O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um momento delicado em seu terceiro mandato. Dados recentes da pesquisa Quaest, realizada entre 27 e 31 de março de 2025, revelam que a desaprovação à sua gestão alcançou 56%, o pior índice desde que assumiu o Planalto em janeiro de 2023. A aprovação, por outro lado, caiu para 41%, evidenciando uma crise de popularidade que coloca pressão tanto no campo político quanto no econômico. No centro das críticas está a percepção de que a economia brasileira não tem entregado os resultados esperados, com a inflação persistente e o aumento dos preços dos alimentos pesando no bolso da população.
Economia: o calcanhar de Aquiles
A economia tem sido o principal motor da insatisfação popular. A pesquisa Quaest aponta que 56% dos entrevistados acreditam que a situação econômica piorou nos últimos 12 meses, enquanto apenas 16% enxergam alguma melhora. O aumento nos preços dos alimentos, citado por mais de 90% dos brasileiros em levantamentos regionais, é um dos fatores que mais contribuem para essa percepção negativa. Em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a desaprovação ultrapassa os 60%, refletindo o impacto da inflação em centros urbanos densamente povoados.
Além disso, medidas como a taxação de importações online, apelidada de “taxa das blusinhas”, geraram controvérsia. Apesar de visar equilibrar a concorrência com produtos nacionais, a medida afetou pequenos empreendedores e consumidores de baixa renda, especialmente no Nordeste, tradicional reduto eleitoral do PT. A crise do Pix, marcada por rumores de taxação que o governo precisou desmentir, também ampliou a desconfiança. A combinação desses fatores criou uma narrativa de frustração, com 65% dos brasileiros afirmando que Lula não cumpriu suas promessas de campanha.
Desafios políticos em um cenário polarizado
No campo político, a situação não é menos complicada. A polarização que marcou as eleições de 2022 continua a influenciar o debate público. A oposição, liderada por figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, capitaliza a insatisfação popular para pressionar o governo. Apesar de Bolsonaro estar inelegível até 2030, sua influência permanece forte, e a Quaest indica que, em um hipotético segundo turno em 2026, Lula só teria vantagem clara na Bahia e em Pernambuco.
Internamente, o PT enfrenta dificuldades para manter sua base unida. A governabilidade no Congresso é desafiada pela força das emendas parlamentares, que limitam a capacidade do governo de implementar sua agenda. A comunicação governamental, frequentemente criticada por aliados, não tem conseguido neutralizar o impacto das notícias negativas. Para o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, a percepção de que o país está na “direção errada” atingiu 50%, um sinal de alerta para o Planalto.
O impacto nos redutos tradicionais
Um dos aspectos mais preocupantes para o governo é a perda de apoio em grupos historicamente alinhados ao PT. No Nordeste, onde Lula venceu com folga em 2022, a aprovação caiu para 52%, enquanto a desaprovação chegou a 46%, números que indicam um empate técnico. Entre as mulheres, pela primeira vez, a desaprovação (53%) superou a aprovação (43%). A classe baixa, que ganha até dois salários mínimos, também mostra sinais de descontentamento, com a aprovação caindo de 63% em dezembro de 2024 para 52% em março de 2025.
Entre os evangélicos, a desaprovação é ainda mais acentuada, alcançando 67%, contra apenas 29% de aprovação. Mesmo entre os católicos, tradicionalmente mais favoráveis ao PT, há um empate, com 49% aprovando e 49% desaprovando. Esses números sugerem que a base social que sustentou Lula nas urnas está se fragmentando, o que pode comprometer suas chances em uma eventual reeleição em 2026.
Estratégias para reverter a crise
Diante desse cenário, o governo tem buscado reagir. Lula anunciou uma série de medidas voltadas para estimular o consumo e recuperar a confiança da população. Entre elas, destacam-se a liberação de saldos do FGTS, a ampliação do crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada e a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. O programa Minha Casa, Minha Vida também foi reforçado, com aumento no limite de renda para acesso a financiamentos mais acessíveis.
No entanto, essas iniciativas enfrentam obstáculos. A inflação persistente pode neutralizar os ganhos reais dessas políticas, enquanto o mercado financeiro demonstra ceticismo. Uma pesquisa Quaest com agentes financeiros revelou que 88% avaliam o governo como negativo, apontando erros na condução da política econômica e aumento de impostos como fatores agravantes. A recessão, temida por 58% dos entrevistados, é outro risco que paira sobre o horizonte.
Na esfera da comunicação, o governo tenta adotar uma postura mais proativa. Lula tem intensificado viagens pelo país, especialmente ao Nordeste, para reforçar sua conexão com os eleitores. A narrativa de combater fake news também ganhou espaço, com o presidente atribuindo parte da desaprovação à disseminação de desinformação nas redes sociais. Contudo, analistas sugerem que, para reverter a crise, será necessário mais do que ajustes na comunicação: políticas públicas que gerem resultados concretos no curto prazo são essenciais.
Perspectivas para o futuro
A queda de popularidade de Lula reflete um momento de desafios complexos, em que a economia e a política se entrelaçam para criar um cenário adverso. A inflação, a frustração com promessas não cumpridas e a polarização política formam uma tempestade que o governo precisa enfrentar com habilidade. Para o PT, o risco é perder o apoio de sua base tradicional, o que poderia comprometer não apenas a governabilidade, mas também as chances de reeleição em 2026.
Por outro lado, Lula já demonstrou resiliência em crises passadas, como no escândalo do Mensalão. Sua capacidade de articular alianças e mobilizar eleitores ainda é um trunfo. Resta saber se o governo conseguirá oferecer um “sonho” renovado, como sugeriu o presidente do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, capaz de reconquistar a confiança da população.
Enquanto o Planalto busca saídas, a pressão só aumenta. A economia continuará sendo o termômetro da popularidade de Lula, e cada decisão será escrutinada em um país dividido. O desafio, agora, é transformar números negativos em uma narrativa de esperança — uma tarefa que exige mais do que discursos, mas resultados tangíveis que cheguem ao cotidiano dos brasileiros.