🖋 COLUNA – ELITON LOBATO MUNIZ
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O escândalo envolvendo fraudes milionárias no INSS não é novidade para quem observa o Brasil com os dois olhos abertos e o coração ainda não anestesiado. A operação da Polícia Federal que desmantelou um esquema com quase R$ 1 bilhão em benefícios irregulares só confirma o que todo mundo já sabia: o sistema está doente — e não é de hoje.
Enquanto aposentados esperam meses (ou anos) por um benefício justo, quadrilhas com CPF e caneta conseguem liberar aposentadorias fantasmas, auxílios fictícios e pensões que ninguém nunca contribuiu. E o que mais choca não é o valor desviado. É a frieza do método. É a certeza da impunidade.
Há anos o INSS virou campo de batalha entre quem precisa e quem se aproveita. De um lado, idosos doentes, mães solo, trabalhadores informais que lutam para provar o óbvio: que trabalharam, contribuíram, adoeceram e têm direito. Do outro, servidores corrompidos, atravessadores digitais e uma estrutura que, em vez de proteger, permite o assalto.
A questão é: como um país que usa reconhecimento facial para liberar o celular não consegue detectar que a mesma pessoa está recebendo cinco aposentadorias diferentes?
Porque não quer.
Porque a máquina pública brasileira foi projetada para dificultar o acesso ao direito e facilitar o caminho da malandragem burocrática.
E isso dói mais ainda quando a gente percebe que quem sofre com o escândalo não é o ladrão engravatado — é o cidadão honesto que agora terá mais exigência, mais fila, mais perícia, mais bloqueio. O sistema responde com punição coletiva quando falha em punir os culpados.
O caso atual é grave. E precisa ser tratado com seriedade, não só como pauta de jornal nacional. É hora de o Congresso agir, o Ministério da Previdência se explicar, e a sociedade exigir que os culpados sejam identificados — e punidos. Sem desculpa, sem protelação, sem “sigilo de investigação” que esconde nomes de gente graúda.
Porque se o Estado brasileiro não for capaz de proteger a Previdência, ele está falhando com sua missão mais básica: cuidar dos que mais precisam.
E pra quem acha que isso não afeta o Acre, é bom lembrar: todo município tem gente dependendo do INSS pra comer. Cada fraude em Brasília enfraquece o dinheiro que gira nas mercearias de Epitaciolândia, no aluguel de Plácido de Castro, no gás de Tarauacá.
Não dá pra continuar aceitando que a esperteza vire mérito e a honestidade vire espera.
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✍️ Eliton Lobato Muniz – Cidade AC News – Rio Branco – Acre
