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Diagnosticar cedo salva vidas: como a endometriose afeta 7 milhões de mulheres no Brasil

Endometriose

A endometriose, doença crônica que atinge cerca de 7 milhões de mulheres no Brasil, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), é um desafio de saúde pública que ganha destaque em março, conhecido como o mês de conscientização sobre o tema. Caracterizada pelo crescimento anormal do tecido endometrial fora do útero, ela provoca dores intensas, compromete a qualidade de vida e está associada a cerca de 30% dos casos de infertilidade feminina no país. Apesar de sua alta prevalência, o diagnóstico ainda enfrenta barreiras, como a demora média de 6 a 7 anos para identificação, o que dificulta o tratamento e amplia os impactos na saúde das pacientes.

No Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos relacionados à doença na atenção primária cresceram 76,2% em três anos, passando de 82.693 em 2022 para 145.744 em 2024, conforme dados preliminares do Ministério da Saúde. Esse aumento reflete uma maior busca por ajuda, mas também evidencia a necessidade de mais informação e capacitação de profissionais para lidar com a enfermidade. A campanha Março Amarelo, realizada anualmente, busca desmistificar a ideia de que dores menstruais intensas são normais e incentiva a procura precoce por assistência médica.

Mulheres de todas as classes sociais são afetadas pela endometriose, que não escolhe idade ou condição econômica, mas o acesso ao diagnóstico e ao tratamento ainda varia muito. Enquanto celebridades como Gisele Bündchen, que já revelou conviver com a doença, têm recursos para gerenciar os sintomas com mudanças no estilo de vida e cuidados especializados, muitas brasileiras enfrentam longas jornadas até receberem um diagnóstico correto, o que reforça a importância de ações educativas e de políticas públicas eficazes.

Entenda os sinais: sintomas que não podem ser ignorados

Identificar a endometriose nem sempre é tarefa simples, já que seus sintomas podem se confundir com outras condições ginecológicas ou até ser banalizados como parte do ciclo menstrual. Dores pélvicas intensas durante a menstruação, frequentemente incapacitantes, estão entre os sinais mais comuns, acompanhadas por desconfortos durante relações sexuais, alterações intestinais como diarreia ou constipação no período menstrual e infertilidade. Outros indícios, menos frequentes, incluem dor lombar, enxaqueca e distensão abdominal.

A diversidade de sintomas está diretamente ligada à localização dos focos da doença, que podem se instalar em órgãos como ovários, intestino, bexiga e até, em casos raros, pulmões e cérebro. Quando não tratada, a endometriose pode evoluir, formando cistos como o endometrioma nos ovários, que comprometem a reserva ovariana e dificultam a gravidez. Especialistas alertam que a normalização cultural da dor menstrual contribui para o atraso no diagnóstico, levando muitas mulheres a sofrerem em silêncio por anos.

O impacto vai além do físico, afetando também a saúde mental. Estudos apontam que mais de 30% das pacientes desenvolvem quadros de depressão devido às dores crônicas e às limitações impostas pela doença. Por isso, reconhecer os sinais e buscar ajuda especializada é o primeiro passo para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida.

Caminho até o diagnóstico: por que demora tanto?

Confirmar a presença da endometriose exige um processo que combina avaliação clínica, exames de imagem e, em muitos casos, intervenção cirúrgica. O exame ginecológico inicial é essencial, mas a suspeita geralmente surge a partir da descrição dos sintomas pela paciente. Ultrassonografia pélvica transvaginal com preparo intestinal, ressonância magnética e o marcador tumoral CA-125, que pode estar alterado em estágios avançados, são ferramentas frequentemente usadas para embasar o diagnóstico.

Apesar dos avanços, a laparoscopia com biópsia permanece como o padrão-ouro para a confirmação definitiva, permitindo a visualização direta das lesões. Esse procedimento, porém, é invasivo e nem sempre acessível imediatamente, especialmente no SUS, o que contribui para a demora na identificação. Em média, as mulheres consultam de 6 a 7 médicos antes de receberem o diagnóstico correto, enfrentando um intervalo que pode chegar a 10 anos desde o início dos sintomas.

Fatores como a falta de conhecimento sobre a doença entre profissionais de saúde e a banalização da dor feminina agravam esse cenário. Para reverter essa realidade, iniciativas como o webinário “Dor não é normal: conscientização sobre a endometriose”, promovido pelo Ministério da Saúde em parceria com a Beneficência Portuguesa, buscam capacitar equipes da atenção primária e informar a população sobre a importância de não ignorar os sinais.

Opções de tratamento: do estilo de vida à cirurgia

Controlar a endometriose exige uma abordagem personalizada, que pode variar de mudanças simples no dia a dia a intervenções mais complexas. Adotar uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos regulares, regular o sono e gerenciar o estresse são medidas iniciais que ajudam a reduzir a inflamação associada à doença. Essas práticas, destacadas por especialistas, foram fundamentais para casos como o de Gisele Bündchen, que mantém os sintomas sob controle com um estilo de vida saudável.

Tratamentos hormonais, como anticoncepcionais orais, dispositivos intrauterinos (DIU) e progestogênios isolados, são amplamente utilizados para suspender a menstruação e aliviar a dor. Dados mostram que a maioria das pacientes responde bem a essa abordagem conservadora, recuperando a qualidade de vida sem necessidade de procedimentos invasivos. Quando os sintomas persistem ou há desejo de engravidar, a cirurgia entra em cena como alternativa, com a retirada dos focos da doença por laparoscopia ou, em casos graves, a remoção de ovários e útero.

No SUS, tanto o tratamento medicamentoso quanto o cirúrgico estão disponíveis, mas o acesso ainda é um desafio em algumas regiões. Para mulheres que enfrentam infertilidade, técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, têm mostrado resultados promissores, especialmente quando associadas a um diagnóstico precoce e a um planejamento adequado.

Impacto na fertilidade: o que as mulheres precisam saber

A relação entre endometriose e infertilidade é um dos aspectos mais preocupantes da doença, afetando cerca de 30% a 60% das mulheres com dificuldades para engravidar. O crescimento do tecido endometrial fora do útero pode obstruir as tubas uterinas, reduzir a reserva de óvulos ou dificultar a implantação do embrião. Apesar disso, especialistas reforçam que a gravidez é possível com o tratamento adequado, seja por meios naturais ou assistidos.

Algumas medidas podem aumentar as chances de concepção:

  • Estilo de vida saudável: Dieta anti-inflamatória e atividade física regular ajudam a preservar a fertilidade.
  • Diagnóstico precoce: Identificar a doença cedo evita danos maiores aos órgãos reprodutivos.
  • Tratamento hormonal temporário: Pode ser usado antes de técnicas como fertilização in vitro para melhorar os resultados.
  • Cirurgia estratégica: A remoção de cistos e aderências pode restaurar a função reprodutiva.

Mulheres que desejam ter filhos devem buscar orientação especializada o quanto antes, já que a progressão da endometriose pode comprometer o futuro reprodutivo. Casos de sucesso, como o de pacientes que conseguiram engravidar após cirurgia ou reprodução assistida, mostram que a doença não é uma sentença de infertilidade.

Calendário de ações: o que acontece no Março Amarelo

Março é um período chave para a conscientização sobre a endometriose, com eventos e campanhas que mobilizam profissionais de saúde e a sociedade. O Ministério da Saúde, por exemplo, organiza atividades como o webinário anual, que em 2025 está marcado para 13 de março, às 11h, com foco na capacitação de equipes da atenção primária. A iniciativa é gratuita e aberta ao público, transmitida online.

Outras ações incluem simpósios, como o promovido pelo Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, e mutirões de atendimento em unidades de saúde. A Endomarcha, marcha mundial pela conscientização, também ganha força no Brasil, com edições locais coordenadas por associações de pacientes. Essas atividades reforçam a mensagem de que a dor intensa não é normal e incentivam a busca por diagnóstico e tratamento.

Desafios no Brasil: acesso e conscientização em foco

Superar as barreiras para o diagnóstico e tratamento da endometriose no Brasil exige esforços conjuntos. Apesar do aumento nos atendimentos pelo SUS, a demora para identificar a doença persiste, especialmente em regiões com menos recursos médicos. A falta de especialistas e a baixa capacitação de profissionais da atenção básica dificultam o encaminhamento ágil das pacientes, enquanto o tabu em torno da dor menstrual perpetua o sofrimento silencioso de muitas mulheres.

A prevalência de 10% entre mulheres em idade reprodutiva coloca a endometriose no mesmo patamar de condições como a diabetes, mas o investimento em educação e infraestrutura ainda é insuficiente. Associações como a Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva trabalham para aproximar médicos e pacientes, oferecendo cursos e promovendo a troca de informações. A meta é reduzir o tempo entre os primeiros sintomas e o diagnóstico, garantindo um atendimento mais eficaz.

Histórias como a de Patrícia Ramos, que enfrentou privações físicas e psicológicas antes de ser diagnosticada, ilustram a urgência de mudar esse cenário. A conscientização, aliada ao fortalecimento do SUS, é vista como o caminho para que milhões de brasileiras tenham acesso a um cuidado digno e tempestivo.

Dados que impressionam: o alcance da endometriose no país

Cerca de 176 milhões de mulheres convivem com a endometriose no mundo, e o Brasil responde por mais de 7 milhões desse total, conforme dados da OMS. No país, a doença é responsável por metade dos casos de infertilidade feminina, o que equivale a um impacto significativo na vida reprodutiva e emocional das pacientes. O SUS registrou mais de 10 mil procedimentos hospitalares relacionados à endometriose apenas em 2022, número que tende a crescer com o aumento da procura por atendimento.

A doença não distingue classe social ou faixa etária, mas os desafios para enfrentá-la variam. Enquanto mulheres em áreas urbanas e com maior poder aquisitivo podem buscar especialistas rapidamente, aquelas em regiões remotas enfrentam filas e falta de equipamentos. A campanha Março Amarelo tenta equilibrar essa disparidade, levando informação a todos os cantos do Brasil e destacando a importância de um sistema de saúde mais preparado.

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