
Quedas expressivas nos preços de passagens aéreas, gasolina e arroz reduziram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em maio de 2025, registrando alta de apenas 0,36%, a menor para o mês em cinco anos. Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 10 de junho, o resultado reflete uma desaceleração em relação a abril, quando o índice subiu 0,43%. A influência negativa desses itens, somada à deflação em alimentos como tomate e ovo, contrabalançou altas em energia elétrica e medicamentos. O índice acumula 5,40% em 12 meses, ainda acima da meta de 3% do Banco Central. O alívio na inflação ocorre em meio a um mercado de trabalho aquecido e pressões sazonais, com impacto direto no bolso dos consumidores.
O cenário foi influenciado por fatores como a sazonalidade de maio, com menor pressão de preços agrícolas, e a redução de custos em combustíveis. A notícia trouxe alívio a economistas, que esperavam uma alta maior, próxima de 0,44%.
A variação do IPCA reflete a dinâmica de preços em nove grupos de despesas, com destaque para transportes e alimentação.
- Principal impacto: Passagens aéreas caíram 11,18%, maior recuo do mês.
- Outros destaques: Gasolina e arroz também registraram quedas significativas.
- Próximos passos: Economistas monitoram junho para confirmar tendência de desaceleração.
Fatores que puxaram o IPCA para baixo
Os preços das passagens aéreas despencaram 11,18% em maio, exercendo a maior pressão negativa no IPCA, com impacto de -0,08 ponto percentual. Isso significa que, sem essa queda, o índice teria subido para 0,44%. O recuo reflete a menor demanda pós-feriados de abril e ajustes sazonais no setor aéreo.
A gasolina, item de maior peso na cesta do IPCA, caiu 0,14%, influenciada por uma redução de 4,09% no preço nas refinarias pela Petrobras em abril. O impacto foi de -0,06 ponto percentual no índice. Outros combustíveis, como etanol, também registraram variações negativas.
No grupo de alimentação, o arroz recuou 4,31%, após quedas consecutivas nos últimos meses. A maior oferta do grão, impulsionada por safras favoráveis, contribuiu para o alívio nos preços. O tomate, que havia pressionado o índice em março e abril, caiu 7,28%, enquanto o ovo de galinha teve deflação de 2,2%.
- Passagem aérea: Queda de 11,18%, maior impacto negativo no IPCA.
- Gasolina: Recuo de 0,14%, influenciado por ajustes da Petrobras.
- Arroz: Deflação de 4,31%, beneficiada por safras robustas.
- Tomate: Queda de 7,28%, aliviando pressão de meses anteriores.
Pressões de alta no índice
Nem todos os itens contribuíram para a desaceleração. A energia elétrica residencial subiu 1,68%, sendo o maior impacto positivo no IPCA, com 0,06 ponto percentual. A alta decorre da adoção da bandeira tarifária amarela, que adicionou R$ 1,88 a cada 100 kWh consumidos, devido à transição para o período seco.
O grupo de saúde e cuidados pessoais avançou 0,91%, puxado por produtos farmacêuticos, que subiram 1,93% após reajustes autorizados de até 4,5%. Medicamentos de alta concorrência tiveram aumento de 5,06%, enquanto os de baixa concorrência subiram 2,60%.
No setor de alimentação, alguns produtos contrabalançaram as quedas. A batata-inglesa disparou 21,75%, seguida pela cebola, com alta de 6,14%, e o café moído, que subiu 4,82%. Esses aumentos refletem sazonalidade e condições climáticas adversas em algumas regiões.
Dinâmica do grupo de transportes
O grupo de transportes registrou variação negativa de 0,07%, influenciado principalmente pelas passagens aéreas. Além disso, tarifas de ônibus urbano caíram 1,24% em algumas cidades, como Brasília, devido à política de tarifa zero aos domingos e feriados.
Os combustíveis, no entanto, apresentaram resultados mistos. Enquanto a gasolina e o etanol registraram quedas, o óleo diesel subiu 1,53%, e o gás veicular caiu 0,96%. No acumulado de 12 meses, os combustíveis avançam 9,71%, com a gasolina liderando com alta de 10,06%.
A desaceleração no grupo de transportes aliviou a pressão sobre o IPCA, mas analistas alertam que o setor é volátil, com preços suscetíveis a variações sazonais e políticas de preços da Petrobras.
Alimentação e bebidas em foco
O grupo de alimentação e bebidas desacelerou de 1,14% em abril para 0,39% em maio, contribuindo significativamente para o recuo do IPCA. A alimentação no domicílio subiu apenas 0,30%, contra 1,29% no mês anterior.
Além do arroz e do tomate, outros itens registraram quedas relevantes. As frutas caíram 1,64%, e o feijão carioca recuou 5,36%. A alimentação fora do domicílio, como refeições em restaurantes, subiu 0,37%, mas também desacelerou em relação a abril.
Fatores sazonais, como a transição para o período de safras de inverno, explicam parte do alívio nos preços. No entanto, analistas destacam que eventos climáticos, como o La Niña, podem pressionar os preços no segundo semestre.
- Batata-inglesa: Alta de 21,75%, maior pressão positiva no grupo.
- Cebola: Subiu 6,14%, impactada por condições climáticas.
- Frutas: Queda de 1,64%, aliviando o orçamento familiar.
- Feijão carioca: Recuo de 5,36%, beneficiado por maior oferta.
Outros grupos de despesas
O grupo de habitação subiu 0,67%, impulsionado pela energia elétrica e por reajustes em taxas de água e esgoto em cidades como São Paulo e Curitiba. O grupo de vestuário avançou 0,92%, refletindo coleções outono-inverno, enquanto saúde e cuidados pessoais registrou alta de 0,91%.
Artigos de residência, por outro lado, tiveram deflação de 0,07%, com quedas em eletrodomésticos e móveis. O grupo de educação subiu apenas 0,09%, e comunicação avançou 0,27%, ambos com impacto reduzido no índice geral.
A inflação de serviços, um indicador monitorado pelo Banco Central, acelerou de 0,05% em abril para 0,40% em maio, puxada por serviços como transporte por aplicativo e cabeleireiro.
Cenário econômico e expectativas
A desaceleração do IPCA em maio foi vista como um sinal positivo por analistas, que esperavam uma alta de 0,44%. O resultado reforça a possibilidade de interrupção no ciclo de alta da taxa Selic, que está em 14,75% ao ano. O Boletim Focus, do Banco Central, projeta IPCA de 5,46% para 2025, ainda acima do teto da meta de 4,5%.
Economistas destacam que o mercado de trabalho aquecido e a depreciação do real podem manter a pressão sobre os preços. No entanto, a deflação em alimentos e a estabilidade em combustíveis sugerem um cenário mais controlado para os próximos meses.
Repercussão entre consumidores
A queda nos preços de itens como arroz, tomate e gasolina trouxe alívio imediato para famílias brasileiras, especialmente as de baixa renda. O INPC, que mede a inflação para famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, subiu 0,33% em maio, contra 0,48% em abril, refletindo a menor pressão de alimentos.
Por outro lado, a alta em energia elétrica e medicamentos gerou reclamações, principalmente entre consumidores de classes médias, que sentem o peso desses itens no orçamento mensal.
Projeções para os próximos meses
Analistas preveem que o IPCA de junho pode manter a tendência de desaceleração, com estimativas entre 0,28% e 0,32%. A deflação esperada em alimentos no domicílio, impulsionada por safras de inverno, e a ausência de reajustes significativos em preços administrados devem contribuir para o alívio.
Em julho, a inflação pode registrar leve deflação, com projeções de -0,04%, segundo economistas do C6 Bank. No entanto, a partir de agosto, itens como vestuário e alimentação podem voltar a pressionar o índice, com estimativas de alta de 0,61%.
Fatores sazonais e climáticos
A transição para o período seco, que elevou os custos de energia elétrica, deve continuar impactando o IPCA nos próximos meses. Além disso, o fenômeno La Niña, previsto para o segundo semestre, pode afetar a produção agrícola, especialmente de grãos como arroz e feijão.
Por outro lado, a maior oferta de alimentos in natura, típica do meio do ano, tende a manter os preços de frutas e legumes em níveis mais baixos. A estabilidade no câmbio e a queda nos preços de commodities internacionais também podem ajudar a conter a inflação.
Implicações para a política monetária
O resultado do IPCA de maio fortalece a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a Selic inalterada na próxima reunião. A desaceleração da inflação, combinada com o aumento do IOF, que encarece o crédito, reduz a pressão sobre o Banco Central para novos ajustes nos juros.
No entanto, a inflação acumulada em 12 meses, de 5,40%, segue acima da meta, exigindo cautela. O Banco Central já sinalizou que monitora os serviços subjacentes, que continuam em alta, e o comportamento do câmbio, que impacta os preços importados.





