Coluna do Ton — A Vista do Ponto
Tião Bocalom prometeu 49 ações em Rio Branco. Cumpriu só 17. Saiba o que ficou no papel e o que nunca sairá do discurso. | acre jornal

Bocalom mais do que um político, ele é um personagem que acredita ser o autor da história — e que dorme tranquilo dentro da ficção que criou.
Existe um tipo de poder que não nasce do cargo, mas da convicção de que se está certo mesmo quando tudo mostra o contrário.
Tião Bocalom pertence a essa categoria de homens raros — ou perigosos, depende do ponto de vista.
Ele não governa para construir futuro, governa para comprovar o passado.
Cada discurso é um acerto de contas com quem duvidou dele. Cada obra, um “eu avisei” arquitetônico.
E talvez por isso a política, pra ele, nunca tenha sido um tabuleiro de xadrez — e sim um espelho.
O que o move não é vencer o jogo, mas ver seu reflexo intacto depois da partida.
Bocalom não ouve ninguém porque não precisa ouvir.
Seu travesseiro não é um objeto de descanso — é um oráculo doméstico, um altar do ego que lhe devolve as respostas que já queria ouvir.
Enquanto o Acre inteiro debate se ele será ou não candidato, ele consulta o próprio sono, e o silêncio do quarto é mais convincente do que qualquer diretório partidário.
Bocalom é, antes de tudo, um homem em missão divina consigo mesmo.
Ele acredita ser a prova viva de que o povo errou, e que um dia reconhecerá isso — nem que seja por teimosia.
O erro de quem tenta compreendê-lo está em tratá-lo como político comum.
Bocalom não faz política: ele cultua coerência.
Enquanto os outros constroem alianças, ele constrói versões.
E a versão que ele mais ama é aquela em que foi injustiçado pelo sistema, perseguido pelos partidos e subestimado pelas elites.
É essa fábula pessoal que o sustenta — e o eleitorado, curioso, se divide entre os que acreditam e os que se rendem ao espetáculo.
Quando prometeu o Acre em papel couchê, ele não mentiu — ele imaginou.
E acreditar na própria imaginação é um tipo de fé.
As creches, os ramais trafegáveis, o museu, o festival de praia, o IPTU verde e o transporte digital nunca foram projetos: foram metáforas de poder.
Ele não planeja para cumprir; planeja para dizer que sonhou.
E o sonho, mesmo que falido, é um ativo político que rende manchete.
Enquanto o povo espera resultado, ele oferece narrativa.
E narrativa, no Brasil, costuma durar mais do que obra.
No fundo, Bocalom é o último romântico da política acreana.
Acredita no poder do discurso como quem acredita na reza.
Vê no microfone o mesmo altar que outros veem no púlpito.
A diferença é que o sermão dele é prático: “eu acredito em mim, e vocês que me acompanhem”.
Essa autoconfiança mística é o que o mantém de pé, mesmo quando tropeça.
Bocalom não tem carreira política — tem convicção religiosa da própria importância.
E se perder em 2026, não sofrerá.
Vai interpretar a derrota como parte do enredo.
Dirá que cumpriu sua missão, que Deus sabe o que faz, e que os ingratos um dia verão a verdade.
Arrotará um viaduto, um casamento simbólico, uma macaxeira prometida e uma lembrança com cheiro de concreto molhado.
E seguirá de chapéu Panamá na cabeça, porque dentro dele cabe um país que só ele enxerga.
O resto é ruído.

A genialidade (ou loucura) de Bocalom está no fato de que ele não governa o Acre — governa o mito de que um homem simples pode desafiar todos os sofisticados e ainda dormir em paz.
É um governante que substituiu a política pela psicologia.
Enquanto o Estado debate gestão, ele oferece crença.
E num tempo de descrença generalizada, talvez seja por isso que ainda o escutam.
Porque, goste-se ou não, Bocalom não é um projeto de governo — é um fenômeno emocional.
E todo povo, em algum momento, vota no que sente, não no que entende.
✍️ Coluna do Ton — “A Vista do Ponto”
Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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