sexta-feira, 5 dezembro, 2025

Nota oficial ou cartão de agradecimento? Lula escreve, Moraes sorri

Na política brasileira, homenagens nem sempre são espontâneas. Muitas vezes são muros de proteção, disfarçados de tapetes vermelhos. Lula sabe que Moraes é peça-chave em qualquer instabilidade institucional. E Moraes sabe que, nesse jogo, ser lembrado pelo Planalto é também ser blindado.

Redação - Cidade AC News - Eliton Muniz

Nota oficial ou cartão de agradecimento? Lula escreve, Moraes sorri

Quando a diplomacia se dobra à liturgia do elogio interno, é sinal de que os recados ultrapassaram as fronteiras do Palácio do Planalto.

Nem toda nota oficial é um ato diplomático. Algumas ganham tom de bilhete afetivo, dessas que se entregam com sorrisos calculados e palavras bem postas – não à imprensa, mas à história que se deseja reescrever. Foi mais ou menos isso o que aconteceu na mais recente reação do presidente Lula às tarifas norte-americanas impostas por Donald Trump a produtos brasileiros: uma nota dura ao exterior, mas recheada de afagos ao interior da República.

No trecho em que se lê “no Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão”, não há apenas uma ideia. Há uma reverência. Um eco da frase mais repetida por Alexandre de Moraes em seus votos no Supremo Tribunal Federal. Um aceno, dizem ministros. Uma “homenagem”, disseram outros – com aquele leve sorriso de quem sabe que a política é feita de gestos mais que de decretos.

Cenário e bastidores: a reunião no Alvorada, as mãos que redigiram o recado

Na noite de 8 de julho, o Palácio da Alvorada virou sala de aula de redação. Ao redor da mesa, o presidente petista discutia a nota com nomes de peso do governo: Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann, Jorge Messias, Sidônio Palmeira, Rui Costa e Geraldo Alckmin. Todos atentos à entonação, ao recado, ao simbolismo. Era uma nota de resposta a um ex-presidente dos EUA, mas o cuidado estava em não perder a chance de fazer justiça poética a um ministro que se tornou símbolo da resistência institucional.

O curioso – e politicamente revelador – é que, ao reagir à nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, imposta por Trump, Lula preferiu não bater exclusivamente no ex-mandatário americano. Preferiu, antes, ajustar o tom e fazer de sua indignação uma moldura para exaltar Alexandre de Moraes. Um gesto inusitado, senão pelo conteúdo, pelo momento.

Crítica e provocação: um gesto ou uma simbiose de sobrevivência?

A homenagem embutida na nota presidencial revela mais do que um alinhamento institucional. Expõe uma simbiose rara: a de um presidente que precisa de estabilidade institucional e de um ministro que se tornou referência no combate ao extremismo. Mas será que toda reverência é prudente? Ou seria esse o momento em que a liturgia do cargo é usada para reforçar alianças internas, como quem diz: “estamos juntos, custe o que custar”?

No fundo, há algo desconfortável nessa cena: um país sendo tarifado em 50%, mas o foco da nota oficial escorrega da economia para a retórica jurídica. O Brasil foi alvo de uma decisão política de um ex-presidente americano, mas Lula respondeu com uma citação de Moraes. A diplomacia virou tribuna de gratidão?

Quando o recado que deveria mirar Washington é desenhado com as digitais do Supremo, resta perguntar: quem era, de fato, o público-alvo da nota?

Análise política: o que está em jogo por trás do afago

Na prática, o trecho da nota tem valor político interno muito maior que qualquer efeito sobre a relação Brasil-EUA. O governo justificou o desagravo porque Trump, ao mencionar o STF em suas críticas, usou decisões judiciais brasileiras como pretexto para a nova taxação. Mas o ex-presidente americano nem citou nomes. Lula, por outro lado, fez questão de destacar – indiretamente – Moraes, como quem retribui por antecipação. Um gesto de lealdade pública que, no Brasil de hoje, não se faz sem cálculo.

Na política brasileira, homenagens nem sempre são espontâneas. Muitas vezes são muros de proteção, disfarçados de tapetes vermelhos. Lula sabe que Moraes é peça-chave em qualquer instabilidade institucional. E Moraes sabe que, nesse jogo, ser lembrado pelo Planalto é também ser blindado.

A nota, que deveria ser instrumento de soberania, virou vitrine de alianças. No lugar do tom indignado contra um protecionismo abusivo, veio um agradecimento entre linhas. Um desagravo feito com caligrafia de campanha. E assim, entre tarifas e trincheiras, o Brasil reagiu com flores onde se esperavam pedras.

Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer

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