponto a considerar é a presença de selos de qualidade, como o Creapure, que atesta a pureza da creatina. Evitar preços muito abaixo da média também é uma precaução, já que produtos excessivamente baratos podem conter ingredientes de baixa qualidade ou até mesmo substâncias não declaradas.
A Anvisa planeja continuar monitorando o mercado de suplementos, com foco na regularização de produtos e na correção de falhas de rotulagem. As notificações aos fabricantes devem ser emitidas nos próximos meses, e as empresas terão prazos para ajustar seus rótulos às exigências regulatórias.
A entrada em vigor das novas normas, em setembro de 2025, marcará um marco importante para o setor. A expectativa é que a fiscalização mais rigorosa resulte em um mercado mais seguro e transparente, beneficiando tanto os consumidores quanto os fabricantes comprometidos com a qualidade.