Em uma jornada que durou cerca de dez dias, considerando o tempo de deslocamento a partir de Rio Branco, pela rodovia BR-364, e o percurso fluvial pelo Rio Envira e, mesmo com as dificuldades logísticas enfrentadas pelas equipes da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Acre (Emater) e da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), o encerramento da implementação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, no município de Feijó, foi realizado com êxito.
As equipes se deslocaram de Rio Branco, no sábado, 19, chegando à terra indígena na terça-feira, 22. Foram três dias de programação, que contou com reuniões e seminários, além de atividades festivas que fazem parte da cultura local.
Por meio do PAA, o governo federal compra alimentos produzidos pela agricultura familiar e os destina gratuitamente para pessoas que não têm acesso à alimentação adequada e saudável e àquelas atendidas pela rede da assistência social. Atua com a finalidade de fortalecer a agricultura familiar, combater a fome, promover a segurança alimentar e nutricional.
O projeto representou apoio à agricultura tradicional dos Kaxinawá, incentivando o plantio de mandioca, milho e frutas nativas, fundamentais para preservar a identidade cultural e promover a geração de renda para as famílias da comunidade.
“A logística tem suas dificuldades; são três dias subindo de barco e dois dias descendo; nesse intervalo, tanto da ida quanto da volta, precisamos parar, pois não dá para navegar à noite. Mas é muito prazeroso estar nessa missão com a equipe e ver o resultado desse lindo trabalho de união, voltado para os povos indígenas; e, claro, contemplar as belezas naturais da nossa querida terra”, afirma o extensionista da Emater, Edvilson Gomes.
A parceria do governo do Estado com o projeto PAA ocorreu por meio de capacitações e assistência técnica, sendo estas realizadas pelos técnicos da Emater, contribuindo assim para o processo de comercialização dos produtos. A iniciativa ajuda a criar um ciclo positivo de geração de renda e fortalece a conservação ambiental.
O extensionista Ronei Santana explica que o projeto se desenvolveu com o apoio de assistência técnica e extensão rural para comunidades indígenas,favorecidas com processos de inclusão socioprodutiva com as oportunidades apresentadas pelos mercados institucionais, como o PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
“São programas importantes, que estabelecem um processo de gestão empreendedora de comunidades e surgem como uma oportunidade de geração de renda, administração e gestão de projetos voltados para os mercados. Favorecem as comunidades com um programa de alimentação de acordo com a sua cultura e reúnem todos os fundamentos da sustentabilidade, como a parte econômica que gera renda para as famílias”, explica.
“Agora nossos próximos passos serão de avançar ainda mais fortemente nas outras possibilidades de mercados institucionais. Através da parceria entre a Emater e a Seagri, vamos continuar evoluindo no processo de assistência técnica de extensão rural indígena, o que denominamos Ater Indígena, e fazer com que outras comunidades também possam adaptar e replicar as atividades com os mesmos objetivos, de forma organizada, como a Terra Indígena Nova Olinda, que tem sido um exemplo importantíssimo de gestão dos recursos e de organização comunitária”, disse Ronei.
Ao todo, as famílias participantes entregaram quase 60 toneladas de alimentos. Os projetos forneceram 24 tipos de produtos, como farinha, goma, abacaxi, mamão, banana, pimenta-de-cheiro, açaí, jerimum, macaxeira, amendoim, batatas tradicionais e milho verde. Todos os produtos foram entregues em quatro escolas indígenas do governo do Estado. A aluna Deborah Kaxinawá aprovou a merenda: “Tá muito gostosa, gostei muito”. Foram beneficiados cerca de 270 alunos indígenas da rede pública estadual.
“Esse projeto trouxe benfeitorias para a comunidade, um apoio muito importante. A minha expectativa é que o projeto continue, para que possamos continuar trabalhando, produzindo, vendendo e garantindo o alimento da nossa comunidade. Quem ganha é a nossa terra indígena; gratidão pelo projeto”, afirma o cacique Carlos Robenir de Matos.
“Quero agradecer ao governo do Estado por esse incentivo; esse projeto melhorou muito nossa comunidade”, afirmou a produtora Maria Antônia da Silva.
“Como produtora, vejo esse projeto como de grande importância, por poder estar fazendo a entrega do produto. Com o meu povo, peço que esse projeto não pare por aqui, porque está nos beneficiando. Quero agradecer ao governo e às pessoas que trouxeram o projeto para nossa comunidade”, disse Maria Ivani Kaxinawá.
Mais sobre o PAA
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é executado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Acre com a Associação Indígena Aspakno e Akaf, realizado com as populações originárias.
Na modalidade Compra com Doação Simultânea (CDS), cujos recursos financeiros são oriundos do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome, o PAA é operacionalizado pela Conab no Acre.
Nos projetos das associações Aspakno e Akaf, os valores somaram montante superior a R$ 520 mil e 45 famílias comercializaram seus produtos por meio dos contratos com a Conab, garantindo renda e comercializando a preços justos de mercado. O grupo produtor é composto por mais de 70% de mulheres.