A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou, em 23 de abril de 2025, os resultados de uma análise detalhada de 41 suplementos alimentares de creatina comercializados no Brasil, envolvendo 29 empresas fabricantes. O estudo, realizado no segundo semestre de 2024, avaliou três aspectos principais: o teor de creatina, a adequação da rotulagem e a presença de matérias estranhas. Embora os produtos tenham apresentado regularidade no teor de creatina, com apenas uma marca registrando variação abaixo do esperado, a rotulagem foi o principal ponto de preocupação. Dos 41 suplementos analisados, 40 apresentaram algum tipo de erro ou inconformidade nos rótulos, o que pode comprometer a informação fornecida aos consumidores. A única marca com rotulagem plenamente regular foi a Creatine Monohydrate – 100% Pure, da Atlhetica Nutrition, fabricada pela ADS Laboratório Nutricional. O estudo reflete um mercado em processo de autorregulação, mas ainda com desafios significativos para atender às normas sanitárias e garantir transparência aos usuários.
A análise foi conduzida pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com amostras coletadas em cinco estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Esses estados foram escolhidos por concentrarem a maior parte do mercado de suplementos no país. As coletas, realizadas em triplicata pelas Vigilâncias Sanitárias locais, seguiram os procedimentos estabelecidos pela Lei 6.437, de 20 de agosto de 1977, garantindo a reprodutibilidade dos resultados. O foco em embalagens de 300 gramas, o formato mais comum no mercado, permitiu uma avaliação representativa dos produtos mais consumidos por atletas e praticantes de atividades físicas.
Os resultados contrastam com levantamentos anteriores realizados pelo setor produtivo, que apontavam problemas mais graves, como ausência total de creatina em algumas marcas. A regularidade no teor de creatina observada em 2024 sugere que os fabricantes ajustaram seus processos produtivos após críticas e fiscalizações nos últimos anos. Contudo, as falhas na rotulagem indicam que o setor ainda precisa melhorar a comunicação com os consumidores, especialmente em um mercado que cresce exponencialmente devido à popularidade da creatina entre frequentadores de academias.
- Teor de creatina: Apenas uma marca apresentou variação superior a 20% no teor declarado, estando sob investigação administrativa.
- Rotulagem: 40 marcas tiveram erros, como alegações indevidas e tabelas nutricionais fora do padrão.
- Matérias estranhas: Nenhuma marca apresentou contaminação ou impurezas nos produtos analisados.
Importância da creatina no mercado brasileiro
A creatina, um composto formado pelos aminoácidos glicina, arginina e metionina, é naturalmente produzida pelo organismo e encontrada em alimentos como carne vermelha e peixe. No entanto, a suplementação tornou-se uma prática comum entre atletas e praticantes de musculação devido aos benefícios comprovados, como aumento da força, resistência muscular e recuperação mais rápida após treinos intensos. No Brasil, o mercado de suplementos alimentares movimenta bilhões de reais anualmente, com a creatina sendo um dos produtos mais vendidos, especialmente em academias e lojas especializadas.
O crescimento da demanda por creatina reflete a popularização da musculação e de esportes de alta intensidade. Estima-se que mais de 10 milhões de brasileiros consumam suplementos alimentares regularmente, com a creatina liderando as preferências entre homens e mulheres que buscam melhorar o desempenho físico. A acessibilidade do produto, disponível em pó, cápsulas e até gomas, contribui para sua ampla adoção, mas também aumenta a necessidade de fiscalização rigorosa para garantir a qualidade e a segurança dos suplementos.
A análise da Anvisa destaca a importância de regulamentações específicas para o setor. Desde a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 843/2024 e da Instrução Normativa (IN) 281/2024, os suplementos alimentares devem ser notificados à agência antes de serem comercializados. A partir de 1º de setembro de 2025, todos os produtos já existentes no mercado precisarão estar regularizados, o que pode intensificar a fiscalização e pressionar os fabricantes a corrigirem inconformidades.
Problemas na rotulagem dos suplementos
As falhas na rotulagem foram o principal destaque negativo do relatório da Anvisa. Dos 41 produtos avaliados, apenas um apresentou rotulagem totalmente adequada, enquanto os demais continham erros que variavam de pequenas inconsistências a infrações mais graves. Esses problemas podem confundir os consumidores, induzi-los a erros na dosagem ou levá-los a acreditar em benefícios não comprovados do produto.
Entre as irregularidades mais frequentes, estão as alegações indevidas, como promessas de propriedades terapêuticas ou benefícios não autorizados para a creatina. Alguns rótulos incluíam frases em línguas estrangeiras, como inglês ou espanhol, que atribuíam efeitos não permitidos pela regulamentação brasileira. Além disso, muitos produtos apresentavam tabelas nutricionais fora do padrão, omitindo informações obrigatórias, como a quantidade de açúcares totais ou adicionados, o número de porções por embalagem e a frequência de consumo recomendada.
Outro problema recorrente foi o uso de imagens ou palavras que poderiam induzir o consumidor a interpretações incorretas sobre o produto. Por exemplo, alguns rótulos sugeriam que a creatina poderia substituir refeições ou promover perda de peso, o que não é respaldado por evidências científicas. Essas falhas, embora não representem risco imediato à saúde, podem comprometer a transparência e a confiança dos consumidores no mercado de suplementos.
Regularidade no teor de creatina
Diferentemente das questões de rotulagem, o teor de creatina nos produtos analisados foi considerado satisfatório. A Anvisa permite uma variação de até 20% em relação ao valor declarado no rótulo, desde que o produto atenda ao valor de referência de 3.000 mg por porção. Dos 41 suplementos avaliados, apenas uma marca apresentou variação superior a esse limite, e o caso está em processo administrativo, impedindo a divulgação do nome da empresa.
A regularidade no teor de creatina é um avanço em relação a análises anteriores conduzidas pelo setor produtivo, que identificaram marcas com ausência total do composto ou variações significativas. Em 2022 e 2023, relatórios da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) apontaram que até 25 marcas comercializadas no Brasil apresentavam impurezas ou não continham a quantidade de creatina prometida. A melhora observada em 2024 sugere que os fabricantes estão investindo em controle de qualidade, possivelmente em resposta à pressão de consumidores e órgãos reguladores.
A ausência de matérias estranhas nos produtos também foi um ponto positivo. Todas as amostras analisadas passaram nos testes de contaminação, indicando que os suplementos são seguros do ponto de vista sanitário. Esse resultado reforça a importância de laboratórios credenciados, como o INCQS/Fiocruz, na garantia da qualidade dos produtos disponíveis no mercado.
- Alegações indevidas: Rótulos prometiam benefícios não autorizados, como efeitos terapêuticos.
- Tabelas nutricionais: Muitos produtos omitiam informações obrigatórias, como açúcares e porções.
- Controle de qualidade: A regularidade no teor de creatina indica melhorias nos processos produtivos.

Impacto das irregularidades no consumidor
As inconformidades na rotulagem, embora não representem risco imediato à saúde, podem ter consequências significativas para os consumidores. Informações incorretas ou incompletas nos rótulos dificultam a escolha de produtos adequados e podem levar a erros no uso, como dosagens inadequadas ou expectativas irreais sobre os benefícios da creatina. Para atletas profissionais, que dependem de suplementos para otimizar o desempenho, essas falhas podem comprometer os resultados esperados.
A creatina é amplamente reconhecida por sua eficácia em atividades de alta intensidade, como musculação e esportes de explosão. Estudos científicos mostram que a suplementação com 3 a 5 gramas diárias pode aumentar a força em até 8% e a massa muscular em 1 a 2 quilos após algumas semanas de uso, quando combinada com treino adequado. No entanto, rótulos mal elaborados podem levar os consumidores a ingerir quantidades insuficientes ou a acreditar em benefícios exagerados, como ganho muscular instantâneo ou perda de gordura.
Além disso, a presença de alegações indevidas pode gerar confusão sobre o papel da creatina na saúde. O suplemento é seguro para a maioria das pessoas, mas não é indicado para crianças, gestantes ou indivíduos com problemas renais sem orientação médica. Rótulos que omitem essas advertências ou sugerem usos inadequados podem expor os consumidores a riscos desnecessários.
Avanços na regulamentação do setor
A análise da Anvisa reflete um momento de transição no mercado brasileiro de suplementos alimentares. A introdução da RDC 843/2024 e da IN 281/2024 estabeleceu regras mais rigorosas para a comercialização de produtos como a creatina. Até setembro de 2025, todos os suplementos já existentes no mercado precisarão ser notificados à Anvisa, o que deve aumentar a transparência e a segurança para os consumidores.
Essas normas também determinam que os fabricantes forneçam informações claras e precisas nos rótulos, incluindo a composição do produto, a dose recomendada e eventuais advertências. A obrigatoriedade de notificação prévia permitirá que a Anvisa monitore o mercado de forma mais eficaz, identificando rapidamente produtos que não cumprem os padrões sanitários.
A autorregulação do setor, observada na melhora do teor de creatina, também é um sinal positivo. Fabricantes como a ADS Laboratório Nutricional, responsável pela Atlhetica Nutrition, demonstraram conformidade total, servindo como exemplo para outras empresas. No entanto, a persistência de problemas na rotulagem indica que o setor ainda enfrenta desafios para se alinhar completamente às exigências regulatórias.
Marcas analisadas e resultados detalhados
A lista de produtos analisados pela Anvisa inclui algumas das marcas mais conhecidas do mercado brasileiro, como Max Titanium, Probiótica, Integralmedica, Black Skull e Growth Supplements. Essas marcas, amplamente consumidas por atletas e frequentadores de academias, foram avaliadas com base em critérios rigorosos, que incluíam testes de laboratório para verificar a composição e a conformidade dos rótulos.
A Atlhetica Nutrition destacou-se como a única marca com rotulagem totalmente regular, um feito significativo em um mercado onde a maioria dos produtos apresentou falhas. Outras marcas, como Max Titanium e Probiótica, ambas fabricadas pela Supley Laboratório, apresentaram inconformidades na rotulagem, embora tenham passado nos testes de teor de creatina e ausência de matérias estranhas. O mesmo ocorreu com produtos da Integralmedica e Darkness, fabricados pela BRG Suplementos Nutricionais.
A única marca com teor de creatina abaixo do esperado não teve seu nome divulgado devido ao processo administrativo em andamento. Esse sigilo é previsto pela legislação brasileira, que protege as empresas até a conclusão das investigações. No entanto, a Anvisa informou que notificará os fabricantes responsáveis pelas inconformidades na rotulagem, exigindo ajustes para atender às normas vigentes.
Cronograma de regularização dos suplementos
A regulamentação dos suplementos alimentares no Brasil segue um cronograma definido pelas novas normas da Anvisa. Abaixo, os principais marcos:
- Agosto de 2024: Publicação da RDC 843/2024 e da IN 281/2024, estabelecendo regras para notificação de suplementos.
- Setembro de 2024: Início da coleta de amostras para análise de creatinas no mercado brasileiro.
- Abril de 2025: Divulgação dos resultados da análise de 41 suplementos de creatina.
- 1º de setembro de 2025: Prazo final para regularização de todos os suplementos já comercializados no Brasil.
Esse cronograma reflete o compromisso da Anvisa em fortalecer a fiscalização do setor, garantindo que os consumidores tenham acesso a produtos seguros e bem informados.
Desafios e perspectivas para o mercado
O mercado de suplementos alimentares no Brasil enfrenta um momento de transformação. A popularidade da creatina, impulsionada pelo aumento do interesse em saúde e fitness, criou oportunidades para as empresas, mas também trouxe desafios relacionados à qualidade e à transparência. As falhas na rotulagem identificadas pela Anvisa destacam a necessidade de maior investimento em conformidade regulatória por parte dos fabricantes.
Para os consumidores, a análise da Anvisa serve como um alerta sobre a importância de escolher produtos de marcas confiáveis e verificar as informações nos rótulos. O selo Creapure, por exemplo, é uma certificação alemã que atesta a pureza da creatina e pode ser um diferencial na hora da compra. Marcas como Vitafor e Growth Supplements, que utilizam matéria-prima com esse selo, têm se destacado no mercado por sua qualidade.
A fiscalização contínua da Anvisa e a pressão por parte dos consumidores devem incentivar o setor a adotar práticas mais rigorosas. A expectativa é que, com a regularização total do mercado até setembro de 2025, o Brasil tenha um cenário mais seguro e transparente para os usuários de suplementos alimentares.
- Certificações de qualidade: O selo Creapure é um indicativo de pureza e confiabilidade da creatina.
- Escolha consciente: Consumidores devem priorizar marcas com rótulos claros e aprovadas pela Anvisa.
- Fiscalização futura: A regularização obrigatória em 2025 deve elevar os padrões do mercado.