A segunda edição da Caravana pela BR-364, realizada em Cruzeiro do Sul em 6 de junho de 2025, sob a liderança do presidente da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), deputado estadual Nicolau Júnior (Progressistas), colocou em evidência a crise persistente da principal rodovia do estado. A mobilização, intitulada “BR-364 Pede Socorro”, reuniu uma comitiva expressiva, composta por 20 deputados estaduais, cinco deputados federais, o senador Sérgio Petecão (PSD), prefeitos, representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), lideranças comunitárias e 25 veículos de imprensa. O evento reforçou a urgência de uma resposta coordenada do Governo Federal para recuperar a BR-364, essencial para a economia, a mobilidade e a integração social do Acre. Este editorial analisa os esforços dos governos federal e estadual, o posicionamento dos parlamentares e o impacto da comitiva, destacando a necessidade de ações concretas para superar décadas de negligência.
A Crise da BR-364: Um Obstáculo ao Desenvolvimento
A BR-364, que conecta Rio Branco a Cruzeiro do Sul, é a espinha dorsal do Acre, responsável por ligar comunidades, facilitar o escoamento de produtos e promover o acesso a serviços essenciais. No entanto, sua deterioração crônica — marcada por buracos, pontes frágeis e alagamentos sazonais — tem causado prejuízos econômicos e sociais significativos. Durante a caravana, Nicolau Júnior destacou os impactos diretos da rodovia em más condições: “A população sofre com preços elevados para itens básicos, como alimentos e medicamentos, além de dificuldades para acessar tratamentos médicos ou atrair turistas. Uma BR-364 em mau estado trava o progresso de todo o estado, comprometendo a conexão entre os municípios e o desenvolvimento regional.”
O parlamentar enfatizou que a rodovia não é apenas uma questão de infraestrutura, mas um fator determinante para a qualidade de vida. Em 2025, acidentes graves, como o envolvendo um ônibus da Transacreana em maio, que deixou feridos devido a um trecho danificado, e os constantes relatos de veículos presos em atoleiros, reforçam a gravidade do problema. A rodovia, que atravessa 46 pontes e cerca de 1.600 bueiros entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, exige manutenção contínua e investimentos de grande porte para garantir trafegabilidade e segurança.
Esforços do Governo Federal: Promessas e Limitações
O Governo Federal, por meio do Ministério dos Transportes e do DNIT, tem reconhecido a importância da BR-364, mas os avanços ainda não acompanham a escala do desafio. Em 2023, foi anunciado um pacote de R$ 600 milhões para recuperação e reconstrução da rodovia, com R$ 160 milhões liberados para intervenções iniciais, como a pavimentação de trechos críticos. Em 2025, o DNIT avançou com uma licitação de R$ 1 bilhão para reconstruir segmentos entre Rio Branco e Sena Madureira, além de reparos emergenciais, como na ponte sobre o Rio Caeté, que colapsou parcialmente em 2024. Ricardo Araújo, superintendente do DNIT no Acre, afirmou durante a caravana: “Estamos trabalhando em várias frentes, mas a complexidade da rodovia, com sua extensão e condições climáticas adversas, exige um planejamento de longo prazo e recursos contínuos.”
Apesar desses esforços, a execução enfrenta entraves, como atrasos em licitações e a necessidade de manutenção constante devido às chuvas intensas que afetam o Acre. A carta de intenções elaborada na caravana, conforme destacou Nicolau Júnior, é um apelo formal ao Governo Federal para priorizar a BR-364. Ele explicou: “Estamos formalizando um documento com pontos estratégicos, que será enviado a parlamentares estaduais, federais e prefeitos. Ele está aberto a ajustes, mas já define ações prioritárias para garantir que a rodovia receba a atenção necessária.” A carta reflete a busca por uma abordagem integrada, que combine recursos federais com pressão política local.
Contribuições do Governo Estadual: Um Reforço Necessário
O Governo do Estado do Acre tem desempenhado um papel complementar, mas igualmente crucial, na tentativa de mitigar os impactos da precariedade da BR-364. Em 2025, o Departamento de Estradas de Rodagem (Deracre) lançou a Operação Verão, com cinco frentes de trabalho para recuperar rodovias estaduais que se conectam à BR-364, como a AC-10 e a AC-405. Um investimento de R$ 29,5 milhões, viabilizado por emenda do senador Márcio Bittar (União Brasil), foi direcionado à pavimentação de ramais e trechos estratégicos, como o Ramal dos Paulistas, em Porto Acre. O governador Gladson Cameli, embora ausente na caravana devido a compromissos em Brasília, reiterou seu apoio à mobilização, destacando que “a BR-364 é uma prioridade para o governo estadual, que trabalha em parceria com a bancada federal para captar recursos.”
Além disso, o estado tem investido em infraestrutura local para aliviar a pressão sobre a rodovia federal. Projetos como a pavimentação de ruas em Rio Branco e a construção de anéis viários em municípios como Sena Madureira, financiados com emendas de bancada, demonstram um esforço para melhorar a conectividade regional. Contudo, como a BR-364 é de responsabilidade federal, o governo estadual depende de uma articulação com a União para avançar em soluções de maior escala.
O Papel da Bancada Parlamentar: Uma Oportunidade Única
A Caravana pela BR-364 destacou a importância da união política, com a presença de deputados estaduais como Luiz Gonzaga (PSDB), Pedro Longo (PDT) e Edvaldo Magalhães (PCdoB), além de deputados federais como Zezinho Barbary (PP) e Roberto Duarte (Republicanos). O senador Sérgio Petecão, presente no evento, trouxe uma proposta ousada: que cada parlamentar federal destine R$ 20 milhões anuais de suas emendas individuais para as obras da BR-364. Nicolau Júnior reforçou a viabilidade da ideia, destacando a paridade política do Acre no Congresso: “Temos oito deputados federais e três senadores, o mesmo número que estados como o Amazonas, que tem quase 7 milhões de habitantes, enquanto o Acre não chega a 1 milhão. Se nossa bancada se organizar e priorizar obras estruturantes, como a BR-364, podemos garantir recursos consistentes para concluí-la.”
A bancada federal do Acre já demonstrou capacidade de articulação, destinando R$ 528,8 milhões em emendas para 2025, com parte voltada para infraestrutura, como a construção de um porto em Cruzeiro do Sul e a pavimentação de vias em Rio Branco. No entanto, a proposta de Petecão exige um compromisso ainda maior, com planejamento estratégico para evitar a pulverização de recursos em projetos menos prioritários. Nicolau Júnior destacou: “Este é um momento único para o Acre. Com organização, podemos canalizar os recursos de nossa bancada para transformar a BR-364 em uma rodovia moderna e segura, beneficiando todo o estado.”
A Comitiva: Uma Mobilização Histórica
A comitiva da Caravana pela BR-364 foi um marco de engajamento político e social. Além dos parlamentares, a presença de prefeitos de municípios como Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves trouxe a perspectiva local, com demandas específicas sobre os impactos da rodovia em suas comunidades. Representantes da sociedade civil, como agricultores e comerciantes, também participaram, relatando dificuldades no transporte de produtos e no acesso a serviços. A imprensa, com 25 veículos cobrindo o evento, ampliou a visibilidade da mobilização, garantindo que a mensagem chegasse às autoridades em Brasília.
O ato em Cruzeiro do Sul, descrito por Nicolau Júnior como “um momento de união em prol do Acre”, incluiu discursos emocionados e a leitura da carta de intenções, que formalizou o pedido de socorro ao Governo Federal. O evento também abriu espaço para diálogo, com sugestões de ajustes na carta para incorporar demandas específicas dos municípios. A presença de técnicos do DNIT reforçou o caráter técnico da mobilização, com debates sobre os desafios logísticos e financeiros para a reconstrução da rodovia.
Impactos e o Caminho Adiante
A precariedade da BR-364 não é apenas um problema de infraestrutura, mas uma barreira ao desenvolvimento econômico e social do Acre. A rodovia encarece o custo de vida, dificulta o acesso à saúde e educação e limita o potencial turístico da região, conhecida pela biodiversidade da Floresta Amazônica. Em Cruzeiro do Sul, que concentra mais de 100 mil habitantes, a dependência da BR-364 para conectar a região do Juruá ao restante do estado é ainda mais crítica. Como destacou Nicolau Júnior, “uma rodovia em más condições isola comunidades e impede o crescimento, enquanto uma BR-364 recuperada pode ser o motor do desenvolvimento do Acre.”
A Caravana pela BR-364 é mais do que um evento; é um chamado à ação. A carta de intenções, a ser enviada às autoridades, deve ser acompanhada de pressão contínua para garantir que os recursos prometidos sejam liberados e aplicados com eficiência. A proposta de Petecão, se adotada pela bancada federal, pode representar um divisor de águas, mas exige coordenação para superar entraves burocráticos e políticos. O envolvimento do Governo Estadual, por meio de iniciativas como a Operação Verão, complementa os esforços, mas a solução definitiva depende de uma parceria robusta com o Governo Federal.
Conclusão
A Caravana pela BR-364 simboliza a resiliência e a união do Acre na luta por uma infraestrutura digna. Sob a liderança de Nicolau Júnior, a mobilização reuniu vozes diversas — de parlamentares a cidadãos comuns — em um apelo por mudanças concretas. A BR-364 não é apenas uma rodovia; é o elo vital que sustenta a economia, a cultura e a vida social do estado. A carta de intenções, a articulação da bancada federal e os esforços estaduais são passos importantes, mas o sucesso dependerá de um compromisso de longo prazo. O Acre não pode mais esperar; a reconstrução da BR-364 é uma dívida histórica que precisa ser saldada para garantir um futuro próspero ao estado.
