A Amazônia sempre foi vista como fronteira de disputa: entre quem quer explorar e quem luta pra preservar. A escolha de Belém como sede da COP30 parecia uma vitória simbólica — afinal, trazer o mundo para o coração da floresta tinha tudo para reforçar a importância de um novo modelo de desenvolvimento. Mas o que estamos vendo? Especulação imobiliária, hotéis cobrando valores surreais e um espetáculo que ameaça reduzir a Amazônia a um pacote turístico de luxo.
Segundo apuração do Cidade AC News, há hospedagens sendo vendidas a preços que beiram o inacreditável: pacotes de 11 dias passando de R$ 1,5 milhão, com diárias de quase R$ 70 mil por pessoa. Isso não é turismo, é exclusão. É transformar um evento que deveria ser histórico numa vitrine inacessível.
E o impacto vai além da etiqueta de preço. Quando se coloca o acesso à COP30 fora do alcance de delegações de países pobres e dos povos da floresta, o que se faz é calar vozes fundamentais. Ribeirinhos, indígenas, quilombolas, agricultores familiares — gente que guarda os segredos de como viver em equilíbrio com a natureza — ficam fora da mesa onde se decide o futuro da própria floresta.
Marina Silva já chamou o caso de “extorsão” e “absurdo dos absurdos”. E ela está certa. Mas a questão não é só o valor da diária. É a lógica por trás: o capitalismo travestido de verde. Colocam ciclofaixa em estrada que corta mata, anunciam navios-hotel como se fossem inovação sustentável e tentam vender ao mundo a imagem de um Brasil moderno, mas que repete velhos erros.
No Ver-o-Peso, a fala do povo é simples: “Isso não é pra nós”. E é verdade. O pequeno comerciante que acorda cedo pra vender peixe e farinha, o barqueiro que leva mercadoria pelo rio, o trabalhador que escuta Joelma no celular, todos assistem de longe a esse circo diplomático que promete muito, mas entrega pouco.
E onde entra o futuro? Se a COP30 não servir para resgatar o valor das comunidades tradicionais, não terá sentido. O IRI Brasil, as universidades amazônicas, as lideranças indígenas e quilombolas deveriam estar no centro, não apenas como figurantes. A floresta não precisa ser salva de fora pra dentro — ela precisa ser respeitada de dentro pra fora.
Belém poderia mostrar ao mundo que a Amazônia é mais que floresta em pé: é cultura, é gente, é sabedoria. Poderia usar a COP30 para consolidar um modelo que une tradição e inovação, preservação e desenvolvimento justo. Mas se o evento for lembrado apenas pelas hospedagens milionárias e pelo improviso dos navios-hotel, ficará marcado como mais um fracasso embalado em marketing verde.
Inácio conclui: a Amazônia não é vitrine, é raiz. Quem olha para ela como produto de luxo erra o alvo. Quem entende que a floresta é mãe, casa e futuro, acerta. A COP30 tem de escolher: ser capítulo de transformação ou mais uma nota de rodapé na história de promessas não cumpridas.
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✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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