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A imprensa é a voz de quem não está no parque

A imprensa é a voz de quem não está no parque

A imprensa é a voz de quem não está no parque

A imprensa não está na Expoacre apenas para registrar o brilho dos palcos. Está ali para construir pontes entre o que acontece no centro da festa e o que pulsa nas margens do estado. Representa aqueles que não conseguem passar pelas catracas — não por falta de vontade, mas por falta de estrutura, acesso ou amparo. A cada imagem compartilhada, a cada boletim transmitido, a imprensa leva a feira até quem não pôde estar: o seringueiro do Seringal Espalha, a mãe solo do Taquari que cuida de três filhos, o idoso acamado na Fundação Hospitalar, o jovem em depressão que assiste tudo do quarto, em silêncio, com o coração trancado.

É por esse povo invisível que o jornalismo existe. É por essas vozes que a cobertura da Expoacre faz diferença.
E, justamente por isso, incomoda — porque a imprensa crítica revela o que os releases não alcançam.

Quando um microfone é barrado, quem se cala é a periferia. Quando uma câmera é impedida de trabalhar, quem desaparece é a zona rural. Quando o acesso a bastidores é limitado a poucos, o que se impõe não é segurança, mas uma versão filtrada da realidade.

É preciso reconhecer: o problema não é institucional, mas estrutural. Não parte do governo estadual nem da Secretaria de Comunicação, que tem atuado para garantir acesso à imprensa — inclusive sendo, em alguns casos, igualmente barrada. O que está em jogo são critérios obscuros e decisões fragmentadas, muitas vezes tomadas por produções terceirizadas que não compreendem o papel da comunicação pública em eventos financiados com dinheiro público.

Quando a imprensa vira obstáculo: o caso Zezé di Camargo & Luciano

Na noite do show da dupla Zezé di Camargo & Luciano, profissionais da imprensa local foram tratados com descaso. Mesmo credenciados, foram impedidos de trabalhar e tiveram sua atuação barrada sob chuva, sem justificativa. A produção da atração limitou o acesso de forma arbitrária, atingindo inclusive a equipe da Secretaria de Comunicação do Estado. Em nota, a Secom esclareceu: “Todas as equipes foram barradas, inclusive a Secom”.

Esse episódio reforça a necessidade de protocolos claros, universais e respeitados por todas as produções terceirizadas. A ausência de critérios técnicos coloca em risco o próprio evento, cria ruídos institucionais e compromete o valor democrático que uma feira pública deve representar.

Novo caso: imprensa é desrespeitada durante show de Matheus & Kauan

Na madrugada desta quarta-feira (30), um novo episódio marcou a quinta noite da 50ª Expoacre. A imprensa foi impedida de realizar entrevistas com a dupla Matheus & Kauan, apesar da autorização anterior. O ponto crítico ocorreu quando o jornalista Zezinho Kennedy foi retirado à força da área próxima ao camarim, gerando protestos de seus colegas. Em sinal de repúdio, parte da imprensa vaiou a dupla ao vê-la se dirigir ao palco. Os artistas não se manifestaram.

Esse tipo de situação não representa o desejo do Governo do Estado — e muito menos da Secom, que tem buscado intermediar, garantir estrutura e diálogo com os veículos. Mas reforça a urgência de padronização, isonomia e transparência no acesso da imprensa.

O governador Gladson Cameli, presente no evento, lamentou o episódio e declarou: “Vou resolver isso”.

Expoacre 50 anos: privilégios para poucos, improviso para a maioria

A Expoacre chega aos seus 50 anos com uma contradição evidente. Enquanto celebra uma história de união entre campo e cidade, a feira enfrenta desafios de organização, improviso logístico e critérios pouco claros de acesso à comunicação. Ainda há veículos que transitam livremente enquanto outros — inclusive ligados ao próprio governo — são barrados ou deslocados para áreas sem estrutura.

A pergunta permanece: quem decide? Com base em quê?

A visita do governador e o gesto de aproximação

Na mesma noite, o governador Gladson Cameli percorreu estandes, falou com veículos de imprensa e reforçou sua posição:

“A Expoacre precisa ter cada vez mais participação do setor empresarial e menos caráter institucional. A imprensa é fundamental para divulgar essa linda festa e fortalecer o empreendedorismo local.”

Também defendeu a democracia e o papel da comunicação:

“A democracia se fortalece quando damos voz à população e à imprensa.”

É um gesto importante — que precisa agora ser transformado em diretrizes práticas, a fim de garantir que a visão democrática do governador seja compatível com as experiências reais da cobertura.

O que os 50 anos revelam?

A Expoacre completa cinco décadas entre fogos e filas. Mas por trás da cortina de luz, persistem ruídos e contradições. A feira, que já foi sinônimo de integração popular, hoje enfrenta dilemas de acesso, seletividade e improvisação. Quanto mais cresce em estrutura, mais precisa garantir alma democrática.

Estamos reivindicando não por vaidade jornalística, mas por quem não pôde vir:

A imprensa é a ponte entre o evento e o Acre profundo. Entre o palco e os invisíveis.
Negar essa ponte é negar o povo que sustenta a própria feira.

Uma proposta para os próximos 50 anos

Talvez os próximos 50 anos da Expoacre possam começar com um gesto simples, mas decisivo:
garantir que todas as coberturas — grandes ou pequenas, oficiais ou independentes — tenham acesso igualitário, previsível e respeitado.

Isso começa com:

Além disso, a entrega antecipada e padronizada dos estandes de imprensa, com critérios justos de localização, metragem e infraestrutura, pode garantir espaços adequados para entrevistas, recepção de autoridades, sinalização visual e climatização — como já ocorre com alguns segmentos favorecidos atualmente.
Essa prática deve se estender a todos, em nome da isonomia e da profissionalização da cobertura.

Porque sem imprensa, não há memória.
E sem memória, não há história.

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Assinado por: Eliton Lobato Muniz – Cidade AC News – Rio Branco – Acre

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