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O céu de Rio Branco está colorido. Mas o chão está cheio de vítimas. A cada nova pipa que sobe com linha cortante, uma pergunta desce junto: quem está segurando essa linha invisível da irresponsabilidade?
O cerol, que deveria ser exceção, virou regra em bairros inteiros. E o mais assustador é que não se trata apenas de um problema de brincadeira de criança. É um retrato da falência pública naquilo que deveria ser básico: proteger a vida.
Quando tudo virou metáfora
Nos últimos 7 dias, três novos casos de acidentes com cerol foram registrados em bairros diferentes. E cada ocorrência revela mais do que uma simples linha invisível — revela um governo que também tem cortado a segurança, a presença e a autoridade nas comunidades.
A pipa com cerol virou metáfora: quanto mais alto ela voa, mais distante está o poder público. E quem segura a linha? Crianças. Adolescentes. Pais ausentes. Leis esquecidas. E prefeitos e secretários que olham pro céu, mas não pro chão onde o sangue escorre.
O que está em jogo (além de pescoços)
O risco é real. Entregadores, mototaxistas, ciclistas e pedestres estão entre os alvos mais frequentes. O uso de cerol virou prática comum em bairros como Calafate, Taquari, Belo Jardim e Recanto dos Buritis. Mas a resposta do poder público ainda é tímida — quando não inexistente.
E o mais grave: as operações de apreensão, quando ocorrem, não passam de ações pontuais, midiáticas, quase cenográficas. Enquanto isso, o cerol continua sendo vendido em bancas e mercados de bairro como se fosse brinquedo de prateleira.
Um problema de cultura ou de omissão?
Muito se fala sobre “educar os jovens”. Mas onde está o exemplo? Quando um bairro inteiro denuncia o uso de cerol e não recebe uma única blitz de fiscalização, qual o recado dado às crianças? Que tudo é permitido — inclusive cortar gargantas — se ninguém vier impedir.
A cultura do cerol não se sustenta sem omissão do Estado. É a ausência de políticas públicas, de atuação comunitária, de rondas preventivas e de campanhas constantes que transforma a brincadeira em tragédia.
A visão de quem trabalha na rua
Conversamos com um motoboy, que pediu para não ser identificado, que relatou ter escapado por pouco de um acidente grave no Segundo Distrito: “A linha passou de raspão no meu pescoço. Se eu tivesse com a viseira levantada, não estaria aqui falando contigo agora.”
Para ele, o mais revoltante é que todos sabem onde os ‘pipódromos’ clandestinos estão. “É sempre no mesmo lugar. E ninguém faz nada. A polícia não aparece. A prefeitura finge que não é com ela.”
Conclusão: o Acre precisa descer do muro
Não adianta só fazer campanha no Instagram. A linha com cerol não é um problema de férias — é um problema de Estado. É preciso presença. Fiscalização. Multa. Punição. Educação. Tudo junto.
Porque enquanto a pipa sobe, a dignidade do serviço público desce. E, mais cedo ou mais tarde, o corte não vai ser só na pele. Vai ser na confiança do povo.
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✍️ Eliton Lobato Muniz – Cidade AC News – Rio Branco – Acre





