Publicado em 10/06/2025
O Acre permanece no topo do ranking nacional como o estado com o maior custo médio da construção civil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira, 10, pelo Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi). Pelo terceiro mês consecutivo, o estado lidera essa posição indigesta, expondo a ausência crônica de políticas públicas eficazes para conter a escalada de preços que asfixia o setor e penaliza a população.
Em maio de 2025, o custo por metro quadrado no Acre alcançou R$ 2.073,21 com a desoneração da folha de pagamento, o maior do país. Sem a desoneração, o valor dispara para R$ 2.200,88, deixando o Acre em segundo lugar, superado apenas por Santa Catarina (R$ 2.212,82). Esses números escancaram a pressão inflacionária sobre materiais e mão de obra, agravada pela ineficiência logística e pela negligência em fomentar a produção local de insumos.
Crescimento insustentável dos custos
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) registrou no Acre uma variação mensal de apenas 0,15% em maio, abaixo da média nacional de 0,43%. No entanto, o acumulado dos últimos 12 meses revela um aumento alarmante de 7,10% nos custos da construção, bem acima dos 5,01% da média brasileira. Nos primeiros cinco meses de 2025, o estado lidera a Região Norte com alta de 5,11%, contra 0,25% da média regional. Enquanto isso, o Nordeste, puxado por Pernambuco (2,88%), teve a maior variação mensal do país (0,77%).
Esses dados mostram que, mesmo com variações mensais tímidas, o Acre acumula um encarecimento persistente, que compromete a viabilidade de projetos imobiliários e obras públicas. A dependência de materiais transportados de outros estados, como o cimento, que em 2024 custava até 30% mais no Acre do que a média nacional, é um sintoma claro da falta de planejamento estratégico.
Mão de obra e logística: gargalos ignorados
A escassez de mão de obra qualificada no Acre é outro fator crítico. Nos últimos 12 meses, o custo da mão de obra no estado subiu 6,8%, contra 5,2% da média nacional. Essa alta reflete a ausência de programas robustos de capacitação profissional, que poderiam reduzir a dependência de trabalhadores de fora e os custos associados. A logística, marcada pelo isolamento geográfico do estado, também contribui para o cenário, encarecendo o transporte de insumos e expondo a fragilidade da infraestrutura local.
A desoneração da folha de pagamento, embora bem-vinda, é apenas um paliativo. Sem medidas estruturais, como incentivos fiscais para a produção local de materiais ou investimentos em estradas e modais de transporte, o Acre está condenado a perpetuar sua liderança no ranking dos custos da construção.
Impactos sociais e econômicos
O quadro é alarmante para a população acreana. O alto custo da construção eleva os preços de imóveis residenciais e comerciais, restringindo o acesso à moradia e pressionando o orçamento familiar. Obras públicas, essenciais para o desenvolvimento do estado, também sofrem com orçamentos inflados, muitas vezes paralisadas ou adiadas. A inação do poder público em enfrentar esses desafios agrava a desigualdade e freia o crescimento econômico.
Um futuro comprometido
Os dados do IBGE são um alerta vermelho para o Acre. A falta de políticas públicas que promovam a produção local de materiais de construção e a capacitação de mão de obra é uma omissão que custa caro. Sem investimentos em infraestrutura logística ou incentivos fiscais consistentes, o estado seguirá refém de um ciclo vicioso de custos elevados. O debate sobre soluções estruturais é urgente, mas a lentidão das autoridades em agir sugere que o Acre continuará carregando o fardo de ser o estado mais caro para construir no Brasil, com consequências diretas para o bolso da população e o futuro do desenvolvimento regional.