JALAPÃO, Tocantins – Bem ao fundo da terra arrasada, buritis clamam por uma chance. Faz dois anos que a aridez avança pela vereda com seu manto de morte. Um gavião-carcará solta um grunhido solitário. Luzia pousa longe o olhar. “Eu me sinto sufocada”, diz a moça, com voz de buriti acuado. Mas, se num dia o buriti acorda acossado, no outro ele não se intimida e dispersa semente madura para germinar todo o chão. Aos 35 anos, a mãe de sete filhos tem um futuro a cuidar. Tanto que, certo dia, Luzia Passos Ribeiro disse em grunhido alto de causar inveja a qualquer carcará: “Dentro do território quilombola só fica quem nós queremos”. Foi assim que recolheram trator, escavadeira, caminhão e caminhonete de uma fazenda instalada dentro da comunidade de Quilombo do Prata, no município de São Félix do Tocantins – território quilombola certificado em 2006, mas até hoje sem a titularidade. Os desmatamentos, que minguam águas, ameaçam também o brilho do Jalapão, famoso pelo capim-dourado e por suas águas, que atraem turistas de todo o país. A área, que tem o maior mosaico de unidades de conservação do Cerrado, e ainda bastante preservada, sofre pressão das queimadas, da irregularidade fundiária e das mudanças climáticas. A chegada do asfalto, de grande relevância para as comunidades locais e para o turismo, imprime no chão não apenas o piche, mas também a especulação imobiliária. Vista aérea do Quilombo Mumbuca. Foto: Fellipe Abreu Detalhe de artesanato de capim-dourado na loja da Associação Comunitária dos…This article was originally published on Mongabay
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Soja e pasto pressionam áreas conservadas do Jalapão, onde brilha o capim-dourado
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