Publicado em 29/08/2025 – Cidade AC News
⏱️ Tempo de leitura: 6 min
Mais uma viagem, mais uma promessa
Em mais uma missão internacional, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, surgiu ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para anunciar que frigoríficos do Acre e de Rondônia estariam “na fila” para exportar carne bovina e suína ao mercado mexicano.
“O Acre tem todas as condições para exportar carne bovina e suína. Estamos empenhados em ampliar as habilitações, o que vai abrir mais mercado, gerar emprego e renda”, disse Alckmin.
O discurso soa grandioso: o México é a segunda maior economia da América Latina e um dos mercados mais disputados do planeta quando o assunto é proteína animal. Mas, no Acre, essa não é a primeira vez que a promessa vira manchete sem virar realidade.
Prometer sempre foi fácil, cumprir que é o drama
- 2010–2015: falas sobre EUA e México abrirem as portas para a carne amazônica. Nunca passou do papel.
- 2018–2022: Acre conquista status de área livre de aftosa sem vacinação. Plantas locais? Nada feito.
- 2023–2024: cada missão presidencial trouxe anúncio de novos mercados. Resultado para o Acre: zero frigoríficos habilitados.
👉 Até hoje, a lista oficial do MAPA não mostra nenhum frigorífico acreano autorizado pelo governo mexicano. Rondônia, sim, já aparece com plantas habilitadas desde 2023.
Na prática, quem está na fila?
- Dom Porquito (Acre): única empresa citada como em preparação para exportar carne suína. A habilitação ainda não saiu.
- Frigoríficos de Rondônia: pelo menos quatro já exportam ao México.
- Demais plantas brasileiras: 14 frigoríficos de outros estados (SP, MT, GO, RS) estão em auditoria sanitária neste momento. Nenhum do Acre.
As muralhas que travam o Acre
- Estrutura logística – Portos distantes, transporte caro, gargalos no escoamento.
- Escala de produção – Acre não compete em volume frente a Mato Grosso, Goiás ou Paraná.
- Habilitação sanitária – Auditorias internacionais são lentas e minuciosas.
- Política mexicana – O reconhecimento do Brasil como livre de aftosa sem vacinação segue “sob análise”.
Viana mostra habilidade política: vitrine, rede social e manchete. Ele coloca o Acre no discurso presidencial, garante foto ao lado de Lula e Alckmin e reforça sua imagem como “diplomata do agro”.
Mas falta o que mais interessa: resultado prático.
- Vitrine ele já tem.
- Pauta também.
- O que falta? O boi ou o suíno do Acre atravessando a fronteira mexicana de verdade.
Conclusão
Tem chance mesmo? Tem, mas o tempo é outro:
- Cenário otimista: auditorias mexicanas em setembro aprovam plantas e Dom Porquito entra até o fim de 2025.
- Cenário realista: habilitação só em 2026, depois de ajustes técnicos e diplomáticos.
- Cenário pessimista: promessa continua, mas a carne acreana segue sem carimbo internacional.
👉 Por que não saiu antes? Porque anúncio não derruba barreira sanitária. O atraso vem de três pontos centrais:
- logística precária,
- baixa escala de produção,
- auditorias internacionais demoradas.
No fim, a probabilidade é de médio prazo, não imediata. Enquanto isso, Jorge Viana coleciona manchetes — mas a carne acreana não cruza fronteira alguma.
Leia mais no Cidade AC News:
- Editorial | Quando o Acre congela: friagem expõe ausência de preparo e políticas climáticas
- Arco Metropolitano sai do papel e vira realidade no Acre
- MPF abre inquérito contra o IFAC por suspeita de irregularidades em concurso
✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
📲 Baixe os apps do grupo: Apple Store | Android Store
📰 Leia Notícias: cidadeacnews.com.br
📻 Rádio Ao Vivo: radiocidadeac.com.br
Provocação final Cidade AC
“Se exportação fosse por like no Instagram, o Acre já estaria vendendo carne até pra Marte. Mas no mundo real, cadê o contêiner atravessando a fronteira? Promessa não enche caminhão frigorífico.”
— Eliton Lobato Muniz (Estagiário)





