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Alcolumbre promete promulgar aumento de deputados se Lula não sancionar até 16 de julho

Alcolumbre promete promulgar aumento de deputados se Lula não sancionar até 16 de julho

Davi Alcolumbre

Brasília vive dias de tensão política enquanto o Congresso Nacional aguarda a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o projeto de lei que aumenta o número de deputados federais de 513 para 531. A proposta, aprovada em 26 de junho de 2025, enfrenta resistência de aliados do governo, que temem desgaste na popularidade de Lula caso ele sancione o texto. O prazo para a sanção presidencial termina em 16 de julho, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já declarou que promulgará a lei imediatamente se Lula optar pelo silêncio ou veto. A medida, impulsionada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2023, busca ajustar a representação parlamentar às mudanças demográficas do país, mas críticos apontam que o aumento gera custos adicionais sem necessidade.

A pressão sobre Lula se intensifica à medida que o prazo se aproxima. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, sinalizou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 7 de julho, que a sanção é “pouco provável”. A decisão do STF, que exigiu a readequação das cadeiras com base no Censo 2022, colocou o Congresso contra o relógio para evitar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definisse a distribuição das vagas.

Sessão da Câmara — Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

A discussão sobre o número de deputados reflete um embate entre representatividade e eficiência. Enquanto defensores argumentam que a mudança corrige distorções populacionais, opositores questionam a necessidade de ampliar o Legislativo em um momento de contenção fiscal.

Decisão do STF e o impacto nos estados
Em 2023, o Supremo Tribunal Federal determinou que a Câmara dos Deputados atualizasse a distribuição de cadeiras para refletir as mudanças demográficas registradas pelo Censo 2022. A Constituição brasileira estabelece que a representação na Câmara deve ser proporcional à população de cada estado, mas a última grande revisão ocorreu em 1994, com base em dados de 1985. A decisão do STF visava corrigir desequilíbrios, mas gerou controvérsia ao prever perdas e ganhos de vagas entre os estados.

Sete estados enfrentariam redução no número de deputados: Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Por outro lado, Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará e Santa Catarina ganhariam representatividade. A redistribuição, segundo cálculos do Congresso, exigiria o aumento total de cadeiras para manter a proporcionalidade sem prejudicar estados menores.

O prazo para a implementação expirou em 30 de junho de 2025, o que acelerou a votação do projeto no Congresso. Caso a proposta não fosse aprovada, o TSE teria autoridade para definir a nova configuração, algo que os parlamentares buscaram evitar. A pressa na tramitação, no entanto, alimentou críticas sobre a falta de debate público e a transparência no processo.

Custos e críticas à proposta
O aumento de 18 cadeiras na Câmara dos Deputados não é apenas uma questão de representatividade, mas também de impacto financeiro. Estimativas apontam que a medida custará cerca de R$ 64,6 milhões por ano ao orçamento da Câmara, considerando salários, benefícios e despesas operacionais dos novos parlamentares. Em um contexto de restrições fiscais, a decisão enfrenta resistência de setores da sociedade e até mesmo de aliados do governo Lula.

Críticos argumentam que a proporcionalidade poderia ser alcançada sem ampliar o número total de deputados, redistribuindo as cadeiras existentes. Essa visão é compartilhada por entidades civis e analistas políticos, que veem na proposta um movimento do Congresso para fortalecer sua própria estrutura em detrimento das prioridades do país.

Apesar das críticas, o projeto foi aprovado com apoio de uma ampla coalizão no Congresso, incluindo partidos da base aliada e da oposição. A pressão para cumprir a determinação do STF e evitar a intervenção do TSE foi um fator decisivo na votação.

A postura de Alcolumbre e o prazo constitucional
Davi Alcolumbre, presidente do Senado e do Congresso Nacional, adotou uma postura firme ao afirmar que promulgará o projeto imediatamente caso Lula não sancione até 16 de julho. “Se chegar às 10h, vai ser promulgado às 10h01”, declarou, reforçando sua intenção de garantir a entrada em vigor da lei. A Constituição, no artigo 66, estabelece que o presidente da República tem 15 dias úteis para sancionar ou vetar um projeto de lei. Em caso de silêncio, o texto é considerado sancionado automaticamente.

Se Lula optar pelo veto, o Congresso poderá derrubá-lo em sessão conjunta, exigindo maioria absoluta de votos. No entanto, a promulgação por Alcolumbre, caso o presidente não aja em 48 horas após a sanção tácita, é um mecanismo previsto para evitar atrasos. A posição de Alcolumbre reflete a determinação do Congresso em manter o controle sobre a questão, especialmente após a pressão do STF.

A relação entre o Executivo e o Legislativo também está em jogo. Aliados de Lula, como o ministro Rui Costa, têm alertado que a sanção pode gerar desgaste político em um momento em que o governo busca melhorar sua imagem perante a opinião pública. A decisão de Lula, portanto, será um teste para sua habilidade de equilibrar pressões internas e externas.

Reações e o impacto político
A aprovação do projeto gerou reações mistas. Enquanto parlamentares defensores da proposta celebraram a adequação à decisão do STF, setores da sociedade civil e da imprensa questionaram a necessidade do aumento. Posts em redes sociais, como os de jornalistas e analistas, destacaram o custo adicional e a falta de debate público. A percepção de que o Congresso prioriza seus próprios interesses em detrimento das demandas populares pode alimentar a insatisfação com a classe política.

No campo político, a decisão de Lula será observada de perto. Um veto pode fortalecer sua imagem como líder atento às finanças públicas, mas também arrisca tensões com o Congresso, que demonstrou apoio majoritário ao projeto. Por outro lado, a sanção pode ser vista como uma concessão ao Legislativo, mas com o custo de críticas públicas.

A proximidade do prazo de 16 de julho mantém o tema no centro do debate político. A decisão final terá implicações não apenas para a estrutura da Câmara, mas também para a dinâmica entre os poderes em Brasília.

Representatividade versus eficiência
A discussão sobre o aumento de deputados vai além dos custos e prazos. No cerne da questão está o equilíbrio entre representatividade e eficiência no Legislativo. O Brasil, com 513 deputados federais, já possui uma das câmaras mais numerosas do mundo, e a adição de 18 cadeiras reforça o debate sobre o tamanho ideal do Parlamento.

Defensores do projeto argumentam que o crescimento populacional e as mudanças demográficas justificam a expansão. Estados como Pará e Minas Gerais, que ganhariam cadeiras, teriam maior peso na representação nacional. No entanto, críticos apontam que a eficiência legislativa pode ser comprometida por um número maior de parlamentares, dificultando consensos e aumentando a burocracia.

A decisão do STF, embora tenha sido o catalisador da proposta, também reacendeu discussões sobre o papel do Judiciário em questões legislativas. A determinação de atualizar as cadeiras foi vista por alguns como uma intervenção em assuntos que caberiam exclusivamente ao Congresso, enquanto outros a consideraram necessária para corrigir distorções históricas.

O que esperar até 16 de julho
Com o prazo se aproximando, a atenção se volta para o Palácio do Planalto. Lula terá de pesar os custos políticos de sancionar ou vetar o projeto, enquanto Alcolumbre já sinalizou que não hesitará em promulgar a lei. A pressão do Congresso, aliada à decisão do STF, coloca o presidente em uma posição delicada, onde qualquer escolha pode gerar consequências de curto e longo prazo.

A sociedade, por sua vez, acompanha o desdobramento com ceticismo. O aumento de deputados, embora justificado por questões técnicas, enfrenta resistência em um momento em que a confiança nas instituições políticas está abalada. O desfecho da questão será um marco para a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário em 2025.

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