Vivemos um tempo em que os cofres públicos parecem ser um pasto aberto, à mercê de rebanhos sem pastor e sem cerca. Enquanto o trabalhador brasileiro conta moedas para pagar o INSS e sonha, entre boletos e remédios, com uma aposentadoria digna, milhares de fraudadores se organizam com a frieza de um esquema mafioso para arrancar do Estado aquilo que não lhes pertence. O caso das fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social é mais do que um escândalo administrativo: é o retrato de uma moralidade corroída e de um Estado vulnerável por opção.
A história das fraudes no INSS não é nova, mas como as tragédias mal resolvidas, ela sempre volta. Já nos anos 90, quando o então ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, falava de “rombo estrutural”, sabia-se que boa parte da sangria vinha de benefícios indevidos: pensões obtidas com documentos falsos, aposentadorias rurais concedidas a quem jamais pisou na roça, licenças médicas eternizadas por laudos forjados. A Controladoria-Geral da União, mais recentemente, estimou prejuízos bilionários — em 2023, mais de R$ 3,5 bilhões em pagamentos indevidos foram identificados. E o número só cresce.
O sistema é tão generoso com o erro e tão rígido com o certo que, muitas vezes, o cidadão honesto é punido com a espera, enquanto o fraudador recebe sem fila. A lentidão da máquina estatal para cruzar dados, fiscalizar processos e punir culpados parece contrastar com a agilidade espantosa dos grupos organizados que se aproveitam de brechas legais, de servidores coniventes ou de sistemas frágeis. O INSS, que deveria ser o pilar da proteção social, virou vitrine da ineficiência e do descaso.
A metáfora é inevitável: estamos num navio onde quem rema é vigiado, mas quem fura o casco age à vontade. E o mais grave é que, nesse jogo, perde o país, perde o idoso que trabalhou a vida toda, perde o contribuinte que sustenta um sistema em colapso. A cada nova operação da Polícia Federal, como a recente que desarticulou esquemas com centenas de falsos beneficiários, expõe-se um padrão: as fraudes são sofisticadas, recorrentes e, muitas vezes, de conhecimento prévio das autoridades — que nada fizeram.
A cultura da impunidade, somada ao descontrole tecnológico e à fragilidade dos controles internos, forma o ambiente ideal para os predadores do erário. É como se o Estado, em vez de ser o guardião da Previdência, fosse o porteiro distraído de um cofre aberto. E quando se propõe uma reforma, a conta vai direto para o trabalhador comum — aquele mesmo que nunca fraudou, mas será penalizado com regras mais duras, idade mínima elevada e promessas distantes.
Não se trata apenas de combater fraudes; trata-se de restaurar a confiança. Um país que permite que a aposentadoria vire negócio ilícito desmoraliza a própria ideia de justiça. O Estado precisa, urgentemente, deixar de ser um anjo distraído e assumir o papel de fiscal enérgico. É hora de virar a página da complacência e escrever uma nova, onde contribuir não seja um ato de fé, mas um pacto confiável com o futuro. Porque se há algo mais indecente do que a fraude, é a omissão diante dela.
Links internos do Cidade AC News:
Últimas Notícias
Coluna do Tom
Do Sofá para o Site
Eliton Muniz – Caboco das Manchetes
Free Lancer | do Cidade AC News
https://cartao.lton.com.br/elitonmuniz
Rio Branco – Acre
https://www.instagram.com/cidadeacnews/






