O Governador Que Virou Escola — e Que Ninguém Soube Repetir

Jorge Viana foi, sem exagero, um dos maiores governadores da história do Acre dentro de um viés claro de modernização administrativa. Renovou o Estado, estruturou áreas essenciais e deixou entregas que atravessaram décadas. Isso é fato. Mas também é fato que o presente não se administra com lembranças do passado. Nostalgia não substitui gestão, nem voto, nem resultado.
E parte dessa diferença está no que Jorge sempre carregou na sua agenda diária: um método administrativo baseado em cinco grandes eixos — Visão, para saber onde levar o Acre; Estratégia, para mapear como chegar; Gestão, para criar processos, equipes e métricas; Execução, para entregar no prazo e com padrão; e Reputação, para transformar o Acre em uma marca confiável. Isso não é opinião — é método, é o jeito dele funcionar.
A descentralização financeira na Secretaria de Educação e na Saúde, áreas que acompanhei de perto, foi um dos maiores feitos da gestão da esquerda. A gestão do PT era uma verdadeira MBA: quem tirava nota baixa estava fora. Para bom entendedor da época, a palavra “estude” parecia tatuada em cada agenda. O objetivo era não ficar para trás, não ser exposto e entregar com excelência. Fui motivado a estudar muito e a ser realmente bom no que eu fazia. Em algumas gestões, as pessoas se preocupavam em saber porque só tinha bons cargos quem detinha informação. E, por mais que nem tudo fosse perfeito, acredito — só um pouco, mas acredito — que as nomeações eram definidas pela capacidade técnica e pela compreensão da visão estratégica que vinha de cima para baixo, com metas claras e prazos rígidos. E sim: ainda existe muita gente boa por aí que fez parte da tropa JV e que se orgulha disso até hoje.

O problema é que, enquanto Jorge operava nesse nível, seus aliados não acompanharam. Ele evoluiu. Eles estagnaram. O Acre dificilmente terá outro Jorge tão cedo. Não por falta de intenção, mas por falta de preparo real dos quadros que ficaram para trás. Enquanto ele respirava política com profundidade, a maior parte da sua base apenas ocupava espaço — sem estudo, sem técnica, sem a mesma capacidade de enxergar o Estado como projeto.
O eleitor percebeu. O povo não é bobo, nem burro, e não compra mais discurso embalado só em saudade. Jorge cumpriu seu legado — cumpriu bem. Mas seus aliados não se capacitaram à altura do exercício político que ele respira e transpira. A verdade é dura: muita gente ao redor dele ficou míope depois que ele deixou o governo. Perdeu a visão, perdeu o ritmo, perdeu o método.

E aí vem a frase que resume tudo — e que ele mesmo poderia sustentar sem medo:
“Eu já fui muito bom nisso. Mas não consigo fazer de novo sem gente que veja o Acre como eu via. E a turma que me acompanhava perdeu a visão quando eu saí.”
No balanço final, valeu a pena. O legado existe, é real, é sólido — mas ficou sem herdeiros preparados para continuar a obra.
Por Eliton Muniz / Sistema Cidade Comunicações do Acre
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