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Nasa resgata astronautas presos no espaço após 9 meses: veja como foi a missão

Astronautas resgatados

Em uma operação aguardada por meses, a Nasa finalmente trouxe de volta à Terra os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, que estavam na Estação Espacial Internacional (ISS) desde junho de 2024. A missão de resgate, realizada neste domingo, 16 de março, marcou o fim de uma saga que se estendeu por mais de nove meses devido a problemas técnicos na espaçonave Starliner, da Boeing. O retorno, executado com uma cápsula Crew Dragon da SpaceX, ocorreu com sucesso, encerrando um capítulo de desafios para a agência espacial americana e reacendendo debates sobre a confiabilidade de veículos espaciais comerciais. A decolagem da equipe substituta, a Crew-10, aconteceu na sexta-feira, 14 de março, pavimentando o caminho para essa operação histórica.

A jornada de Wilmore e Williams começou como um teste de apenas oito dias, mas se transformou em uma estadia prolongada por falhas nos propulsores e vazamentos de hélio detectados na Starliner. Presos a cerca de 400 quilômetros acima da Terra, os dois astronautas veteranos se integraram à rotina da ISS, contribuindo para experimentos científicos e manutenção enquanto aguardavam uma solução. A decisão da Nasa de optar pela SpaceX, em vez de arriscar o retorno na nave problemática da Boeing, foi um marco na parceria entre as duas empresas contratadas para transporte espacial há uma década.

Lançada do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, a missão Crew-10 levou quatro astronautas à órbita, permitindo a transição que possibilitou o resgate. Após dias de preparativos e ajustes, a Crew Dragon Freedom, já acoplada à ISS desde setembro, trouxe Wilmore, Williams e outros dois membros da Crew-9 de volta ao planeta. O pouso, ocorrido em águas próximas à costa da Flórida, foi transmitido ao vivo, capturando a emoção do reencontro com equipes terrestres e familiares.

Uma odisseia espacial inesperada

Quando Butch Wilmore e Suni Williams decolaram em 5 de junho de 2024, a expectativa era de uma missão curta para testar a Starliner, o mais novo veículo da Boeing projetado para o Programa Comercial de Tripulação da Nasa. O voo inaugural tripulado deveria durar pouco mais de uma semana, mas logo após a chegada à ISS, engenheiros identificaram problemas graves no sistema de propulsão da nave. Vazamentos de hélio e falhas em cinco propulsores comprometeram a segurança do retorno, forçando a agência a reconsiderar seus planos iniciais.

Durante semanas, equipes da Nasa e da Boeing analisaram dados e realizaram testes em solo e em órbita para entender as falhas. Apesar dos esforços, a incerteza persistiu, e em agosto a decisão foi tomada: a Starliner voltaria à Terra vazia, pousando no deserto do Novo México em setembro, enquanto os astronautas permaneceriam na ISS. A escolha refletiu o compromisso da agência com a segurança, mas também expôs os desafios enfrentados pela Boeing, que já lidava com atrasos e custos excedentes de mais de 1,6 bilhão de dólares no desenvolvimento da cápsula.

Enquanto isso, Wilmore e Williams se adaptaram à vida na estação espacial. Ele, um ex-piloto de caça com 61 anos, e ela, uma pilota de helicópteros aposentada de 58 anos, assumiram papéis ativos na Expedição 71/72, ajudando em tarefas como consertos de sistemas, cultivo de plantas e pesquisas sobre os efeitos da microgravidade no corpo humano. A experiência prévia de ambos na ISS – essa foi a terceira missão de Williams e a segunda de Wilmore – garantiu que a estadia prolongada não comprometesse as operações do laboratório orbital.

Os bastidores do resgate

Planejar o retorno dos astronautas exigiu meses de coordenação entre a Nasa e a SpaceX. A missão Crew-9, lançada em 28 de setembro de 2024, foi ajustada para incluir apenas dois tripulantes, Nick Hague e Aleksandr Gorbunov, deixando espaço na cápsula Crew Dragon Freedom para Wilmore e Williams na volta. Originalmente, o retorno estava previsto para fevereiro, mas atrasos na preparação da Crew-10, a equipe substituta, adiaram a operação para março.

A decolagem da Crew-10, composta por Anne McClain, Nichole Ayers, Takuya Onishi e Kirill Peskov, enfrentou contratempos técnicos. Um problema no sistema hidráulico da plataforma de lançamento em 12 de março forçou o adiamento, mas na sexta-feira, 14, o foguete Falcon 9 finalmente deixou a Flórida às 19h03 no horário local. A tripulação chegou à ISS no sábado, iniciando um período de transição de alguns dias com a Crew-9, que incluiu a entrega de suprimentos e a troca de comando da estação.

No domingo, 16 de março, a Crew Dragon Freedom desacoplou da ISS com Wilmore, Williams, Hague e Gorbunov a bordo. Após uma viagem de poucas horas, a cápsula realizou uma reentrada controlada na atmosfera e pousou no Golfo do México, onde equipes de resgate aguardavam. A operação foi concluída sem incidentes, destacando a robustez do programa da SpaceX, que desde 2020 já realizou mais de dez missões tripuladas bem-sucedidas para a Nasa.

Cronograma da missão: do lançamento ao resgate

A saga dos astronautas presos no espaço seguiu uma sequência de eventos que testou a capacidade de adaptação da Nasa. Veja os principais momentos:

  • 5 de junho de 2024: Butch Wilmore e Suni Williams decolam a bordo da Starliner para uma missão de oito dias.
  • Julho de 2024: Problemas na nave são identificados, adiando o retorno inicialmente planejado.
  • 24 de agosto de 2024: A Nasa anuncia que os astronautas ficarão na ISS até março de 2025, com resgate pela SpaceX.
  • 6 de setembro de 2024: A Starliner retorna à Terra sem tripulação, pousando no Novo México.
  • 28 de setembro de 2024: Lançamento da Crew-9, com dois assentos reservados para o retorno de Wilmore e Williams.
  • 14 de março de 2025: A Crew-10 decola do Centro Espacial Kennedy, iniciando a fase final do resgate.
  • 16 de março de 2025: A Crew Dragon Freedom pousa com os astronautas resgatados na costa da Flórida.

Esse calendário reflete os ajustes feitos para garantir a segurança da tripulação e a continuidade das operações na ISS, que abriga rotineiramente sete pessoas.

Desafios técnicos e lições aprendidas

Resolver os problemas da Starliner foi uma tarefa complexa para a Boeing e a Nasa. Os vazamentos de hélio, detectados antes mesmo do lançamento, pioraram durante o voo, enquanto os propulsores apresentaram desempenho inconsistente. Testes em solo, realizados em paralelo à estadia dos astronautas na ISS, indicaram que as falhas poderiam ser resultado de superaquecimento nos componentes, mas a causa exata permaneceu incerta por meses.

A decisão de trazer a nave de volta sem tripulação permitiu à Boeing coletar dados adicionais durante a reentrada, que serão usados para aprimorar o projeto. Enquanto isso, a SpaceX consolidou sua posição como parceira confiável da Nasa, com a Crew Dragon provando sua versatilidade em missões de rotina e emergenciais. A diferença de desempenho entre as duas empresas reacendeu discussões sobre os investimentos da agência em programas comerciais, iniciados em 2014 com contratos de bilhões de dólares.

Para Wilmore e Williams, a experiência trouxe lições valiosas. Em uma coletiva antes do retorno, Williams destacou a importância de testar novas tecnologias, mesmo enfrentando imprevistos. “Descobrir o que funciona e o que não funciona é parte do nosso trabalho como astronautas de teste”, afirmou, mostrando otimismo apesar dos desafios.

Impactos da estadia prolongada

Passar mais de nove meses no espaço não é novidade para astronautas, mas exige preparação física e mental. A microgravidade afeta o corpo humano, causando perda de massa muscular e óssea, além de alterações na visão devido à pressão dos fluidos na cabeça. Wilmore e Williams, monitorados regularmente, usaram equipamentos de exercício na ISS para minimizar esses efeitos, mas serão submetidos a exames detalhados após o pouso.

A estação espacial, equipada com dormitórios, banheiros e suprimentos suficientes, garantiu que a estadia extra não comprometesse o bem-estar da dupla. Missões de reabastecimento, como a de setembro de 2024, entregaram alimentos, água e oxigênio, enquanto os astronautas reciclaram urina e suor em água potável. Psicologicamente, a integração ao trabalho da ISS e o apoio da equipe em terra ajudaram a manter a estabilidade emocional.

A longa permanência também ampliou o conhecimento científico. Experimentos conduzidos por Wilmore e Williams incluíram estudos sobre o impacto da radiação espacial, um fator crítico para futuras missões de longa duração, como as planejadas para Marte. Os dados coletados podem influenciar o design de naves e habitats espaciais.

O que vem pela frente para a Nasa e seus parceiros

A conclusão do resgate marca um ponto de inflexão para o Programa Comercial de Tripulação. A Boeing agora enfrenta a tarefa de corrigir a Starliner para que ela possa realizar voos tripulados regulares, enquanto a SpaceX segue como a principal opção da Nasa para transporte à ISS. A agência planeja manter duas cápsulas operacionais, garantindo redundância em caso de problemas, mas o desempenho desigual entre as empresas levanta questões sobre o futuro da parceria.

Para os astronautas resgatados, o retorno à Terra é apenas o começo de uma nova fase. Após o pouso, Wilmore e Williams passarão por um período de readaptação à gravidade, com acompanhamento médico para avaliar os efeitos de sua estadia prolongada. Ambos já expressaram interesse em voltar ao espaço, com Williams mencionando Marte como um possível destino em missões futuras.

A missão Crew-10, agora instalada na ISS, continuará o trabalho científico e de manutenção até setembro, quando a Crew-11 assumirá. A rotação regular de tripulações mantém a estação operacional desde 2000, com mais de 270 astronautas já tendo passado pelo laboratório orbital. A experiência de Wilmore e Williams reforça a resiliência do programa espacial diante de adversidades.

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